terça-feira, 29 de maio de 2007

Babel

Jú Mancin

d °_° b Judy and the dream of horses, B&S.

Sou um rádio mal sintonizado.
Cheio de informações que se fundem. E confundem.
Ouço vozes, música, ouço nomes.
Vocês falam o tempo todo. Falam demais e não dizem nada.
Ninguém ouve nada.
O silêncio tem ruídos.
Gritos surdos.
Um filme em preto-e-branco me lembra do beijo.
Aquele que não foi dado.
E será.
Será?
Ai, como o tempo passa devagar.
As vezes parece que pára.
Mas não pára, já dizia o poeta.
Onde eu vou parar?

“oooh, get me away from here I´dying”

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Horas Vagas

Jú Mancin


d °_° b 1969, The Stooges

Eu gosto dos meus amigos não só pelo que eles tem a dizer, mas pela forma como eles dizem...

Horas Vagas, por plágio

Preparei um imenso mapa da cidade vazia. Calculando as rotas propícias para meus passos. Articulei estratégias na busca de um atalho impossível. Corrigindo qualquer discrepância inusitada dos números. Sabia que seria árdua tarefa desafogar esse trânsito caótico de meu caminho. Lancei mão da lógica mais óbvia para desviar-me do terrível destino vegetal & humano. E com sutileza demarquei a área onde descansar meu tempo. Nas horas eu acrescentei um espaço. Preenchi as lacunas de cada segundo cultivando um ócio necessário & ilusório. Estar nesse imenso território do tempo que me prende. Tempo escasso. Escape cotidiano sem futuro. Surpreendente presente passado. Tão vago quanto as horas em que me perco. E dentro delas os minutos e segundos até o terrível infinito. Fui longe para um despropósito. E teci os planos para a noite. Sob a chuva e carregando o fardo de papéis avulsos guardados em invólucros absurdamente frágeis. Inventei uma teoria para descobrir o lugar. As mãos velhas do tempo tremiam assinando seu nome na tábua das leis. E nem os cães latiram como sempre. Uma poça indiferente. E a correnteza fria rumo ao bueiro onde dispensei meu trabalho junto ao vento. Corri. Subi a ladeira do desaforo. Dobrei a esquina do desabafo. A cada respectivo buraco, um correspondente papel. Palavras desperdiçadas que eu carreguei até esgotar a carga. Sim. Porque eu xinguei a mãe de deus. E o presidente. E todos os banqueiros. As instituições filantrópicas e os dízimos periódicos. Sim. Eu soneguei o tempo. Parei ensopado com o néctar da vida. Parei sob um alpendre baixo. E fiquei a fumar. Fumei o tempo. Eu sem relógio sabia exatamente que era a hora. Sentia nas veias o tic–tac tedioso e fulminante. Fui me esgotando como um mar sem fim. Até as gentes se admiravam. Será que ele consegue o que a escuridão esconde? Acho que vai adoecer. Sim. Quem sabe uma pneumonia, ou mesmo uma crise generalizada. Uma revolta das células. O feriado universal do funcionamento do corpo. Férias da alma. Sim. Ele seria capaz de arrastar o cortejo até a porta do infalível. Sim. Ele dominava seu setor. Conhecia cada ferrugem dos portões. A voz do senhor sem perna, sempre o mesmo bom dia, plantado sob a sombra do abacateiro cujo qual fora podado por um bandido que não tinha outra intenção senão desbaratinar os canas e ao mesmo tempo ganhar o movimento da vila. As conversas dos vagabundos nos bares. Os maconheiros na praça querendo saber quem tem. As alcoviteiras de sempre. As imperfeições do asfalto. O lixo nos terrenos. A dona que traia o marido. A filha que era sapatão. O dono do mercado que era veado. O empresário que mandou matar o jornalista. O jornalista que não era jornalista. O prefeito que era delegado. Os vereadores pedófilos. As crianças prostitutas. Os pais coniventes. Os poetas que não escreviam. Os artistas operários. Os viciados em craque que não pensavam em nada torrando a grana dos pais. Os burgueses cristãos filhos da puta. A alvorada no morro. O chefe da tribo viajando. E o chefe do chefe prestando contas ao chefe. As chaves. Os cartões magnéticos. A maldita fumaça dos caminhões. Os livros que não li. As viagens que adiei. Minhas pernas. Meu pênis. Meu crachá. O professor de geografia. A linda garota que sorriu insinuante. Os poemas de Pablo Neruda. Os pingos da chuva. Os computadores. A revolução das máquinas. O acasalamento das formigas lava-pé. As folhas caídas antes do outono. O atraso programado de cada dia. O discurso pronto. Os filmes que eu queria assistir mas não passam no cinema daqui. O cinema que virou igreja. A igreja que virou fábrica. A fábrica que virou loja. A loja que virou casa. A casa que ficou vazia. A casa que foi invadida. A estação de trem que virou teatro. O teatro que virou boca. A boca que foi estourada. A policia que roubava carros. A dona do puteiro que pagava pau. As putas que eram feias. As feias que eram putas. As putas puritanas. As putas universitárias. E os mendigos aidéticos. E o relógio que parou. Tudo isso. Tanta coisa. E nada ao mesmo tempo. Tudo era sabido. Até romper-se o acordo financeiro. O laço afetivo das coisas. A aurora da liberdade escravizante do dinheiro. Propaganda da vitória da cara gorda do teu pai que comprou o reino da banalidade e vendeu a alma ao satanás. Desconjuro & rogo praga que tua chaga seja mais que uma boba discussão de bar. Sobre os rumos da terra. Essa selva de rinocerontes famintos desiludidos e sem propósito. Enquanto eu... quanto a mim me resolvo & não arredo o pé da utopia – essa estranha realidade.

terça-feira, 22 de maio de 2007

...jack ou dean...

Jú Mancin

d °_° b Night, Morphine

"...gosto de muitas coisas ao mesmo tempo e me confundo inteiro e fico todo enrolado correndo de uma estrela cadente para outra até desistir. Assim é a noite, e é isso que ela faz com você, eu não tinha nada a oferecer a ninguém, a não ser minha própria confusão."

é esse teu jeito de deixar as coisas espalhadas pelo chão.
de jogar ao vento palavras sem sentido, essa tua falta de compromisso. teu riso bobo que me faz sorrir. teu cabelo desgrenhado. tua descompostura. são teus olhos profundos...

um milhão de dólares pelo teu pensamento. um sonho meu por um dos teus

é essa sua loucura lúcida que me desalinha. ou a lucidez insana das tuas noites insone.

tua boca ardente que cospe fogo [e palavras], tal e qual rajada de metralhadora. boca essa, que parece não se querer calar.

e essa tua mania de alçar vôo, de planar sobre a minha cabeça e de quando em quando atirar pedras do alto, como que dizendo: EU POSSO VOAR!

esse teu jeito de lançar amônia nas obras de arte, pelo prazer de vertê-las a meros borrões, de profanar o sagrado e acabar com os relicários.
são teus pés na mesa de jantar e a forma como apaga o cigarro nos copos vazios.
pode até ser seu tédio contagiante...
é. é esse teu jeito de deixar as coisas espalhadas pelo chão.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Aniversário de nós quase dois

Lu Minami

Ouvindo: Eu preciso dizer que te amo
(Cazuza e Bebel Gilberto)


É fácil perder a conta de quantas bocas já conversaram dentro de mim, falando o que fosse, pedindo o que fosse. Para falar a verdade, nunca me preocupei em contar... talvez só os primeiros. Depois, conto com a memória do gosto e da dor que ficam.

Neste mês, faz alguns anos do último que arrancou metade de mim e jogou longe, num triturador. Eu me lembro da fila para estacionar, do vestido e das botas que eu estava usando. Eu lembro do sorriso e do barulho do gelo tilintando no copo, misturado à voz da Luana Piovani que abriu a festa. Nunca gostei dela. Não sei porque lembro dela nesta ocasião. Tinha gosto de vodka gelada e de cigarro, num calor exasperado que quase me lançou ali de cima, daqueles parapeitos onde a gente ficou horas admirando um jardim.

Dali para frente lembro de todas as chances que eu tive de falar e você de ouvir. E das palavras que eu deveria ter engolido ao invés de depositá-las na mesa daquele mesmo bar que a gente fechou tantas vezes, desnudas, para que você pudesse contemplar num sorriso bobo que na verdade escondia alguma coisa que antes eu achava ser cinismo e hoje eu acho que era simplesmente o não saber o que fazer comigo. Tão nova e tão boba, esperando o menino que ela escrevia em seu diário, como príncipe que poderia chegar num castelo como aquele da festa.

O tempo todo que tivémos depois, aqueles meses e semanas que poderiam ser descritas um por um, porque eu me lembro de absolutamente tudo, me trouxe um espasmo de dor que nunca passou. E eu sofri de um jeito por alguém que nunca mereceu como ninguém. Sofri loucamente, drasticamente e tragicamente como num último capitulo de novela mexicana, sem a parte feliz. Aquela dor clichê que o mundo diz o mesmo ditado sobre o tempo e sobre merecer, aos quais eu respondia “que se foda, tô sofrendo prá caralho” ali, dentro de mim, do meu quarto de luz apagada e debaxo dos lençóis, desejando estar em alta velocidade para encontrar um poste logo.

Estamos fazendo aniversário, daquele dia e do tempo que você não está mais na minha vida contra a minha vontade. Vai ser sempre contra a minha vontade, como sempre.

Mas você sabe que esses podem ter sido os melhores presentes que alguém já me deu? O primeiro e o último dia como presentes...

Agora, se você me der licença, com toda a educação, eu vou procurar a outra metade triturada, que a essa altura já deve estar sentindo a minha falta, mesmo contra a vontade.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

...todos estão surdos...

Jú Mancin

d *_* b mademoiselle marchand, jupiter maçã

De um lado a outro
Sem eira nem beira
Nem lenço ou documento
A noite brilha o luar
E chove estrelas [n’algum lugar]
SOMOS LUZ!
Teu maracatu pesa uma tonelada
E eu, no caminho do Blunt of Judah
...get up [aaaaaah] like a sex machine...
Pra ficar sonhando depois de acordar
E vem saudade com seu vestido vermelho
E seu batalhão de agitadores e bandeiras
Vem chuva e mais saudade
De um lugar que eu nunca fui
Vem caminhão [eu sou meniiiina]
E quem tem medo de brincar de amor?
Love, love, love
All you need is LOVE, baby!
Você, ele e eu!
Só amor!!!

terça-feira, 1 de maio de 2007

i.n.v(f).e.r.n.o

Jú Mancin

d °_° b Prantos do poeta, Cartola

...e diante da morte tudo se torna tão pequeno.
O que faz sentido?
A vida escorrendo por entre ralos, rumando-se pra um canto escuro...
O que vale a pena? Tudo, quando a alma não é pequena, já disse Pessoa.
O que é tudo diante desse grande nada?
Vida que vem e vai.
E entre lágrimas meu pensamento procura o teu.
Não há corpo, nem matéria. Só saudade.
A vida tá pouca pra tanta vida.
O tempo voa e eu aqui, parada, pensando em ausências.
Preciso de novas asas...

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