quinta-feira, 31 de julho de 2008

... (2)

Lu Minami

Ouvindo: High and Dry
(Radiohead)

Caminho, caminho, surdo, calo, cego.
To assim, aleijada, incapaz de mover um dedo na direção do que pode um dia me dar a chance de botar felicidade no peito trancado por dentro. Chave jogada no penhasco que insiste em morar entre meu dentro e o meu fora.
Meio autista, sabe? Vivendo num mundinho que só eu entendo que a raiva não mora, que a impotência não dita. Lá, aqui, agora, sempre, vou vivendo no meu universo de cores que eu desejo serem desbotadas, refletindo a minha palidez constante, mesmo com a pele amorenada do sol.
Aqui fora, to atropelando gente, pudores pudicos, assassinando a boa moça que sou, mutilando a bondade dos meus olhos, destrinchando com um quase-prazer a gentileza e o brilho dos meus sapatos que no fim do dia, não me levam a lugar nenhuma.
Esperança, moça, creia. Tenha alguma fé no gelo e na pedra.
Não me dirigem mais olhares de vontade, de simpatia, de verdade. Eu desejei tanto isso. Dirigir minha realeza inteira para acabar com todos. Acabei.
E perdendo o trono, tudo e todos, não quero mais olhar para trás.
Me diz porque não to me sentindo mal sendo autista, aleijada, filhadaputa e odiada?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

pecadora

jú mancin

d °_° b claire, morphine

 

eu não consigo me controlar.

tenho o demônio da carne no corpo.

sou acordada na escuridão da minha cela,

utilizo os dedos pra provocar sensações proíbidas.

eu não sei explicar como isso acontece,

eu sinto um formigamento percorrer o meu corpo

e algo se desprende e caminha em direção a você.

 

[pena que não fui eu que escrevi...ta no álbum Confraria das Sedutoras, do 3na massa]

quinta-feira, 24 de julho de 2008

a hard day´s night

Jú Mancin

d °_° b hard with wings, MORPHINE

sabe quando, às tres e meia da manhã, você chega em casa, e olha pro céu e vê um breu, e olha pro lado e não vê nada, e nada faz sentido e você quer mais é que o sentido se foda. você quer é ver oco. e ouve o silêncio dizendo segredos e o pensamento voa longe...[volto pela rua mais escura]

você pega o telefone e chama, desesperadamente, por aquele velho amigo e ele atende, assombrado com a surpresa, meio sonolento, te pergunta o que foi, e você sem se dar conta do perigo, confessa todos os segredos e reza aquele velho terço desbotado, choraminga as mágoas de um passado já distante, e conta tudo, não mede palavras, não mede esforços e a cabeça gira e o corpo dói, dói, dói...

[anfetamina e álcool]

e você diz que não passou, que não parou e ele diz que também sente e sente muito, mas precisa desligar, amanhã vai trabalhar, porque o tempo voou e a infância se foi, e de tudo, o que sobrou, foi aquele velho jardim...

você desliga o telefone, sem saber o que pensar e toma um café, mais um cigarro, liga o chuveiro, pega o chapéu, e passa o resto da noite, sentada embaixo d'água, a esperar papai noel...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

...

Lu Minami


Ouvindo: Nude
(Radiohead)


eu preciso.
é quase falta de ar.
falta de coisa aqui dentro me fazendo dor, me fazendo riso, me fazendo agonia.
minha dor é o que eu não sinto.
o bicho que eu inventei que mora aqui nesse oco, pede para morrer, vai padecer de solidão.
faltam os excessos. o excesso da falta que não desperta, só dói.
dói o nada.
até meu esquecimento dói.
dói não carregar nada, não transpirar uma gota, não sentir o molhado da garganta, a lágrima nos olhos.
dói não dar carona para o desasossego.
e eu preciso tanto.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

...lei seca...

Jú Mancin

d °_° b ouro de tolo, raul seixas

 

é quando a página em branco

não me diz nada.

nela

nenhum desenho,

nenhuma palavra ou foto.

nada.

o mesmo silêncio que me faz muda,

ali naquela página,

nenhuma palavra me devora

eu posso falar de qualquer coisa

todas as coisas e

ainda assim

tudo será nada.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Mode: repeat

Lu Minami


Ouvindo: Keep Fallin´
(Hot Chip)


Estranho dia para perceber que você não está mais por perto. Um dia triste, frio e lindo, como você.

Como percorrer as ruas, antes suas e que agora são minhas, do meu novo bairro, meu novo prédio, sem pensar em você, sem lembrar daquele encontro estranho que tivemos na sua casa? A poucas quadras de mim... poucos metros daquele dia, perdido entre grãozinhos de tempo. Tempo medido pelo meu corpo, pela falta que você faz nele e o deixa murcho, pequeno, magro, cinza.

Ando sentindo as faltas da minha vida. O buraquinho pequeno, mas ainda um buraco, que você deixou quando eu te arranquei, gentil, da minha vida aquele dia. O vento sopra geladinho no meu ouvido quando lembro das inúmeras e infinitas desculpas que você me pediu e, obediente, se afastou.

Eu pedi, né?

Ando sentindo as faltas da minha vida, as folhas secas do outono, o bafo quente que sai do ventilador do carro, as indicações de música, de livros encontrados nas estantes no momento em que você os menciona, os pedidos de desculpas. Eu já disse isso, mas você também se repete demais na minha vida.

[Teenage Fanclub]
[Wasabi]
[Me desculpa]
[Você está lendo? Não responde, não responde]


A vida segue. Repetidamente, inumeras vezes para os mesmos pensamentos de como teria sido . De como escapulimos um do outro quando nos agarramos e não soltamos até ouvir a porta, a consciência, bater.

Eu ainda aguardo o dia em que você vai bater na minha porta nova, do meu predio novo, nas ruas novas do meu novo bairro e dizer para fugir com você.

E por enquanto, esse é o único contato que eu espero ter de você.
Over and over again...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

um cara certo na hora errada

Jú Mancin

d °_° b tanto mar, chico buarque

chega de mansinho, na ponta dos pés, não provoca alvoroço. vem assim, como um arlequim. passa fácil por um tipo qualquer, se camufla entre as gentes. é um mágico, cheio de truques baratos e indecifráveis, pára o tempo, brinca com fogo, controla a mente.

e fica, se espalha.

toma seu tempo, seu templo, seu sono. toma conta, se faz dono.

e as horas passam, os dias vão.

te consome, se consuma. me faz falar, gritar, me faz correr, sangrar, me assanha e me assombra.

canta, dança e sapateia [e esperneia]. te invade por todos os poros e sobra em todos os cantos, ele nunca se cala, e fala baixinho, e parece inocente, e sussurra absurdos, se torna indecente.

te rouba de ti, do mundo. te perde e te acha e sobe e desce e vai e volta e vira e mexe e cala a sua fala e some no mundo.

terça-feira, 1 de julho de 2008

fragmentos de mim

Lu Minami



Ouvindo: Moanin´
(Benny Golson and The Philadelphians)


Eu nunca sonho com você.

Deve ser alguma lei interna, auto regulamentada por um estúpido sentido de auto-preservação. Ou auto-mutilação. Ou auto-piedade. Mas o que era para me preservar, machucar, me deixar com pena de mim mesma acabou. Teve uma noite em que sonhei com você.

Foi um sonho sujo, sua cara. Lembrar dele me faz gelar o estômago, esquentar as pernas. Alongar os braços a procura do seu pescoço de novo.

Lembro do beijo atravessado, que arrepiou meu sono, enrolou-se aqui dentro de mim e ficou horas lambendo, sugando, você me procurando ali dentro da minha boca. E alguns recortes de imagem vêm à minha cabeça agora, o ensaio da sua melhor risada torta, os cabelos enrolados caindo na cara, os olhos sonolentos, enormes. Cheia de pálpebras que escondem tudo o que você já viu no mundo.

Me lembram as nossas conversas paralelas, no meio do expediente, as sacanagens que a gente diz, promete que vai fazer e nunca fica bêbado o suficiente para cair no chão e finalmente realizá-las. Não, a gente cai na risada, dá um beijo e se despede.

E no meu sonho o beijo que foi longo, junto com o abraço que não me deixou mais com frio e o sorriso de mentira que me lembra o quanto eu ainda posso ser isso que você sempre quis, mesmo tendo que ensaiar muito para chegar ali e te roubar alguns minutos da sua atenção medíocre e apaixonante.

Fico pensando porque nunca te amei. Ou será que te amei desse jeito cínico e encantado, adoravelmente soturno que a gente tem quando está um com o outro?

E se te amei para ser essa musa de encontros sujos e perdidos, escondidos nas dobras de um grande lençol, debaixo de um espelho que reflete o nosso melhor juntos?
E se eu nunca te amei para te ter ao meu lado, segurando a minha mão e me dizendo que tudo vai ficar bem porque esse medo filho da puta que eu tenho de gostar perdidamente de alguém vai passar no instante em que a nossa vida se encontrar de vez?

Ah, adorável calhorda. Não tem motivo nem a condicional de te amar e não pretendo descobrir porque a minha alma se diverte tanto quando falamos sobre esse mundo imbecil que a gente vive, enquanto você se esconde por trás das musicas clássicas intermináveis, e eu no meu rock and roll.

Eu, Jimi.

Você, Bach.

Mesmo em sonho... Ah, como daria certo.

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