quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Maria Pintada de Prata

Jú Mancin

d *_* b opel, syd barrett

um conto do vampiro!

Maria Pintada de Prata
Dalton Trevisan

GRANDALHÃO, voz retumbante, é adorado pelos filhos. João não vive bem com Maria ambiciosa, quer enfeitar a casa de brincos e tetéias. Ele ganha pouco, mal pode com os gastos mínimos. Economiza um dinheirinho, lá se foi com a asma do guri, um dente de ouro da mulher. Ela não menos trabalhadeira: faz todo o serviço, engoma a roupinha dos meninos, costura as camisas do marido. Inconformada porém da sorte, humilhando o homem na presença da sogra.

Para não discutir ele apanha o chapéu, bate a porta, bebe no boteco. Um dos pequenos lhe agarra a ponta do paletó:
— Não vá, pai. Por favor, paizinho.
Comove-se de ser chamado Paizinho. Relutante, volta-se para a fulana: em cada olho um grito castanho de ódio.
— O paizinho vai dar uma volta.
Tão grande e forte, embriaga-se fácil com alguns cálices. Estado lastimável, atropelando as palavras, é o palhaço do botequim. E, pior que tudo, sente-se desgraçado, quer o conchego do corpo gostoso da mulher.
Mais discutem, mais ele bebe e falta dinheiro em casa. Maria se emboneca, muito pintada e gasta pelos trabalhos caseiros. Desespero de João e escândalo das famílias, a pobre senhora, feia e nariguda, canta no tanque e diante do espelho as mil marchinhas de carnaval. Os filhos largados na rua, ocupada em depilar sobrancelha e encurtar a saia — no braço o riso de pulseiras baratas.
Com uma vizinha de má fama inscreve-se no programa de calouro:
— Sou artista exclusiva — ufana-se, com sotaque pernóstico.
— A féria é gorda! Aos colegas de rádio oferece salgadinhos e cerveja.
João escapole pelos fundos, envergonhado da barba por fazer. Volta bêbado e Maria tranca a porta do quarto, obrigado a dormir no sofá da sala. Noite de inverno, o filho mais velho, ao escutá-lo gemer, traz um cobertor:
— Durma, paizinho.
A cada sucesso de Maria — o quinto prêmio da marchinha, o retrato no jornal, a carta com pedido de autógrafo:
— Ela ainda recebe uma vaia — é o comentário de João. - Com uma boa vaia ela aprende!
Ó não — essa aí quem é de cabelo oxigenado? Acompanhada a casa, horas mortas, pelo parceiro de vida artística. Ora o cantor de tangos, ora o mágico de ciências ocultas. Demora-se aos beijos na porta e as mães proíbem as crianças de brincar com os dois meninos. João sabe que é o fim — dona casada que tinge o cabelo não é séria. Vai dormir no puxado da lenha, encolhido na enxerga imunda, a garrafa na mão.
Dois dias fechado (assusta-lhe a própria força e jamais bate nos filhos), urra palavrão e desfere murro na parede. Maria faz as malas e, sem que os pequenos se despeçam de João, muda-se para casa dos pais.
Lá deixa os meninos e amiga-se com um pianista de clube noturno. Mais uma bailarina, que obriga os clientes a beber. O pianista, vicioso e tísico, toma-lhe o dinheiro e, se a féria não é gorda, ainda apanha.
Cansada de surra, volta à casa dos pais. Então a velha sai em busca de João e sugere as pazes.
— Ela que fique onde está. Não quero Maria, nem pintada de prata.
Despedido da fábrica por embriaguez, sobrevive com biscates. Ao vestir o paletó, da manga surge uma cobra e, aos berros, lança-o no fogo. Aranha cabeluda morde-lhe a nuca; inútil esmagá-la com o sapato, de uma nascem duas e três — enrodilha-se medroso a um canto e esconde nos joelhos a cabeça.
Domingo recebe a visita dos filhos, enviados pela sogra. Divertem-se no Passeio Público a espiar os macaquinhos. O pai compra amendoim e pipoca, que os três mordiscam deliciados. Afasta-se de mansinho e, atrás de uma árvore, empina a garrafa saliente no bolso traseiro da calça — as mãos cessam de tremer. Os meninos desviam os olhos: sapato furado, calça rasgada, paletó sem botão. Alisando a mão gigantesca:
— Não, paizinho. Não beba mais, pai.
Lágrimas correm pelo narigão de cogumelo encarnado. Despede-se com sorriso sem dentes. Na esquina gorgoleja a cachaça até a última gota.
Em delírio na sarjeta, recolhido três vezes ao hospício. A crise medonha da desintoxicação, solto quinze dias mais tarde. Mal cruza o portão, entra no primeiro boteco.
Maria cai nos braços do mágico de ciências ocultas e, proibida de cantar com voz tão horrorosa, consola-se no tanque de roupa. Nem o amante nem os velhos querem saber dos piás, internados no asilo de órfãos.
Cada um aprende seu ofício e, no último domingo do mês, com permissão da freira, vão bem penteadinhos à casa do pai. Ainda deitado, curte a ressaca; com alguns goles sente-se melhor. Os pequenos varrem a casa, acendem o fogo, olhinho irritado pela fumaça. No almoço apresentam café com pão e salame rosa. Sentado na cama, o pai contenta-se em vê-los comer. Sorri em paz, um deles enxuga-lhe o suor frio da testa. Sem coragem de abandoná-lo, os filhos a seu lado durante a noite: fala bobagem, treme da cabeça aos pés, bolhas de escuma espirram no canto da boca.
Os meninos adormecem, ouvindo o ronco feio do afogado. O maior acorda no meio da noite, vai espiar o pai em sossego, olho branco. Fala com ele, não se mexe. Tem medo e chama o irmão:
— O paizinho morreu.
Sem chorar, encolhidos na beira da cama, à escuta dos pardais da manhã.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

au revoir, xuxu!!!

Jú Mancin

d *_* b two of us, the beatles

vai meu irmão...
Estranho seria se eu não viesse até aqui, nessas mal-traçadas linhas, desejar-lhe boa sorte! Dizer a ti que o tempo é curto e passa rápido e que Bellême é só mais um trechinho da estrada.
Que vou sentir sua falta, e que a vida vai ser um tanto mais complicada sem teu ombro amigo.
Que a terra do nunca te reconhece plenamente com um lostboy, e deseja que o mundo não a endureça. [NÃO CRESÇA!!!].
Que despedidas são maçantes e reencontros valem a pena!
...pega esse avião...
Respire Paris! Respire por mim...
Viva Godard, Truffaut e a nouvelle vague. Viva um bistrô (dispenso o iscargô), profiteroles, boujolais e petit gateau. Viva a Champs Elysèes. Arc d´triumph. Notre Damme. Liberté, Egalité, Fraternité. VIVA A FRANÇA!
...você tem razão...
Vai na paz, minha flor. Que aqui o rebanho vai tá seguro. Ou não...
Vai na boa, que aqui vai ter muito barulho pra abafar a falta de você.
...de correr assim...
Te vejo quando o carnaval chegar. Entre confetes e serpentinas. A sarjeta é nossa!!!
...vê como é que anda aquela vida à tôa...
...e se puder me manda uma notícia boa!
Bon Voyage sister!!!

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Boa viagem...

Lu Minami

Ouvindo: Sobrenatural
(Ludov)



Ei, eu sei que é necessário.
Eu sei que é fisiológico e mora no sangue essa sua vontade louca e maluca de ir embora.
Sim, eu prometo que não vou pensar que está me abandonando.

Faça o seguinte. Não olhe para trás. Assim eu posso pensar com os meus botões cor-de-rosa que você esqueceu de olhar a última vez para mim e aí quem sabe você volta para mais um riso fácil. Ou então que eu possa ir atrás de você um dia, cutucar seu ombro e dizer: Porque você não me disse tchau, porra?!

Já que você vai, eu preciso me despedir. Que seja um mês, três anos, 8 meses ou 5 meses. Que seja para aqui do lado ou para a China. Eu acredito em despedida porque é o momento em que a única coisa que eu te peço é que você permita que o mundo entre dentro de você para mudar as chaves do seu coração, embananar tudo e fazer você olhar o céu como se fosse a primeira vez. E sim, se assustar ao pensar que são as mesmas estrelas que eu daqui estou admirando e pensando em você.

Hehe... assusta né?
Não se preocupe, é só o nosso cobertor de sonhos, cheio de vagalumes que se agitam para nos lembrar que o tempo é curto, mas ainda não é pouco. Por isso, vou deixar essa ruguinha que começou a nascer perto do meu olho direito crescer mais para você perceber quando voltar.

Sabe, pise com cuidado nesse chão que você nunca viu. Quem sabe quem já passou por ele e quais os caminhos que foram tomados depois? Respeite o chão e o céu. Entre ele, estamos nós, mudando o mundo dentro e fora dos nossos olhos. Estamos ali, com todas as sinapses ligadas, captando todos os rostos, cheiros e gostos, torcendo para que daqui a algumas décadas uma dessas lembranças nos assole de repente e nos faça sorrir sem motivo, carregado de uma pureza que não vai mais existir na gente.

De tudo que vai mudar daqui pra frente, eu só te garanto só uma coisa.
Esse abraço continua igual. E é seu.

Faça uma boa viagem e se cuide.
Traga você de volta para mim.


Com amor,
Lu




*** para todos aqueles que eu amo e que estão partindo esta semana, ou
partiram há 1 mês ou que ainda vão embora daqui a 2 semanas.
(para: Ligia, Lele, Telma, Henrique, Bruno e Rapha)

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

...

Plágio

Suas palavras dobradas
Na algibeira levei
A cabeça enfeitada de alpiste
Para que os pássaros cantassem de papo cheio

Indo ao encontro do teu corpo
Tua alma foi queimando minha garganta
E eu tossia

Tive a visão mais crua e nítida
Onde havia a pessoa ilustre
A vazia beleza morta

Derramo estes versos parcos
Pois há muito secaram-me as lágrimas
Perdida a esperança humana

Deixo contigo o infinito
distante do absurdo dos mundos
& longe das horas...

em memória de Murilinho

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Em terra de cego... quem tem olho é desavisado mesmo.

Lu Minami

Ouvindo: Length of Love
(Interpol)


Disseram que só faço merda. Assim, a rodo, espalhando tudo, como se cagasse num espanador e limpasse a casa toda. O que sobrar, taco no ventilador. E o pior, às vezes é pura distração mesmo.
Disseram que foi daquele jeito, enquanto um falava o outro fingia que ouvia e eu não sabia de nada. Disseram também que eu sou cega para mim. E para os outros, enxergo até a poeira que insiste em morar na gola da blusa, a 100 kilometros de distância. Deve ser verdade.
É que a minha felicidade é difícil mesmo. É daquelas que o manual nem existe, porque as engenhocas mais simples e obsoletas do mundo, ninguém mais sabe usar e tirar o melhor. Não preciso nem de clic, nem de botão, porque na minha época essas coisas não existiam. Eu juro que é simples. Mas parece que é braille para quem não tem mão.
Não precisa de muito. Na verdade precisa de muito pouco. É que o brilhar de olhos hoje em dia quase não existe mais, por pura neblina que essa cidade insiste em baixar a tais horas da manhã, tarde e noite. E que a merda toda que eu faço e vivo espalhando por todo canto é na verdade uma tentativa desesperada de fazer dar certo, mas sem saber direito como. Mas a intenção vale?

Para os últimos corações egoístas, não.

E por isso eu fico cansada. Canso daqueles que dizem que vão e nunca aparecem; daqueles que fazem sexo sem amor só para tapar o buraco com nada; das notícias estranhas que me fazem chorar e perguntar o que está acontecendo; das sementes que a gente rega e não florescem; do passado sem futuro. Cansei de perder aos poucos a menina e ganhar todo dia um punhado a mais de mulher mal-resolvida achando que está decidida e focada; cansei das luzes daquelas festas que arrancam tudo de mim e não deixam nada; cansei das promessas que nunca vão ser cumpridas, mas que eu, ainda assim, permaneço parada porque quero ouvir “prometo”. Cansei dessa vida de gente grande que precisa rodar uma taça com 1 centimetro de vinho e o nariz entuchado lá dentro com o mesmo objetivo de ficar bêbado.

Sabe qual é o problema?
O erro não parece acerto. E acho que precisa ser cego mesmo para perceber que o tudo errado está deliciosamente certo.

Estou aqui, aguardando os próximos erros.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

.stilitano.

Jú Mancin

d ^_^ b spirit on the water, bob dylan

- Está me gozando?
- Um pouco – disse ele.
- Aproveite.
Arregalando os olhos, ele sorriu outra vez.
- Por quê?
- Você sabe que é bonito. E pensa que pode zombar de todo mundo.
- É o meu direito, sou bacana.
- Você tem certeza?
Ele caiu na risada.
- Claro. Não tem como se enganar. Sou tão simpático que às vezes tem gente que gruda. Para me livrar deles, tenho de fazer sujeiras.



é uma flecha no meu coração!

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

GOD SAVE PoA!

Jú Mancin

d *_* b Lia, Identidade


CARALHO, O ROCK GAUCHO VAI SALVAR O ROCK BRASILEIRO!

www.myspace.com/jupiterapple [bah, clichê]

www.myspace.com/identidaderock [PUTAQUEPARIU, que coisa boa!]

www.myspace.com/cascavelletes [isso é velho!]

terça-feira, 14 de agosto de 2007

um diálogo

Jú Mancin

d °_* b Claire, Morphine

- ele bebe!
- eu também, ué!
- é. mas ele é mau-caráter...
- tsc. só faz tipo.
- ele mente!
- e mente bem. mas é sempre por uma boa causa...
- o cara é mulherengo, caspita!
- é, isso é mesmo... IR-RE-SIS-TÍ-VEL! aiai...
- ele é bipolar!
- xiiii bi? HA-HA...se pudesse ele seria TRIpolar!
- mas ele é junkie!!!
- [risos]...poesia, PURA poesia!
- AAAAH! eu desisto. DE-SIS-TO!!!
- já? ele insistiria um pouco mais...

Vai entender a mulherada...

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Jupiter em SP




Jú Mancin

d *_* b shine on you crazy diamond, Pink Floyd

Mr. Jupiter Maçã/Apple, se apresenta no Inferno, na Augusta, em SP nesse sábado.

Eu vou!

Por hoje é só pessoal...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Entre Peter e Alice

Lu Minami

Ouvindo: Beautiful
(Belle and Sebastian
)


27 anos, pseudo-formada. Alguma coisa que possa se chamar de carreira. Passados os anos de bobeira e bebedeira desenfreada quando ainda dava para pagar uns micos, a prestação. Eu ainda tenho meus ímpetos infantis, mas não passa disso: criança brincando. Alguns relacionamentos falidos, algumas mágoas grandes e traumas quase irrecuperáveis. A vontade de casar e o relogio biologico querendo tocar o alarme. Apesar disso, eu me auto-saboto e atraso os minutos, as horas, os dias e os anos. Ainda gosto do all star, do rabo de cavalo, da falta de maquiagem, dos pulos em poças de lama. Ainda gosto de dançar igual à Uma Thurman e tentar lembrar da coreografia de Thriller. Gosto de palavrão, de ver desenho e de tentar brincar com o skate apodrecido que ainda mora no quartinho esquecido dos fundos.

Deve ser por isso que eu ainda acho que posso me encantar platonicamente por alguém que eu nunca vi. Não é como antes, que eu comprava os posters dos garotos propaganda, dos caras das bandas bregas, dos atores de novela e deixava a minha baba escorrer pateticamente, num mundo criado só para mim. Não é para tanto, mas é um pouco assim.

Eu gostei do seu cabelo, do seu sorriso, da sua pele clara que tem pelo na perna e não tem no braço. Eu gostei do riso fácil e das sobrancelhas arqueadas, que viram caretas sensacionais. Eu gostei do seu cheiro, deu prá adivinhar. Eu gostei do calorzinho gostoso que deve ter sua pele, seu peito, seu abraço. Eu gostei até da barba, que deve ser macia. Eu gostei de mim quando vi você. Fazia tanto tempo que isso não acontecia que comecei a rir sozinha sem ninguém entender, a não ser uma partezinha que já estava esquecida dentro de mim. Por trás de toda essa capacidade que eu tenho de não amar ninguém e essa carcaça dura e gelada, esqueci que ainda dá para se encantar e amornar. E você é só um menino, oras. Eu gostei de tudo que você gosta. Eu sei que você deve ter alargadores e tatuagens e talvez cabelo colorido, mas e daí? Eu sei que vou achar tudo lindo. Depois a gente resolve como fazer quando você for no clube com meus pais no domingo. Eu gostei de tudo que eu ainda não conheço, mas sei que você vai me mostrar, assim como eu também devo te ensinar alguma coisa sobre qualquer coisa, isso se você já não souber o bastante. Eu queria me vangloriar de ter lido algumas coisas legais, mas sabe, acho que vou ler para você dormir numa cama nossa grande e espaçosa. Eu gostei das suas fotos, o jeito como olha as coisas. Acho que vou gostar do jeito que você vai olhar para mim um dia e, mesmo que eu seja míope e estrábica, garanto que nessa hora, minha visão vai se tornar clara e iluminada.


Mas vê lá. Você é criação minha, exclusivamente minha e qualquer sósia que eu veja por aí carregando suas camisetas e mochilas no corpo, talvez seja de novo absorvido pela incapacidade que eu tenho de construir coisas eternas.

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