sexta-feira, 27 de novembro de 2009

.´round midnight.

ju mancin

d °_° b super sex, morphine

mais um daqueles cenários. vermelho. quase ácido. o disco me lembra de um lugar onde eu nunca estive. um tempo em que eu nunca fui. kerouac talvez. ácido. como bukowski. nas paredes o papel parece dançar o estranho bebop batucado entre um piano, o sax e um trompete desafiador. um jazz-merengue. sou de lugar nenhum. daqui mais do que nunca. meus dedos deslizam livremente num papel de pão, envelhecido em fumaça e solidão. na ânsia do teu nome. curto. certo. longe. êxtase. louco. imbecil. tudo. torto. insubstituível. ontem. nada! um incansável "cale-se". um transbordante cálice. coltrane e o trem azul. meu lápis adormece, embriagado…

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A rosa

Lu Minami


Ouvindo: Cry me a river

(Ella Fitzgerald)


Ela calçou a sandalia baixa e aberta. Surpreendentemente, a manhã aquecia benevolente sua janela e suas jardineiras de violetas quase mortas.

E o caminho que ela fazia de cabeça baixa, onde já aprendera todos os buracos, desníveis e poças de água que formavam nas vielas do seu bairro, resolveu faze-lo de cabeça erguida, de modo a olhar o mundo um pouco que fosse.

E viu os mesmos cachorros e as flores que continuavam crescendo pelos jardins. Viu as palavras que se aglomeravam pelos muros e que subiam pela janela, para serem vistas e compreendidas. E viu os portões rangendo, as vassouras riscando o chão, as bolas quicando pela rua. Os porteiros que acenavam.

Olhou para si e viu outra. Essa outra que de tempos em tempos permitia que respirassem dentro dela, a abraçassem um pouco, por pouco tempo. A outra que sorria com os olhos e deixava que a olhassem um pouco mais para ouvir aquilo que antes parecia mentira, desaforo, desacato.

Esqueceu.

Já não o amava mais há muito tempo. E isso doía de um jeito estranho. Deixava ela esquisita, cheia de alguma coisa que não parecia mais ela. Meio vazia. Mas lotada de algo novo que ela não entendia. Quase sentiu de novo aquela nesga de coisa escondida. Procurou um friozinho na barriga, um pouco do calor que sentia quando estava na frente daqueles olhos enormes, o tremor leve nos joelhos e no canto da boca. Ficou lá, parada em frente à roseira do jardim da velha senhora, pensando, buscando, procurando, vasculhando dentro de si alguma coisa dele. Procurando dor.

Ela já não parecia mais com aquela menina que todo mundo conhecia ou simplesmente fechou algumas janelas imaginárias que nunca existiram para dar lugar à portas, novas vidraças, jardins e soleiras?

E procurando dentro de si aqueles espinhos todos que gostaria que lhe fossem espetados de novo, uma mão entregou a ela uma rosa. Branca, cheia de pétalas grandes e gordas. Sem espinho e com um sorriso.

Agradeceu à velha senhora e continuou caminhando, arrastando seus pés e olhando para os lados.

Finalmente.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

.inquietude.

ju mancin

d °_° b candy says, the velvet underground

colleman destruindo um sax na vitrola. noite quente. no copo, aquele whisky vagabundo. cenário perfeito pra um ato de solidão. a cidade, que de dia me lembra o caos, agora em silêncio parece um suspiro de algo que jaz adormecido em sonhos e ópio. em meus olhos faíscas de uma saudade tola que insiste em me vencer. a TV sem som é mesmo um bonito quadro. não tanto quanto minha sombra disforme na parede branca dançando contra luz, um balé doído e compassado. Alice!!! agora me lembro! foram seus olhos, que por tantas vezes me falou sem dizer. stones e morphina. foi sua mão. nos odores do vento, perfume. flor-de-laranjeira, a minha favorita. silêncio. foi a sua voz. silêncio!

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

.não queira se guardar, não queira se mostrar.

ju mancin

d °_° b love me two times, the doors

ela estava calada. há dias calada. não havia nada que a pusesse a falar, também pudera, ela não saberia o que dizer. há dias ela sentia as pernas frouxas, o coração aos pulos e nos olhos o fogo de outros olhos. há dias ela pensava em silêncio, sem pronunciar palavra…

na verdade não havia surpresa naquela descoberta, afinal, nem era uma descoberta. desde o princípio, ela sempre soube… mas a delícia da comprovação de sua teoria a fazia corar. a fazia calar. sempre fora menina xereta, fascinada pelo fundo do mar e pelas lendas dos tesouros e pelos bravios navegantes caçadores dos tesouros, e mais que tudo, pelos piratas que enfrentavam os bravios navegantes e tomavam-lhes os tesouros. admirava as conchas e achava incrível que o ventre de um molusco nojento cultivasse um grão e o pintasse em tão belo matiz. as pérolas. tinha paixão pelas pérolas. pela transformação das pérolas, assim como pelas lagartas, que hora ou outra ganhavam asas e vermelhos, verdes e amarelos. ela era sabida no que dizia respeito ao coração. não ao coração dos homens, já que esses sentiam em números, ela sabia do coração das ostras, das pérolas, das lagartas e borboletas.

ela estava feliz. há dias feliz. há dias com as pernas frouxas e o coração aos pulos. há dias com olhos no fogo de outros olhos. e isso era tudo e ela não podia falar…

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