terça-feira, 23 de dezembro de 2008

supondo que fosse...

jú mancin

d °_° b deixa estar, los hermanos

...31 de dezembro de 2008, 23 horas e 45 minutos. e que estivéssemos a quinze minutos do fim desse ano. não! quinze minutos do ano novo, da vida nova. eu me despediria desse 2008 com um belo chute na bunda, daqueles bem redondinhos, bem encaixados, tipo aqueles chutes de escanteio que mandam a bola no ângulo. faria um gol olímpico com essa droga de ano derrotado e de aparência cinza. chutaria no ângulo pra tentar encaixar essa miséria nalgum lugar que não fosse o bueiro escuro em que me enfiei. e depois, brindaria ao ano novo. e desejaria a todos a paz que desejo a mim mesma. desejaria muito samba e rock n´roll. desejaria os meus amigos, os meus amores, os meus sabores. desejaria a ti o melhor de mim e a mim, tudo de ti; e sonhos, muitos sonhos, pé no chão é demodê, [vamos voar, a vida tem algo mais para dar!]. psicodelia por todos os poros.

meu discurso de ano novo seria em torno da sorte. é isso!

um tanto de inspiração, mais um tanto de transpiração.

vida longa aos seres imortais que habitam esse meu emaranhado confuso de idéias. desejaria um dois mil e nove com cara de lisergia, sabor de frutas vermelhas com vodka e cheiro de chuva e terra molhada.

desejaria o fim das coisas velhas e um bom recomeço para cada uma delas.

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supondo que estivéssemos a quinze minutos do ano novo, eu só poderia desejar, do fundo do meu coração, à todos aqueles que me são caros [e raros] muita queda livre em chão macio, bossa n´roll e muita, muita, muita sorte!

.é 23.

ju mancin

d °_° b piper at the gates of dawn [o álbum], pink floyd

saudade!

[eu não tenho condições de dizer algo que não pareça rídculo ou exagerado.

uma palavra boba, INtraduzível noutra língua.

uma flecha de fogo, que corta a alma, o corpo.

a única que traduz a tua ausência fazendo silêncio em todo lugar.

...metade de mim agora é assim, de um lado a poesia, o verbo e do outro força e coragem pra chegar no fim...]

sábado, 20 de dezembro de 2008

bom dia sol!

ju mancin

d *_* b somebody to love, jefferson airplane

a noite cai e sobra sombra

vislumbro um futuro

de imagens fantásticas

no céu de baunilha o silêncio

Silêncio!

enfim o fim.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Novo ano, novas regras

Lu Minami

Ouvindo: I can´t explain
(The Who)


Ando sem inspiração.
De novo, moça?
Ah, de novo.

Quando a gente pára de sentir, pára de escrever. E agora que em 2009 tudo vai mudar de jeito, de lugar, de sentir e de falar, tudo vai ficar ainda mais difícil.

Tem ou não tem mais acento? Plurais, como ficam? Trema? Ah, não usava mesmo, sentirei menos. E o hífen? Como vou dizer guarda-chuva ou pára-raio? Tudo junto fica menos dramático, mais corriqueiro. Vai soar errado como guardar a chuva em algum canto ou se guardar dela. Ou parar o raio e guardá-lo para alguma ocasião que exija trovões.

E a falta de acento? Não tem mais na bóia, na clarabóia, na colméia, Zé Colméia! Pára de paranóia que não tem mais acento na nóia e nem na Coréia. Tá jóia, debilóide, faço o que com esse monte de tracinho agudo? Cadê o enfático, o agudo, o grito, o berro?

Tanta coisa nova no jeito de escrever. No jeito de sentir. De saber que todos têm, vêm, vêem e agora? Agora todo mundo vai igualzinho, sozinho ou acompanhado. E sem chapéuzinho.

Voltando ao hífen, escrever tudo junto o que antes era separado é esquisito. Quer dizer, tudo fazia mais sentido com a pausa do tracinho. Parecia que te preparava para o significado da palavra. Sub, por exemplo. Você sabia que era abaixo de algo. E agora sub-humano virou subumano. As ofensas ficaram meio patéticas. Como é que você vai xingar alguém de sub-humano??? [Ae, seu SUBUMANO de merda!]

E tem mais. Juntaram semirreta, contrarregra, antirreligioso, antirrugas (dá mais ruga só de falar), superamigo (parece coisa de amigo que superou trauma). Mas ex-namorado, ex-amante, ex-marido, continua separado. Isso nem a gramática nova juntou. Mas isso não é a gramática que faz, é pura química.

Em 2009, vou ter que mudar o jeito de escrever. Simplificar, ir direto ao ponto, com menos curvas e traços. E eu que amava ditongos, hiatos, acentos, hífens e paroxítonas vou ter que dar um jeito de escrever tudo que há de errado em mim de um jeito novo, para ser lido em qualquer lugar do mundo que fale minha língua. Apesar de eu achar que para tudo isso, não precisa de regra e muito menos de geografia.

Na verdade, acho que tô precisando mesmo é de uma revolução na química e na física mesmo.

domingo, 14 de dezembro de 2008

.december sucks.

jú mancin

d °_° b feel good hit of the summer, QOTSA

só pra não perder o costume. em dezembro a ordem é:

não existe ordem!

é proibido proibir!

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.nicotine, valium, vicodine, marijuana, ecstasy and alcohol.

. . . . . c.c.c.c.c.c.co.caaaaaaain. . . . .

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

.arroz, feijão e carne de panela.

ju mancin

d °_° b brain damage, pink floyd

dia desses, fui comemorar os 23 anos de um anjo. uma daquelas pessoas, que algumas outras pessoas chamam de excepcionais.

sim, eu também o acho excepcional. excepcionalmente puro, excepcionalmente lindo. uma sábia criança de 23 anos. um humano excepcional, daqueles que não se encontra por aí.

aí, bem na hora de cortar o bolo:

- anjo, não se esqueça do pedido!

e o anjo, muito puramente:

- ah...eu queeeero, hmmm...arroz, feijão e carne de panela!

risos...

fiquei pensando...tô com ele e não abro. é bem por aí. carreira, dinheiro, canudo é para os fracos. o negócio é arroz, feijão e carne de panela!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Elefantes nunca lembram

Lu Minami


Ouvindo: Johnny was
(Bob Marley)



Penso, calo, reflito, cresço. Cresço?

O embrião de algo maior pousa aqui dentro com a delicadeza de um elefante manco, esperando o dia de voltar à tona, de sair pela culatra e explodir em alguém. [Alguns alguéns]

Cresço porque preciso expandir. Meus espaços ocos, minhas idéias tolas, meus textos tristes, um pouco da minha loucura. O restante guardo para as minhas esperas infindáveis, formidáveis, alucinadas e desesperadas.

Faço uma lista. De desejos. De resoluções. De mudar. De dar meia-volta, volver. Verei. Viverei.

Meus ciclos vão ficando cada vez mais rápidos, meu relógio tende a correr, escorrer o tempo rápido, sem sentir. E meus problemas passam a ser de meia-hora.
Minhas corridas, partidas e chegadas, meias palavras, coração pela metade, copos meio vazios, meias verdades. Minha São Paulo, a cidade da meia-hora.

- Vem?
- Chego em meia-hora.
- Vai?
- Vou em meia-hora.
- Ama?
- Em meia-hora faremos amor. E concluir que não há solução para essa solidão.
- Chora?
- Meu pranto dura meia-hora, mais ou menos. Menos para o mundo, mais para mim.
- Só?
- Um pouco mais, deixe dar meia-hora.

Dezembro. Ah... dezembro.
Vivo menos os seus dias para chegar logo no inédito.
Sabendo que será tudo como sempre foi.
Pela metade.
Manca e desajeitada.
E sem a memória que todo bom elefante deve ter.

mallu e o camelo

mancin

d °_* b o herói e o marginal, mallu magalhães

ela 16, ele 33.

lindos. talentosos. decididos. JUNTOS!

todos felizes, né?!

NÃO!

porque hipocrisia tem sempre que pintar em cima das obras de arte...

imagina?! onde já se viu? ela é uma criança...

pô bichô?! tem criança de quatorze anos, vendendo o corpo por aí pra senhores respeitáveis, senhores juízes, senhores deputados, senhores senadores. tem pai tacando filho pela janelinha do trem em movimento...

o que esperavam de uma adolescete que sobe ao palco com um violão embaixo do braço, canta e encanta uma platéia habituada ao like a rolling stone way of life? que ela perdesse tempo tentando convencer um garoto babaca de 16 anos de que a vida é mais interessante que a bunda da gostosa do big brother?

bah...dá um tempo negada, pra uma menina como ela, um tonto de 16 não basta, e me baseando pela maioria dos imbecis que eu conheço, nem os de 26 valeriam uma polêmica. já que é pra causar, que seja em grande estilo...entre macacos, bufalos, urubus, dromedários e toda a safra de um zoológico bizonho, certíssima tá a mallu, que optou pelo [charmoso] camelo.

essa é das minhas.

e tenho dito!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

.3000 pés.

mancin

d °_° b black, pearl jam

a tarde seguia quente, bonita. ainda mais bonita ali, bem no meio daquele pequeno jardim, que outrora fora o refúgio daqueles dois estranhos.

encontraram-se por acaso, ali, naquela tarde quente. conversaram. falaram de amenidades do cotidiano, cinema, trabalho, música, trânsito, tempo...falaram da vida. da vida de um, da vida do outro, da vida dos dois...

beijaram-se por acaso...

o jardim, em festa iluminou-se com o sol belo daquela tarde dourada. o chão tremeu, nem sentiram, estavam voando.

em meio a sussurros vagaram pelo passado, sonharam com o futuro.

um vento fresco cobriu o jardim, prenúncio da chuva, que viria testemunhar o espetáculo proporcionado por aqueles dois corpos desnudos, envoltos apenas num manto de desejo.

amaram-se por acaso, bem ali, no centro daquele jardim. cederam aos encantos daquela tarde quente, banharam-se na água da chuva, rolaram na grama, na lama...

devoraram-se...

lambuzaram-se...

embalaram-se...

e dormiram-se...assim, um no corpo do outro e sonharam-se, um na vida do outro.

a lua indiscreta cobriu o céu, fez-se noite no jardim.

despertaram-se...

desconheceram-se...

e por fim, quase que por acaso, separaram-se, ali, bem no meio do antigo jardim dos segredos de outrora.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Marshmellow Pies






Lu Minami




Ouvindo: Rockin´Chair (Oasis)



Deu vontade de pular assim, como se o mundo fosse de repente o lugar mais ensolarado e amarelo do mundo, com uma linhazinha fina que divide o céu do gramadão fofo verde-limão.

E com óculos de sol coloridos e vestidos de bolinhas lilás deitar na grama e adivinhar as formas bizarras do céu.


Deu vontade de morder um pedaço de você e ficar com ele, sem fazer você sentir dor nenhuma. Deu vontade de engolir tudo-aquilo-tudo-aquilo-tudo-no-todo-de-nós-todos. E tapar esse negócio que não tem fim, esse fim sem antes e depois, aqui dentro, entre o pulmão e o estômago. Um grande nada cabendo bem aqui... uma sede e fome do cacete.

A vontade de ser leve com os cabelos amarelos e pele sardenta não passava. A vontade de andar com morangos saltitantes de mãos dadas com tortas de limão fazendo ciranda ao redor de Paul, John, Ringo e George também não.

Mas você... me lembrava o cinzento, a azia e a vontade de vomitar o nada em forma de bile. Líquido morto. Você em decomposição. E o céu esverdeava poderoso e pancreático.

Acontece que a toalha xadrez vermelha e a torta de maçã caramelada com vinho gelado me deitaram na grama e quiseram engordar isso aqui dentro.
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E embora desse mesmo vontade de viver no mundo de caramelos, a lembrança da náusea ainda era grande.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

.vem ni mim queu to facim.

ju mancin

d °_° b is very nice pra xuxu, os mutantes

em 2009, vai voa lasca de cu pá todo lado, eu prometo!

não vai dá, assim não vai dá...

simbora cabá logo coesse 2008 insosso...

faz tempo que não abro o coração assim sem muitas metáforas, mas é que hoje tô sem vontade de encantar, cansei de ser sexy [ha-ha-ha].

parece que botaram maizena no meu samba. a coisa engripou. engrossou.

tô me guardando pra quando o carnaval chegar. e quando chegar, mano...vai MERMO voar lasca de cu pa todo lado. o bonde da tagarelice.à.tôa vai te que me engolir, porque quando eu voltar [e eu vou voltar!] vai ser com cabo de vassoura e sem KY. empalados sejam os que me quiseram mal. os que me quiseram longe. vai ter zoraíde sobrando nessa história.

aos alcoviteiros de plantão: meu povo! 2009 vai sobrar flash pros tablóides da mísera vidinha cotidiana do café e cigarros na neverlândia!

esse foi o ano dos fracassos, o ano dos fiascos...

pra quem não queria me decepcionar, você se saiu muito mal.

um fiasco!

pra quem se gabava de ser feliz, eu me saí muito mal.

um fiasco!

curinthia na segunda divisão.

um fiasco!

sex and drugs.

um fiasco!

rock n´ roll...

é...esse foi rock n´roll mesmo! pelo menos isso...[salve dylan! sempre dylan!]

meu on the road me fez correr quilômetros atrás de mim mesma, e BINGO. I´m not there!!! nem here ou anywhere...

mas tá acabando, e eu mal posso esperar pra ver a banda passar. tô aqui ó, sentadinha no coreto, bem em frente à nossa casa na terra do nunca, com meu cigarrinho aceso, meu maço tá cheio, tomando um café, cafeínado pode apostar, olhando pro céu e ouvindo o capim crescer. só esperando a tal da banda. bóra lá ver que daqui pra frente, tudo vai ser diferente, você pode aprender a ser gente...

ah é, o tim maia é meu pastor e nada me faltará! [pensando bem, não vale a pena, ficar tentando em vão, o SEU amor não tem mais condição não, não, não, não, não]...e como bom síndico, é assim que toca o puteiro...

we´re gonna rule the world... don´t you know! don´t you know! [dá um kilo, queuqueeeero!]

não, isso ainda não é a minha lista de desejos pra 2009, essa vou guardar mais pra adiante, é só a fogueira das vaidades de 2008...o fim das coisas findas e lindas...

tamo junto e misturado!

;-)

meu nome é ju mancin, eu falo olhando nos olhos e não viro o rosto pra falar de amor. quando eu falo, assino embaixo e não me escondo atrás de alcunhas covardes pra enganar criancinhas tolas. WAKE UP, infâncialand!!!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

.coração partido blues.

jú mancin

d °_° b I´m old fashioned, john coltrane

um café, vazio e meio sujo, quase silencioso, não fosse o coltrane arradinho, reclamando ao fundo da cena.

a moça sentada à última mesa, enfiada num avental branco por cima do vestidinho rosa, que compõe o uniforme de  garçonete de um café vazio e meio sujo, entretida com um folhetim de fofocas do meio artístico já ultrapassado, só se dá conta de presença estranha, quando o moço recém chegado tosse, uma tosse seca.

sem susto levanta os olhos pregados ao folhetim, assim de cara e meio entediada, se levanta contrariada...

[mas a essa hora, com essa cara de ressaca...vai me arranjar problemas...]

- o senhor quer o cardápio, ou já sabe o que vai pedir?

- bom dia, jovem senhora!, disse o atormentado intruso, numa voz pastosa e cansada, e de forma tão lenta, que a jovem de avental branco por cima do vestidinho rosa teve tempo de contemplá-lo e concluí-lo...

[belos olhos sofridos. marcas do tempo e da dor. de que mal sofre esse homem?]

- câncer!

a moça assustou-se, - como, senhor?

- tenho câncer! câncer no coração...estou morrendo!

- ma...mas senhor, sentes alguma dor? quer que chame por socorro?, disse a garçonete numa voz trêmula e entrecortada.

- traga-me um café. torradas, queijo fresco, ovos mexidos...

[a última ceia!]

- traga tudo e um sorriso. [faça-me querido por alguns instantes, deixe-me sentir em casa, permita-me crer que isso aqui é o meu lar...]

a moça se afasta, ainda sentindo a cabeça girar pelo golpe da dura resposta aos seus pensamentos. se afasta no intuito de preparar uma bela refeição que alimente o triste homem...

o triste homem se afasta, sente o corpo desfalecer e sorrindo meio inconsciente, aos poucos rememora dias felizes. aquela bela, sorrisos e abraços e beijos e sonhos, milimetricamente sonhados a dois. no feno, na grama, no trailer, na cama, na água, na lama...longos dias de frenesi. a linda e louca MISS ALABAMA. era assim que ela se chamava...

miss alabama surgia na noite, cantando qualquer nota, no seu velho violão desboatdo, contando um conto sempre à caça do ponto, falava da terra, do fogo, da água e do ar. falava da vida e da vida após a morte. falava de amor, como que sentisse amor, mentia bem a danada, sabia do amor uma grande bobagem, mas gostava de amar... no feno, na grama, na cama. em todas as camas. longas semanas e a louca caiu no mundo. levou a alma, o coração e a grana...deixou o homem, que era feliz, triste, deixou o trailer...deixou um câncer.

o homem chorou. chorou. chorou. comeu, se lambuzou nos sabores daquele café sujo, preparado com zêlo por alguém que apiedou-se de sua dor. levantou-se, pagou e agradeceu a moça, deixando o troco, gorda gorjeta. correu pra estrada de ferro em frente, ali na estrada, pulou da ponte. se jogou bem na hora do trem passar. matou seu câncer.

a moça, voltou pro tablóide, antes um pouco de ingressar nos bastidores de sua vida imaginária, se pegou pensando, com um riso meio tímido...

[Pobre homem triste! Amanhã lhe faço um bom almoço!]

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

E bem no meio, pelos cantos

Lu Minami


Ouvindo: Off the Hook
(CSS)



Ah mas que coisa!
Coisa de quê? Questionava, enquanto caminhava meio tropeçando, meio caindo, meio de pé, meio quase deitado no meio da avenida, no meio do trânsito infernal. 9h da noite. Trânsito esquisito, meio mundo vem, meio mundo vai. Olha, vai vendo. Uns estão voltando do trabalho, esse aí coitado, cara de esgotado, cabelo já meio ensebado - deve ser a mistura de mão no cabelo para fazer charme e o choque do ar condicionado - gravata meio frouxa. A outra ali, toda arrumada. Saiu cedo do trabalho para passar na depilação antes porque ia sair com um rapazola. E ainda tomou um banho porque chegar ali perto com resto de cera não dá muito certo, o cara saca na hora. E deu risada, meio tropeçando pelos cantos da calçada. E calçada tem canto. Ô se tem. Tem canto desses malditos canteiros, cheio de árvore que esqueceu de crescer, mas se você olhar bem de pertinho vai perceber que a árvore tá velha, cheia de folha dura e empoeirada, tronquinho mijado, cerca de proteção esgarçada. Coitada, violada por algumas latinhas, bitucas, panfletos "não jogue em vias públicas", papel de bala, maço vazio de cigarro. Ali vem outro, deve estar indo para a academia. Tá com cara de animado e botou um som alto para mostrar parte dos musculos para a moça que vai buscar pão e para se animar para a aula de quê? De Pilates. Outra ali foi buscar a filha no balé. Dá para ver que foi buscar porque a menina tá com o coque meio caindo e 9h da noite para a frente não tem mais aula de balé para criança. Jazz. Salsa. Tango. Coisa de gente grande e velha já. Que prefere beber. E lá ia, meio bêbado, lembrou da meia garrafa que tinha guardado no canto da cama. Cama tem canto? Canta enquanto tenta dormir. Meio pela metade. Meio copo vazio. De meia esperança.

Bem no meio da cidade.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

.last night.

jú mancin

d °_° b day tripper, jimi hendrix

quantos comprimidos mais até que eu durma?

quantas horas até que a dor suma?

morfina! morfina! morfina!

meu fim...

vento gelado na parte externa da recepção da espelunca, vozes aflitas repetem histórias iguais de formas diferentes. a bala que matou john lennon, a mesma que acertou kennedy...a bala que fugiu da mauzer, que passou por mim de raspão e balançou a roseira. ouço carros, sirenes e vozes e vozes e vozes. já não sei se o que me trouxe foi o vento ou tempestade. me ajeito no banco de pedra gelado, acendo o cigarro e apago, como que num movimento vicioso, você da memória. te lanço ao papel numa medida desesperada pra arrancar-te de dentro de mim. te desenho. te desejo. te alcanço usando as artimanhas da metafísica. tento em vão denunciar-te os perigos. me aniquilo. você não me ouve. a cena toda vista de longe, me lembra o patético desfecho de uma daquelas comédias de pastelão. me encolho no banco. sinto o frio subir pelas minhas pernas. mau-estar. o estômago arde. o coração vibra em frangalhos. minhas mãos tremem num ritmo frenético que se espalha pelo corpo todo. meus pensamentos já não tem mais forma ou linha, acontecem, simplesmente acontecem. sinto como que me desprendendo da vida. quero gritar não tenho forças. a voz não sai, me lembro do grito de munch. me sinto presa àquela moldura. ESTRONDO. um berro. um lençol ensopado. a familiar rachadura no canto esquerdo do teto. minha cama.

acendo o cigarro e corro pra sacada do alto do edíficio rosa, para assistir ao raiar de mais uma segunda-feira na babilônia.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

... [com um pouco mais de loucura]

Lu Minami


Ouvindo: Weary blues
(Madeleine Peyroux)


Abriu os olhos. Dor.
Dor?

Ah, se conseguisse que seu coração fosse novamente arrancado sem anestesia. Aquela dor vazia, a pior de todas. Sem pulso, sem calor.
Mirava as manchas de infiltração do teto, meio amareladas, que faziam a tinta verde ficar meio podre. Tinha a impressão de que as cascas cairiam em cima dela, como folhas mortas e meio molhadas.
Levantou-se num segundo.
Pés no cháo quente de madeira empoeirada.

Se pudesse, ela mesmo lhe infligiria tal dor. Lembrou de Blue Train.
Seria coisa dolorida? De enfiar a mão no peito, de frente ao espelho e berrar consigo mesma? De arrancar cada gotinha de sangue bombeado?

Sentiria o calor esvaindo? Ficaria triste de sentir tanto o tão pouco? Ou ia tremer tanto sem sentir frio?
Last Night in Tunisia.
Todo aquele torpor líquido esvaziando de si mesma. Aquele medo de ser indecente pedindo para sair correndo nu(a)/nulo(a) pela rua, aquela voz que berrava os palavrões chulos que ela no fundo, amava. Aquela loucura pedindo para ser solta.

Desenjaulada.

E apesar de pedir misericordiosamente pela miséria, pela infâmia de suas pernas e o movimento simples e mecanico. De abrir, fechar. De receber, expulsar. De sanar e não parecer sã. Apesar de toda a vontade elucubrada, do copo largo de conhaque, do cigarro, das cortinas empoeiradas, da brisa que não refrescava... Apesar disso tudo, Ella e Louis insistiam em tocar no rádio Cheek to Cheek. E o ar que era para ser pesado e irrespirável se tornava doce, fresco, veranil.

Ela via Fred Astaire em piruetas com seu mancebo negro, do lado do criado mudo branco. Expectadores do seu espetaculo. E Fred pulava tanto, cruzava pernas no ar. Sorria largo.

"Heaven, I'm in Heaven, And my heart beats so that I can hardly speak"

Sentada na beira da cama, as cascas molengas de tinta do teto cobriam toda a sua cama, desenhando sua nova colcha de outono.

Sozinha.
Louca.
Sorrindo.
Louca.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

...

jú mancin

d °_° b faith no more

não consigo entender onde foi que tudo se perdeu, em que beira de estrada eu me deixei, me troquei por outra, por essa que não sou eu, que não consegue se olhar de frente, nem de lado, essa que não consegue mais se olhar por dentro.

essa dor que não passa.

esse estado de confusão mental, ora por conta da medicação, ora por conta da agitação em que se encontram todos os meus sentidos...sempre me assustou essa coisa da loucura...parece que eu sempre soube que algum dia eu me encontraria nos braços da mãe-insanidade...só não pensei que chegasse tão cedo...

é estranho caminhar na rua, esquecer das coisas, perder os caminhos...me pego chorando, imaginando que minha próxima perda, pode ser a dos valores, aqueles que cultivei, ao longo dos anos...

de manhã, custo a crer que o dia raiou, desejo uma enxaqueca ou qualquer boa desculpa que me permita ficar na cama, com a janela fechada, no escuro...

a noite, o sono não chega. eu giro de um lado a outro, e não consigo dormir, até que o remédio [ou a TV] façam efeito...

nem de longe me sinto à vontade em meio às gentes que me rodeiam, quando riem me sinto mais triste por não encontrar o motivo do riso, me afasto, me escondo e choro sozinha...

todos os dias, em algum momento do dia, penso em me jogar dessa ou daquela ponte, ou usar a velha corda do balanço que me embalou a infância como passagem pra terra do nunca, mas logo mudo de idéia, por coragem ou covardia. seria uma bobagem não mais desfrutar do cheiro da chuva, dos fins de tarde em jurupema, da velha roda de amigos, dos carinhos, dos afagos, da saudade daquilo que merece que eu tenha saudade, seria uma bobagem...

acendo um cigarro, completo a xícara de café, abro, pela milionésima vez aquele livro, que misteriosamente engrupiu na página 23, me detenho ao número, desisto da leitura...

fecho os olhos, não pra dormir, fecho os olhos pra não ver...volto a enxergar aqueles dias, aquelas tardes de sol, coração quente batendo no peito, lágrimas teimosas despencam pela face...o sal do choro é tão diferente do sal do mar...

abro os olhos. é noite! escuro...silêncio...medo!

enlouqueci...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Madrugada

Lu Minami


Ouvindo: #41
(Dave Matthews Band)


- Eu tenho uma coisa para te falar
- O quê?
- Eu sonho.
- Eu também!!!
- Com você.

- Quê???
- Com você!!!!!!
- Ah.
- É bom.
- Sei.
- Sai da minha frente.
- O quê?
- Sai antes que a musica diga.
- Diga o quê?
-
And you come crash into me.
- Ah.


E ela saiu.
Cantando “And I come into you… In a boy´s dream…”
Sorrindo a beça.

Com a madrugada inteira latejando em seu corpo.
Com todas as horas saindo por seus poros.

Experimentando todas as ondas do seu sangue quebrarem em seu rosto, vermelho por causa da vodka.
A primeira noite quente depois de tanto frio.
O primeiro diálogo brega depois de tanta amargura.

Entre 32 e 33 graus

Lu Minami

Ouvindo: Sympathy for the devil
(Rolling Stones)


Fazia calor na cidade. Enorme, de pedra, de carros, de gente suando, de esgoto passando.

32 graus e o asfalto cozinhando minhas sandálias, abafando minhas pernas e mesmo assim, um café e um cigarro.

Falávamos sobre sexo, sobre os projetos que devíamos tocar, as apresentações, os contatos que devíamos fazer, os convidados que teriam que ser convencidos a entrar naquela loucura toda. E no meio disso, entre 2 cafés e 3 cigarros e o marcador que mudava de 32 para 33 graus... um suspiro de ingenuidade e inocência.

Um corpinho de passarinho, um coração provavelmente acelerado e umas bicadas no café que restava no pires e nas migalhas das bolachinhas.

Ah existe vida nesse asfalto todo! Existe o canto de um passarinho em plena marginal pinheiros.

E lá se vai o pobre serzinho, entortando sua cabecinha, os olhinhos brilhantes e injetados, piando feliz e saltitando por entre as faixas de pedestre, alguns sapatos apressados, um copo que erra o alvo do seu arremessador ocupado em algum telefonema. A vidinha tenra que nasce na selva de gente.

Paramos e observamos seus desvios, o cuidado com que passava por entre os obstáculos todos e então, de repente... um carrinho de supermercado atropela o pobre canarinho, bem te vi, sabiá... sei lá o quê.

Um segundo, dois talvez. De algum silêncio. Não de dor. Acho que de “devo-fingir-tristeza-ou-o-quê”. Um segundo, dois talvez.

E voltamos a falar dos amores platônicos, trepadas homéricas, de encontros desencontrados, de tragédias gregas, de finais medíocres disfarçados de grandiosos, dele, dela, de mim, de nós. De tudo aquilo, de todo aquele calor. Menos daquela massa disforme vermelha de penas pequenas e amarelas e que já sumia sob os passos de quem apressado ia para a sua reunião às 3h da tarde.


Please allow me to introduce myself
I'm a man of wealth and taste
I've been around for a long, long years
Stole many a man's soul and faith

.divagando.

jú mancin

d °_° b blues da piedade, cazuza

caminho caminhos

a noite se vai

à tarde vem chuva

o corpo arde,

a mente dança

a dança das cores

das flores o cheiro

da chuva da tarde.

saudade, saudade

do tempo em que tudo

era o tempo todo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

my only friend, the end!

jú mancin

d °_° b o anjo mais velho, o teatro mágico

a dois passos do último pulo, pensou...

ele não merece!

fechou os olhos e se jogou mesmo assim...

dez, onze andares em queda livre e uma vida inteira em sua mente... poucos segundos e muitos frames...

se lembrou da mãe, do pai, do cachorro,da chuva, do sol, do professor de piano, da ultima cerveja, do bolo de milho, das aulas de redação e do bilhete suicida, escrito às pressas e endereçado ao dono dessa sujeirada toda.

antes do fim, ainda teve tempo de pensar mais uma vez...

ele não merece!!!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

vinho tinto

jú mancin

d °_° b desolation row, bob dylan

só mais um delírio etílico

banhado à vinho e desespero

nicotina, alcatrão e a dose certa de morphina pra matar

a dor...

da minha janela vejo a noite escura

assombros de solidão rondam minha cela

na vitrola um bob dylan insistente

grita um folk já ultrapassado [e ainda vivo]

e meu caminho se faz entre estradas que rodam

sem parar

me lembro de outra vida

de outra casa

me lembro de um jardim agora sonolento e silente

sinto sonhos que me carregam pro passado

sinto medo!

sua ausência é minha ruína

seu silêncio é meu silêncio

penso nas terras distantes

terras que me visitam em segredo

que deixam marcas discretas

em meu diário desesperado.

que saudade eu sinto dos amigos enjaulados

cavalos selvagens são bonitos selvagens

não deveriam sofrer

cavalos selvagens, cavalos selvagens

não deveriam ser domesticados.

o último e derradeiro gole me derruba.

procuro a cama

encontro o chão, outrora macio,

agora gelado e duro!

esse amor morre comigo...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

...mas por favor senhor Sol...

jú mancin

d °_° b tired of waiting for you, the kinks

eu costumava gostar da primevera, gostava do cheiro da chuva, me lembrava os tempos idos...

eu gostava de me esconder, debaixo das folhas verdes, sentir a água escorrendo à minha volta, o frescor da primavera me alimentava a alma. era como ver nascer a esperança, era a época do ano, em que eu pensava: PÁRA! olha o mundo mais bonito. eu voltava a ser criança. voltava a sonhar pelos cantos. voltava a ser criança anseando pela próxima estação. ainda hoje estremeço ao pensar nas tardes de verão. sol ardente, chuva fria, poças d'água, lama em corpos quentes. noite estrelada, lua cheia.

PÁRA! esse é o ponto onde tudo muda.

essa lua, amada minha, me traiu com um beijo!

essa lua que te trouxe numa noite. que sabia do meu hábito da velha janela aberta...

essa lua gigantesca e inocente, que ainda agora me arranca as lágrimas, que me faz lembrar de cada uma noite insone [insana].

a lua que nos fez amigos, que me fez amores...

a chuva que caiu na janela aquela tarde, fez vilã todas as outras que não me deram você...

eu costumava gostar da primavera antes de você chegar.

eu gostava dela antes de você partir.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

escuridão

jú mancin

d °_° b epistrophy, thelonious monk

e eu que queria aquela festa! aqui me vejo, diante da velha olivetti [com cara nova], pensando em bukowski. não sendo bukowski!

minha boca seca anseia por um trago...

ah, há quanto tempo não danço pra lua? não durmo na rua?

que tipo de gente eu me formei?

que tipo de mágica me tornou um truque barato?

não, não posso mais mentir pra mim.

com você eu sou melhor. sou mais assim, você sabe...

mas não posso esperar!

preciso voltar a sorrir, voltar a viver.

é primavera e ainda não contemplo novas vidas coloridas.

preciso voltar à velha forma. isso que me vejo, não sou eu nem noutra encarnação.

quanta coisa! quanta gente! e ninguém tem nada a dizer...

e eu (?!) não tenho nada a acrescentar. sigo na estrada, com a velha olivetti embaixo do braço, esperando que a vida me presenteie com meu novo filme a ser rodado.

e sou quintana quando diz:

os letreiros luminosos deveriam ser escritos em chinês: o significado prejudica a beleza das coisas!

volta mistério, volta!!!

 

terça-feira, 16 de setembro de 2008

bláblábláblá

ju mancin

d *_° b semáforo, vanguart

sabe aqueles dias em que a gente precisa falar sem parar

até a lingua se cansar,

sem ter absolutamente nada pra dizer?!

falar sobre qualquer coisa. todas as coisas?

falar freneticamente?

não! não é a euforia de sempre, aquela de felicidade.

é como que uma armadura, pra esconder o que vai por dentro.

uma forma de escapar do silêncio imenso que se fez aqui.

queria uma banda tocando

pandeiro, surdo e tamborim pra calar a mudez.

queria de novo, um carnaval em mim.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

.o que sai de mim.

jú mancin

d °_° b loving cup, the rolling stones

meus dedos não me obedecem

rasbiscam o papel

rabiscam paredes

preciso dizer tantas coisas

contar-te os segredos

preciso exorcizar, jogar pro mundo

o que me dói

o que me sangra

me sinto só na multidão

me vejo nua diante do espelho

me vejo lua,

sua, me vejo.

e os rabiscos me entregam

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Sem desculpa

Lu Minami


Ouvindo: Hard Sun
(Eddie Vedder)


Ela anda tão concentrada, essa moça.
Anda com passos firmes demais, rugas postadas no centro da testa, sou o centro do mundo.
E tão sem centro fica quando a noite cai, sozinha e ela fica acompanhada da televisão, pequena caixinha do tempo.
Estabelece regras, rotinas, das quais tenta fugir, se auto-sabotando, se ferindo sozinha para sentir a urgência imediata de ir embora, de mudar, de não ser mais a mesma, de trocar de cabelo, de nome, de roupa, de pose, de carreira, de diploma, de arte, de amor, de amigo, de cama, de sala, de lençol, de planeta, de xicara de café, de tudo.
Tudo usado, tudo igual.
Nada novo, nenhuma noticia ordinária, para deixar seu mundo um pouco extraordinário. Pede pouco, só unzinho a mais.
Ah... tão sem beleza essa moça, sem brilho, sem luz.
Sem sorriso, sem vida. Sem dança, sem bebida.
Vítima demais. Adora mencionar as suas próprias muletas.
Ah moça esverdeada, sem estômago, sem paixão, sem inspiração, sem pés, sem olhos, quatro olhos que erram pelo mundo.
Deseja que um raio a parta, a transforme em pedaços desconexos.
Um sem o outro.
E assim justificaria o uso de muletas.
E assim, quem sabe abriria seus olhos vesgos um dia.

Moça, não tem jeito não.
Sabe o quanto é difícil fazer um raio cair nessa tua cabeça oca?
Sabe que um raio tem mais o que fazer da vida do que cair bem em cima de você?
Sabe, não sabe?
Vai ter que ficar aí, sofrida, sem muleta, sem porra nenhuma.
E vai doer, tem que doer.
Assim quem sabe né?

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

that´s all lies

jú mancin

d °_° b I don´t know anything, MAD SEASON

eu nao sei sentir

essa sua felicidade moderada

seu contentamento refinado

a mim, não me diz nada

da vida eu quero mais

quero tudo, e aos poucos

quero a dança dos loucos,

a fé dos tolos

quero o pouco e mais um tudo!

já não sei mais guardar esse segredo bobo

que diz respeito ao que vai em mim

sou essa qualquer bobagem musical

sem modos,

essa coisa demodê que dança na chuva

e ainda hoje,

sorri pra lua e faz pedidos à primeira estrela no horizonte

eu devia ser poeta

mas queria mesmo era ser astronauta.

olhar o mundo de cima, por fora...

queria morar na lua!

na rua, talvez...

queria cuspir a vida na cara desses fantasmas

que me rodeiam,

soprar idéias tolas aos sonhos de cada um

queria vê-los, ao menos uma vez

zombando da própria imundice em que vivem

e me bastaria, pra saber que eles sabem

que estão vivos!

eu não sei ser pela metade,

ponderar sobre minha vontade

nem dizer meia verdade.

sou uma mentira inteira

contada tantas vezes

quantas me forem necessárias

pra me tornar real.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

encontre-me

jú mancin

d °_° b now I wanna be your dog, Iggy Pop & The Stooges

encontre-me por aí

nos copos sujos;

nos corpos quentes;

nas noites brancas.

encontre-me por aí

e me carregue de novo

pro teu mundo de imagens fantásticas.

me carrega nos teus delírios

[magic bus]

e me faça sorrir

me faça dançar

desejo-te, amor!

desejo te amar...

cartas

jú mancin

d °_° b cordas de aço, cartola

 

é uma espécie de corrente invisível.

vem da lá e vai daqui.

e não pára nunca, acontece o tempo todo.

eu recebo um idéia e passo à frente,

já maculada pelos meus dedos.

o fato é que preciso dizer.

dizer coisas...

preciso eliminar...

[palavras ao vento]

cartas se queimam

[palavras ao fogo]

eu não sei de onde vem o mal

que me acomete noite e dia

e me pune em silêncio

só o sinto aqui,

e ali e acolá.

quase sempre uma paixão

ardente, em brasa,

sem fim e efêmera.

são tantas coisas à dizer

cada verso um novo ai

cada canto um velho drama

não sou boa com palavras

e ando confusa demais nesses dias

o sentido não faz sentido

meu vazio tomou conta de mim

só sobrou aquilo que eu tentei

em vão esconder

todas as minhas tolas mentiras

toda aquela forma de negar o que eu sentia

e de negar o que eu sabia

não sobrou nada de mim.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

.assim é que é.

jú mancin

d °_° b bebendo vinho, wander wildner [adoro essa sua voz rouca]

eu sei, eu sei o quanto é difícil isso tudo.

difícil olhar pra trás e ver os trapos espalhados pelo caminho.

a gente vai seguindo em frente, sem notar o que vai deixando,

e de repente, se dá conta de estar pela metade,

e pior,

a gente percebe que deixar as coisas espalhadas por aí, não alivia o peso...

a gente se senta na beira da estrada, e tenta olhar pro céu...

tenta espairecer, como diria minha avó...

aí a gente chora e grita e esperneia...

e adormece, ali, com cara de idiota, na beira do caminho...

a gente pára pra ganhar folêgo e tentar continuar

e tentar esquecer...

depois de um tempo de melodrama,

a gente saca o espelhinho guardado na bolsa,

a gente se olha, a gente pensa

"pra palhaço só falta o nariz!"

aí a gente lembra do nosso humor, é afidado,

a gente ri das próprias besteiras, e tenta levantar...

aí a gente liga pra amiga, com voz chorona e pede colo,

e ganha colo e chocolate, e ganha moral, e se sente forte.

aí a gente levanta e segue em frente,

e vai andando, vai seguindo.

como se nada tivesse acontecido, acontecendo.

a gente tenta sorrir de novo,

e consegue e pensa,

quanta bobagem, quanta bagagem!

a gente joga tudo pra cabeça e finge que não dá nada...

a gente se manda...

fica tudo colorido de novo,

a gente vai virando latas e mais latas,

a gente procura sarna pra se coçar e se coça,

e sente tudo de novo, e fica feliz,

e sai voando e vai pra lua, vai pra júpiter,

a gente acha que desvendou os segredos do universo,

a gente acha que encontrou um novo universo.

e passa o tempo, e tudo volta

pra mesma merda de sempre.

[não existem novos universos],

o príncipe vira sapo, vira chato.

a gente cai na mesmice. se sente boba. [e feia e chata].

e merda!

a gente olha pra trás de novo,

e vê de novo aquelas mesmas coisas

espalhadas pelo caminho,

aí sim,

a gente percebe que cagou de novo.

e aí volta tudo outra vez.

a gente, sente, senta, chora, esperneia, sapateia, enlouquece

se sente idiota, ri querendo chorar,

liga pra amiga, se levanta, segue em frente e blá blá blá...

...essa coisa não tem fim...

e aí

a gente escreve um livro e conta pra todo mundo

o que todo mundo já sabe.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Uma conversa (des) necessária

Lu Minami

Ouvindo: There there
(Radiohead)


Toneladas de emails, centenas de telefonemas, milhares de solicitações que não acabam.Histórias de mim mesma virando chacota na mão de quem não sabe cuidar do seu jardim.

E no meio disso tudo:

O grande covarde diz:
impaciente? Só porque eu to a tarde inteira querendo saber de vc e vc apresenta a história de forma mais quebrada que o Joao Kleber??

.Alice. diz:
Porra, tá bom. Eu to vivendo numa casinha bem gostosa. No meu predio só tem viado e casal novo. Eu tomo chá todas as noites e coloco o som bem alto para acordar de manhã. Eu escuto pouco meus discos, porque ultimamente prefiro o silêncio. Meus livros foram as primeiras coisas que pousaram na minha estante nova, do meu quarto novo. Minha casa tem cheiro de lavanda, porque eu tenho um vaso disso na minha varanda. Não tenho cachorro nem gato, mas tenho a minha amiga linda e fofa que me ajuda todos os dias a encarar o mundo sem meu pai e minha mãe me acordando todo dia. Tenho 2 capachos na entrada de casa. Amigos vão todos os dias em casa jantar com a gente e alguns outros adoram o meu quarto, a minha cama e tudo que dorme nela. Meu armário é grande, eu caibo lá dentro. Se eu fosse criança, brincaria de esconde-esconde. Os porteiros são o Severino, o Zé, o seu João e o Raimundo. Todos são uns amores e cuidam da gente, quando precisa trocar uma coisa ou outra ou procurar telefone que a gente não tem. Eles dizem "controle remótcho" e eu rolo de rir quando isso acontece. Eu to indo todo dia trabalhar a pé e é muito bom quando as pessoas estão lavando as calçadas e varrendo seus portões e eu passo, porque elas param e sorriem. Tem cachorro e velhinho passeando todo dia. Falta pouco pra ser feliz, na verdade. Falta ter meus irmãos perto de mim de novo e um amor gigantescamente enorme para cuidar de mim. É isso que tá acontecendo, entendeu?

O grande covarde diz:
vc me faz ser apaixonado por você

O grande covarde diz:
não quero mais falar nada

O grande covarde diz:
saco

O grande covarde diz:
beijo linda

.Alice. diz:
vc acha isso justo mesmo?

O grande covarde diz:
suspiro por vc

A mensagem não pode ser entregue pois "O grande covarde" está offline.



Steer away from these rocks
We'd be a walking disaster
Just because you feel it
Doesn't mean it's there

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

só mais uma de amor, pra você meu amor

jú mancin

d *_* b summertime, galaxie 500

não queria sair desse jeito, assim pela porta dos fundos, assim no meio da noite. queria dizer-te que não foi em vão e que seria bom, voltar atrás, e sentir de novo, e sempre...e queria poder também te explicar calmamente, olhando nos olhos, que a coisa não acabou...

queria beijar-te novamente, um beijo quente e diferente. te beijar longamente...e sonhar, sonhar, sonhar no teu colo, no teu corpo!

não queria acordar, assim, no meio da noite. sozinha... e sair desse jeito, pela porta dos fundos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

.hai.caiando.

jú mancin

d °_° b beijo na boca, itamar assumpção

cansei da realidade.

quero falar de amor

às três da tarde.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

inferno astral

jú mancin

d °_¨ b the only one, morphine

 

INferno.INterno.INverno.INmim!!!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

... (2)

Lu Minami

Ouvindo: High and Dry
(Radiohead)

Caminho, caminho, surdo, calo, cego.
To assim, aleijada, incapaz de mover um dedo na direção do que pode um dia me dar a chance de botar felicidade no peito trancado por dentro. Chave jogada no penhasco que insiste em morar entre meu dentro e o meu fora.
Meio autista, sabe? Vivendo num mundinho que só eu entendo que a raiva não mora, que a impotência não dita. Lá, aqui, agora, sempre, vou vivendo no meu universo de cores que eu desejo serem desbotadas, refletindo a minha palidez constante, mesmo com a pele amorenada do sol.
Aqui fora, to atropelando gente, pudores pudicos, assassinando a boa moça que sou, mutilando a bondade dos meus olhos, destrinchando com um quase-prazer a gentileza e o brilho dos meus sapatos que no fim do dia, não me levam a lugar nenhuma.
Esperança, moça, creia. Tenha alguma fé no gelo e na pedra.
Não me dirigem mais olhares de vontade, de simpatia, de verdade. Eu desejei tanto isso. Dirigir minha realeza inteira para acabar com todos. Acabei.
E perdendo o trono, tudo e todos, não quero mais olhar para trás.
Me diz porque não to me sentindo mal sendo autista, aleijada, filhadaputa e odiada?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

pecadora

jú mancin

d °_° b claire, morphine

 

eu não consigo me controlar.

tenho o demônio da carne no corpo.

sou acordada na escuridão da minha cela,

utilizo os dedos pra provocar sensações proíbidas.

eu não sei explicar como isso acontece,

eu sinto um formigamento percorrer o meu corpo

e algo se desprende e caminha em direção a você.

 

[pena que não fui eu que escrevi...ta no álbum Confraria das Sedutoras, do 3na massa]

quinta-feira, 24 de julho de 2008

a hard day´s night

Jú Mancin

d °_° b hard with wings, MORPHINE

sabe quando, às tres e meia da manhã, você chega em casa, e olha pro céu e vê um breu, e olha pro lado e não vê nada, e nada faz sentido e você quer mais é que o sentido se foda. você quer é ver oco. e ouve o silêncio dizendo segredos e o pensamento voa longe...[volto pela rua mais escura]

você pega o telefone e chama, desesperadamente, por aquele velho amigo e ele atende, assombrado com a surpresa, meio sonolento, te pergunta o que foi, e você sem se dar conta do perigo, confessa todos os segredos e reza aquele velho terço desbotado, choraminga as mágoas de um passado já distante, e conta tudo, não mede palavras, não mede esforços e a cabeça gira e o corpo dói, dói, dói...

[anfetamina e álcool]

e você diz que não passou, que não parou e ele diz que também sente e sente muito, mas precisa desligar, amanhã vai trabalhar, porque o tempo voou e a infância se foi, e de tudo, o que sobrou, foi aquele velho jardim...

você desliga o telefone, sem saber o que pensar e toma um café, mais um cigarro, liga o chuveiro, pega o chapéu, e passa o resto da noite, sentada embaixo d'água, a esperar papai noel...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

...

Lu Minami


Ouvindo: Nude
(Radiohead)


eu preciso.
é quase falta de ar.
falta de coisa aqui dentro me fazendo dor, me fazendo riso, me fazendo agonia.
minha dor é o que eu não sinto.
o bicho que eu inventei que mora aqui nesse oco, pede para morrer, vai padecer de solidão.
faltam os excessos. o excesso da falta que não desperta, só dói.
dói o nada.
até meu esquecimento dói.
dói não carregar nada, não transpirar uma gota, não sentir o molhado da garganta, a lágrima nos olhos.
dói não dar carona para o desasossego.
e eu preciso tanto.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

...lei seca...

Jú Mancin

d °_° b ouro de tolo, raul seixas

 

é quando a página em branco

não me diz nada.

nela

nenhum desenho,

nenhuma palavra ou foto.

nada.

o mesmo silêncio que me faz muda,

ali naquela página,

nenhuma palavra me devora

eu posso falar de qualquer coisa

todas as coisas e

ainda assim

tudo será nada.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Mode: repeat

Lu Minami


Ouvindo: Keep Fallin´
(Hot Chip)


Estranho dia para perceber que você não está mais por perto. Um dia triste, frio e lindo, como você.

Como percorrer as ruas, antes suas e que agora são minhas, do meu novo bairro, meu novo prédio, sem pensar em você, sem lembrar daquele encontro estranho que tivemos na sua casa? A poucas quadras de mim... poucos metros daquele dia, perdido entre grãozinhos de tempo. Tempo medido pelo meu corpo, pela falta que você faz nele e o deixa murcho, pequeno, magro, cinza.

Ando sentindo as faltas da minha vida. O buraquinho pequeno, mas ainda um buraco, que você deixou quando eu te arranquei, gentil, da minha vida aquele dia. O vento sopra geladinho no meu ouvido quando lembro das inúmeras e infinitas desculpas que você me pediu e, obediente, se afastou.

Eu pedi, né?

Ando sentindo as faltas da minha vida, as folhas secas do outono, o bafo quente que sai do ventilador do carro, as indicações de música, de livros encontrados nas estantes no momento em que você os menciona, os pedidos de desculpas. Eu já disse isso, mas você também se repete demais na minha vida.

[Teenage Fanclub]
[Wasabi]
[Me desculpa]
[Você está lendo? Não responde, não responde]


A vida segue. Repetidamente, inumeras vezes para os mesmos pensamentos de como teria sido . De como escapulimos um do outro quando nos agarramos e não soltamos até ouvir a porta, a consciência, bater.

Eu ainda aguardo o dia em que você vai bater na minha porta nova, do meu predio novo, nas ruas novas do meu novo bairro e dizer para fugir com você.

E por enquanto, esse é o único contato que eu espero ter de você.
Over and over again...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

um cara certo na hora errada

Jú Mancin

d °_° b tanto mar, chico buarque

chega de mansinho, na ponta dos pés, não provoca alvoroço. vem assim, como um arlequim. passa fácil por um tipo qualquer, se camufla entre as gentes. é um mágico, cheio de truques baratos e indecifráveis, pára o tempo, brinca com fogo, controla a mente.

e fica, se espalha.

toma seu tempo, seu templo, seu sono. toma conta, se faz dono.

e as horas passam, os dias vão.

te consome, se consuma. me faz falar, gritar, me faz correr, sangrar, me assanha e me assombra.

canta, dança e sapateia [e esperneia]. te invade por todos os poros e sobra em todos os cantos, ele nunca se cala, e fala baixinho, e parece inocente, e sussurra absurdos, se torna indecente.

te rouba de ti, do mundo. te perde e te acha e sobe e desce e vai e volta e vira e mexe e cala a sua fala e some no mundo.

terça-feira, 1 de julho de 2008

fragmentos de mim

Lu Minami



Ouvindo: Moanin´
(Benny Golson and The Philadelphians)


Eu nunca sonho com você.

Deve ser alguma lei interna, auto regulamentada por um estúpido sentido de auto-preservação. Ou auto-mutilação. Ou auto-piedade. Mas o que era para me preservar, machucar, me deixar com pena de mim mesma acabou. Teve uma noite em que sonhei com você.

Foi um sonho sujo, sua cara. Lembrar dele me faz gelar o estômago, esquentar as pernas. Alongar os braços a procura do seu pescoço de novo.

Lembro do beijo atravessado, que arrepiou meu sono, enrolou-se aqui dentro de mim e ficou horas lambendo, sugando, você me procurando ali dentro da minha boca. E alguns recortes de imagem vêm à minha cabeça agora, o ensaio da sua melhor risada torta, os cabelos enrolados caindo na cara, os olhos sonolentos, enormes. Cheia de pálpebras que escondem tudo o que você já viu no mundo.

Me lembram as nossas conversas paralelas, no meio do expediente, as sacanagens que a gente diz, promete que vai fazer e nunca fica bêbado o suficiente para cair no chão e finalmente realizá-las. Não, a gente cai na risada, dá um beijo e se despede.

E no meu sonho o beijo que foi longo, junto com o abraço que não me deixou mais com frio e o sorriso de mentira que me lembra o quanto eu ainda posso ser isso que você sempre quis, mesmo tendo que ensaiar muito para chegar ali e te roubar alguns minutos da sua atenção medíocre e apaixonante.

Fico pensando porque nunca te amei. Ou será que te amei desse jeito cínico e encantado, adoravelmente soturno que a gente tem quando está um com o outro?

E se te amei para ser essa musa de encontros sujos e perdidos, escondidos nas dobras de um grande lençol, debaixo de um espelho que reflete o nosso melhor juntos?
E se eu nunca te amei para te ter ao meu lado, segurando a minha mão e me dizendo que tudo vai ficar bem porque esse medo filho da puta que eu tenho de gostar perdidamente de alguém vai passar no instante em que a nossa vida se encontrar de vez?

Ah, adorável calhorda. Não tem motivo nem a condicional de te amar e não pretendo descobrir porque a minha alma se diverte tanto quando falamos sobre esse mundo imbecil que a gente vive, enquanto você se esconde por trás das musicas clássicas intermináveis, e eu no meu rock and roll.

Eu, Jimi.

Você, Bach.

Mesmo em sonho... Ah, como daria certo.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

voltei!!!

Jú Mancin

d °_° b tired of waiting for you, the kinks

voltei, meu bem, voltei!

pras coisas feias e sujas, pras cinzas esquinas, pra esse céu escuro e sem estrelas...

a estrada, minha amiga, me deixou bem aqui, no exato ponto de onde eu parti. olhei um mundo belo, olhei um mundo que não é meu, sou daqui, da terra das faces inexpressivas, dos sorrisos superficiais, das mentes debilitadas pela falta de uso. sou daqui, longe daqui não sou...

voltei pro tráfego, pro tráfico, pro beco!

voltei pra mim!

...LUA...


jú mancin


d °_° b baioque, chico buarque


quem não guenta com mandinga, não carrega patuá!!!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Tudo de tudo. De tudo um muito.


Lu Minami
Ouvindo: I Should've Known Better
(Groove Armada)



Existe uma noite que eu amo. Dessas que a gente tem certeza que vai guardar tudo, todas as gotas, até a última ponta, dentro do fichário da memória e esperar ansiosamente pelo dia em que um desses cheiros invada o nosso peito e arrebate a vontade de passar de novo por esse tempo.

Começa pelo dia, o dia exato em que o outono termina para dar lugar ao vento gelado do inverno. São os melhores fins de tarde. O outono termina em noite de lua cheia, dias fabulosos e claros, noites geladas e limpas. O dia desce laranja, com a subida da ladeira rumo às ruas mais movimentadas da cidade, o trânsito cheio, as sirenes ligadas, em contraste com o vapor quente que sai das milhares bocas que passeiam pelas avenidas. Gola do casaco levantada, olhos apertados, passos rápidos, café em mãos.

Depois disso, uma conversa, um telefonema, uma dose.
A espera inquieta pela noite fechada sem traços azuis ou rosados no céu, só as luzes de letreiro e os faróis.


Outra dose.


As pessoas indo e voltando do trabalho, rindo, chorando, brigando, sozinhas, em pares, em bandos. As cores, os barulhos todos juntos, livros sendo lidos e descartados, pratos quebrando, discos sendo vendidos, filmes sendo vistos, corpos sendo alugados, papéis sendo rasgados, trocados, renovados. O gerúndio a todo vapor, celebrando os momentos instantâneos, presentes, em tempo real de uma metrópole que acontece loucamente, em todas as direções.

Finalmente, o som cortante e repetido no ouvido, que faz com que os sapatos mudem de lugar, os joelhos se encontrem, a cintura dance, os olhos fechem, os cabelos voem. E na pista lisa e escura, o encontro com a melhor e pior coisa da cidade grande: a solidão. A solidão bem vinda de dançar sem esperar a oferta de um abraço medíocre. A solidão maldita que traz a certeza de que a morte chegará um dia, daqui a alguns anos ou minutos e você estará absolutamente e irremediavelmente sozinho.

A solidão e companhia de si mesmo com um último cigarro.

E outra dose.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

.e não pense que eu fui por não te amar.

Jú Mancin

d °_° b society, eddie vedder

A cada milha a sensação de deixar pra trás tudo o que não me pertence, todas as coisas que não me deixam, mas que também não estão lá.
Meu coração flutua entre um conto e outro.
No rádio mais uma das tantas “nossas músicas” que passam como tudo à minha volta. No céu desenhos se formam a cada cruzamento, uma imensa tela de projeção azul, que funciona melhor de olhos fechados.
É hora de seguir, mais adiante a maria-fumaça apita, chamando os que sabem do trem, é, ainda tem o trem, que carrega carvão e vapor e corações, que carrega emoções de um ponto a outro, é fácil perceber que a hora do trem passar é importante, toda a cidade se agita com o trem&fumaça.
Entre poetas e reis, impérios e loucos, inconfidentes-degenerados-ladrões-enforcados-bandeirantes-santos-mineradores-desbravadores & navegadores, entre todos os passos de uma história de quinhentos anos me vejo infinito nada, sem sentido ou razão.
O apito do trem me avisa. [“ é hora de seguir!”]
A estrada segue, nunca pára, não tem fim! A história não tem fim. Esqueço o céu, as nuvens e os loucos, sou caminhante e só sei seguir! [eunãoseipa-rar]

Society, you´re crazy bree, I hope you´re not lonely…without me!!!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Caindo do caminhão

Lu Minami

Ouvindo: The greatest
(Cat Power)


E aí, zás, algo mudou.
E bem, uma viagem pelo centro de si mesma, foi o bastante.
[nunca será o bastante]

Para perceber que a vida sai pelas beiradas e tem que tomar cuidado para não transbordar e ferrar tudo, limpar tudo de novo.
[chorar o leite derramado]
E para se desconcertar com o mundinho antigo que ela fazia questão de manter, com toda a bagunça e os cheiros antigos.
E com toda a catástrofe que se instalou, todas as lágrimas que rolaram, dignas de um dramalhão vazio, ela deitou no colo da mãe. Mais um pouco, só para eu me sentir segura de novo.
Por que esse mundo é tão grande? E por que eu tenho que esperar tanto para entender tão pouco?
E ali, em meio àquele edredom molhado, descobriu que vai precisar soltar o passarinho que mora no seu peito. Sem medo de morrer, sem medo de construir um ninho.
E que tudo pode ficar exatamente igual ou melhor, numa vizinhança diferente.
...Once I wanted to be the greatest
Two fists of solid rock
With brains that could explain
Any feeling...

quinta-feira, 29 de maio de 2008

.people are strange.

Jú Mancin

d °_° b snake drive, the yardbirds

A moça, sorriu, quase num tom de ironia.
Ali, sentada diante de seu futuro, ouvindo-o falar e falar e falar... [carreira, dinheiro, canudo].
Então era isso o que a aguardava? Contas, bancos, contas, casa, carro. Cruzes!
"onde eu me encaixo na minha vida, meudeus?"
O moço falava, e ela, continuava ali, bem na sua frente, não sabia mais do que se tratava a conversa, mas esse, era dos males o menor, ela já não sabia de nada. [quem era ou por que veio?]
De repente, sentiu uma dor, aguda e latente. Uma voz dentro dela, gritava, já rouca... Era a outra, a verdadeira.
"Ei! EI! Vamos viajar? Olha a vida chamando! Vamos amar, brincar! Correr na chuva, dormir nas nuvens! Vamos, vamos, vamos..."
Outra voz abafava o grito da moça...
"Assim não dá! Há dois anos, sem aumento. Só trabalho. Tantas contas. Tantas coisas"
"Olha, olha! Pique-pega, pique-esconde...rouba-bandeira...queimada e amarelinha!"
"O barril de petróleo subiu de novo. Meu bolso não aguenta!"
"Chocolate-doce-de-leite-pirulito-pé-de-moleque..."
"E blá blá blá tá em alta, bla blá blá caiu dois porcento..."
"pingue-pongue, siga o mestre, dono da rua...Vamos dançar, vamos dançar!!!"
E a moça ali, naquele meio de fogo cruzado, atordoada, sem compreender por completo o que as vozes dizam. Decidiu que melhor seria se uma se calasse. Sabia que uma não lhe pertencia, não podia calar.
Sorriu novamente pro seu futuro, ofereceu-lhe um beijo na testa e virou-se de lado, desejando bons sonhos.
Antes de adormecer ainda pode escutar, a voz que, outrora, gritava, ali bem dentro do peito, soprando mistérios e inventando novos segredos!
"Sorria, sorria! Vem chegando um novo dia!"

quarta-feira, 28 de maio de 2008

...com a certeza que devo chorar...

jú mancin

d °_° b quem tem medo de brincar de amor, os mutantes

o certo seria parar por aqui. não dizer mais nada. deixar acabar...
seria simples assim "olha, chega! pra mim chega!", virar de lado e dormir, como se o mundo não estivesse acabando.
veja "tchau amor. foi bom, mas já passou!".
existem tantas formas de se deixar as coisas para trás, poderia esquecê-lo, sei lá, num banco da praça ou do ônibus, num acostamento qualquer.
eu queria mesmo era que não fizesse tanto sentido e que o sonhado fosse muito distante da verdade.
queria que você não existisse.
e queria mesmo era não ter que escrever qualquer coisa pra arrancar um pouco desse tanto que há em mim.
queria que eu não existisse.

volto ao jardim!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

...fui...

jú mancin


d °_° b on the road, wander wildner

eu tenho uma camiseta escrita eu te amo
e um chaveiro escrito love
essa história de uma só
zoraide tenha dó
eu quero mais é variar

cansei dessa bobagem...
sempre há tempo pra mais um cigarro, e um café!
sempre teremos Paris!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

.onde é que está teu rock n´roll???.

Jú Mancin
d *~* b Nem vem que não tem, Wilson Simonal


Tim-tim, a sua corte agradece!
U-u, o nosso astro merece!
O mundo está ao contrário e só você reparou???
Que lástima.
LI-BER-DA-DE!
Eu quero é mais...

-+-

O Rubem Braga disse algo sobre o amor, algo que eu concordo, sou egoísta, mas vou dividir...

Amor e outros males

Rubem Braga

Uma delicada leitora me escreve: não gostou de uma crônica minha de outro dia, sobre dois amantes que se mataram. Pouca gente ou ninguém gostou dessa crônica; paciência. Mas o que a leitora estranha é que o cronista "qualifique o amor, o principal sentimento da humanidade, de coisa tão incômoda". E diz mais: "Não é possível que o senhor não ame, e que, amando, julgue um sentimento de tal grandeza incômodo".
Não, minha senhora, não amo ninguém; o coração está velho e cansado. Mas a lembrança que tenho de meu último amor, anos atrás, foi exatamente isso que me inspirou esse vulgar adjetivo – "incômodo". Na época eu usaria talvez adjetivo mais bonito, pois o amor, ainda que infeliz, era grande; mas é uma das tristes coisas desta vida sentir que um grande amor pode deixar apenas uma lembrança mesquinha; daquele ficou apenas esse adjetivo, que a aborreceu.
Não sei se vale a pena lhe contar que a minha amada era linda; não, não a descreverei, porque só de revê-la em pensamento alguma coisa dói dentro de mim. Era linda, inteligente, pura e sensível – e não me tinha, nem de longe, amor algum; apenas uma leve amizade, igual a muitas outras e inferior a várias.
A história acaba aqui; é, como vê, uma história terrivelmente sem graça, e que eu poderia ter contado em uma só frase. Mas o pior é que não foi curta. Durou, doeu e – perdoe, minha delicada leitora – incomodou.
Eu andava pela rua e sua lembrança era alguma coisa encostada em minha cara, travesseiro no ar; era um terceiro braço que me faltava, e doía um pouco; era uma gravata que me enforcava devagar, suspensa de uma nuvem. A senhora acharia exagerado se eu lhe dissesse que aquele amor era uma cruz que eu carregava o dia inteiro e à qual eu dormia pregado; então serei mais modesto e mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoço que de vez em quando doía como bursite. Eu já tive um mês de bursite, minha senhora; dói de se dar guinchos, de se ter vontade de saltar pela janela. Pois que venha outra bursite, mas não volte nunca um amor como aquele. Bursite é uma dor burra, que dói, dói, mesmo, e vai doendo; a dor do amor tem de repente uma doçura, um instante de sonho que mesmo sabendo que não se tem esperança alguma a gente fica sonhando, como um menino bobo que vai andando distraído e de repente dá uma topada numa pedra. E a angústia lenta de quem parece que está morrendo afogado no ar, e o humilde sentimento de ridículo e de impotência, e o desânimo que às vezes invade o corpo e a alma, e a "vontade de chorar e de morrer", de que fala o samba?
Por favor, minha delicada leitora; se, pelo que escrevo, me tem alguma estima, por favor: me deseje uma boa bursite.

Beijo.otro.tchau!

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