quinta-feira, 24 de maio de 2012

.a.florista.[ou poetisa, ainda não sei]

ju mancin


d *_* b it ain´t me [babe], johnny cash & june carter



Ela era florista. [ou poetisa, ainda não sei]

Sonhava acordada com rosas nas mãos. Passava horas e horas sorrindo para suas amigas imaginárias. Tinham nomes, as rosas: Ofélia, Camélia, Simone... Conheciam seus sonhos, seus segredos. Conheciam seus olhos, que brilhavam tristes quando caía de uma nuvem fofinha, daquelas que a gente dorme e sonha com príncipes. E sorriam de volta.

A florista [ou poetisa, ainda não sei] que sonhava acordada com rosas nas mãos, não sonhava com príncipes em formato Disney, sabia ela, que essa vida de castelo era meio monótona, meio cafona, fora de moda. Sonhava com sapos. Isso! Sapos.

Ela gostava de pensar no dia em que estaria ali, perdida pos lados de um pântano, colhendo, sei lá, frutos silvestres, numa tarde de sol não muito quente e seus olhos dispersos se encontrassem com os dele, um sapinho mei vagabundo, mei sem classe, sem a pompa da realeza. E que por alguma razão, dessas que a própria razão desconhece, seus olhos pudessem permanecer no encontro por alguns segundos, pra que um pequeno laço se desenhasse, [sabe, aquele vínculo instantâneo que a gente cria com estranhos que a gente nem sabe explicar de onde vem ou para onde vão?]. E que aos poucos, sem muitas palavras, pudessem chegar mais perto, sem muitos sorrisos, somente o essencial [que normalmente é invisível aos olhos]. Depois o formal, um bom dia aqui, outro ali... Um sorriso pra quebrar o gelo, um segredo contado meio sem querer [daqueles que a gente conta e um segundo depois se pergunta “por que falei isso?”] e aos poucos cumplicidade, um aperto de mãos, um afago... Daí, o dia que ela acorda, longe do pântano e antes mesmo do café da manhã, se pergunte do sapo. Ou se pegue olhando no espelho e trocando o vestido de retalhos meio-furado-meio-gasto, por algo assim, mais bonitinho [“pra ir pos lados do pântano?” estranham as rosas, amigas imaginárias... “aí TEM, ô se tem!”]e saia porta afora, não andando ou correndo, mas flanando, como bailarina do Bolshoi, que flutua ao som da valsa, pra chegar ali, perto das moitas de frutos silvestres e encontra-lo, quieto, mei vagabundo, mei sem classe, mas de olhos atentos à sua espera, com um sorriso mei bobo no rosto na ânsia de um beijo. O beijo que o torne assim, não um príncipe daqueles Disney, coisa mais cafona, uuum... MOTOQUEIRO[?] Isso! Um motoqueiro daqueles estradeiros, que cruzam um país em busca de... sei lá, emoção. Um motoqueiro mei cansado dessa vida, mei disposto a aposentar a Harley e comprar um motor home, daqueles que caibam a florista, suas amigas Ofélia, Camélia e Simone, poesia, seus sonhos em nuvens fofinhas com sapos que viram príncipes motoqueiros que querem se aposentar pra comprar um motor home pra carregar uma florista [ou poetisa, ainda não sei]...

Telefone toca, florista [ou poetisa, ainda não sei] acorda, as rosas não falam e o sapo? Vagabundo, né? Não cria romances e segue na estrada, fazendo brilhar um olhar aqui e outro ali.

terça-feira, 22 de maio de 2012

.filho.de.ogum.


ju mancin

“Ele nunca balança, ele pega na lança, ele mata o dragão”


Aqueles olhos de gato que te tiram o sono quando você quer dormir.

Um sorriso safado dizendo “vem” e a voz rouca, cantando um verso daqueles dos mais sem-vergonha.

Aquelas mãos, que mesmo quietas [e sacanas na medida], provam que ele sabe exatamente em que cumbuca está enfiando os dedos.

Um jeito charmoso de acender um cigarro, que de veneno vira mel...

E aquela certeza que ele tem ao dizer coisas sobre você, que nem você é capaz de enxergar. E quando enxerga, esconde...

Aquele ar de quem não liga, que liga quando ela não espera. [e que ela não atende por distração, por não esperar que o improvável mude de lado]

Fúria que desassossega.

E às vezes silêncio, dizendo “PARE! Você não sabe onde está pisando”. Um alarme discreto e incessante, gritando “PERIGO!” seguido de um afago na alma e um sorriso sincero, como quem avisa que amigo é.

E aquele jeito de ser amigo, de dizer a verdade mesmo quando a verdade não precisa ser dita. Aquele jeito que agrega valor a algo que bem poderia [e deveria] ser efêmero.

Ou quando mente que diz a verdade que aqueles olhos traiçoeiros desmentem só pra confundir.

E a cara de sono que prova que ele é terreno e não desceu de uma estrela ou saiu de um sonho bobo que ela sonhou acordada em uma madrugada virada em cachaça.

Aquele ar de justiça a qualquer custo e o tom de ameaça que usa quando diz “é só meu jeito...”

Um jeito besta de gostar do que ela gosta e de apagar, ainda que por instantes, uma dor que ela chama de adeus.

Isso é coisa daqueles olhos de gato...
[que Jorge te guarde!]


Texto inspirado por um Arlequim da Commedia dell’Arte
E dedicado a um malandro do Chico Buarque

quinta-feira, 10 de maio de 2012

.dessas.coisas.


ju mancin


leave all your loving, your loving behind
you can´t carry it with you
if you want to survive

Dessas coisas que a gente nem sabe de onde vem ou para onde vão. A gente sequer sabe se elas realmente existem.

Coisas que transitam entre o real e o surreal, sabe? E que passam despercebidas pelos olhos que, desatentos, vagam por aí. Um sorriso, um abraço apertado e um franco aperto de mãos.

[Carinho n'alma que agora parece partida em mil e um pedaços]

Dessas coisas simples como um café e mais um cigarro, despretensiosas como um copo d’água e cristalinas como a verdade que sai da boca de um canalha. [nada mais puro do que as verdades de um mentiroso]

E dessas coisas raras como o silêncio da noite em uma cidade que nunca pára. Um silêncio daqueles que nem sempre existe, que a gente cria, numa tentativa de congelar esse ou aquele momento. Parece que o mundo pára [nunca pára] e tudo ao redor muda de cor. É como a alma fotografa a vida que acontece aos pouquinhos entre uma cerveja e dois conhaques.

Dessas coisas belas que vez ou outra despencam de uma nuvem e vêm fantasiadas de gente, mas que na real são luz, clareando um tantim desse túnel estranho que chamo de vida.

Coisas que de tão genuínas fica fácil enxergar até de olhos vendados.

Dessas coisas que a gente não diz porque são feitas para sentir e que a gente não sabe de onde vem, para onde vão ou se realmente existem, mas que estão espalhadas por aí.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

.abraço.


ju mancin


"não sabia da nossa amizade, porque a gente era unido"
04/05/2012

Acordei estranha. Pensando em amigos. Pensando em amizades e pequenas lealdades que fazem da vida, essa brincadeira quase sempre de mau gosto, um lugar melhor.

Tinoco, o da dupla, morreu às duas da manhã.


E daí? Ele tinha 91 anos de vida bem vivida e nem era meu amigo. Foi assim que pensei, ao me perceber entristecida pela morte. E o rádio tocou Chico Mineiro, das canções mais famosas imortalizada pela dupla.

O coração apertou.


Me lembrei das coisas belas que já perdi pelo caminho. Das vezes que o som da viola perdeu o brilho. Dos poucos e grandes amigos que já enterrei.

Me lembrei que a #vitrola anda calada e cabisbaixa, porque perdeu um pouco a razão de ser. Desses adeuses que secam o coração e nos torna assim, meio insensíveis.


Meu luto é musical.


Chorei quietinha, ouvindo meu pai cantar Chico Mineiro enquanto dirigia. Penso que ele também se lembrou das coisas belas que já perdeu pelo caminho.

Mas a tristeza não pode durar, né? O sol brilha e a vida segue. Pensar em amigos é um afago para a alma. Me lembrei dos meus. São tantos os que já ganhei nesta vida, que de brincadeira de mau gosto, passa a ser um bom lugar. Sempre digo que morreria por qualquer um deles, mas é errado, na verdade, eu viveria por todos.

Sei lá, acordei estranha, acho que com vontade de abraçar um por um dos que fazem minha vida melhor. Não dá. São muitos. Alguns de muito longe. A roda viva leva a gente para lugares distantes e a gente dança, sem querer dançar. E se afasta, às vezes se perde. E dá aquela sensação de que a amizade morreu. Errado. Amizade vence distância, tempo e dimensões.

Penso que este texto, nada mais é do que um abraço em todos aqueles por quem eu viveria. E um desejo ardente de que vivam, senão para sempre, por tempo suficiente para que eu possa guardá-los na memória sem medo de esquecer-lhes a cor dos olhos, o timbre da voz e essas pequenas coisas que não reparamos por estarmos tão próximos.

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