sexta-feira, 31 de outubro de 2008

.last night.

jú mancin

d °_° b day tripper, jimi hendrix

quantos comprimidos mais até que eu durma?

quantas horas até que a dor suma?

morfina! morfina! morfina!

meu fim...

vento gelado na parte externa da recepção da espelunca, vozes aflitas repetem histórias iguais de formas diferentes. a bala que matou john lennon, a mesma que acertou kennedy...a bala que fugiu da mauzer, que passou por mim de raspão e balançou a roseira. ouço carros, sirenes e vozes e vozes e vozes. já não sei se o que me trouxe foi o vento ou tempestade. me ajeito no banco de pedra gelado, acendo o cigarro e apago, como que num movimento vicioso, você da memória. te lanço ao papel numa medida desesperada pra arrancar-te de dentro de mim. te desenho. te desejo. te alcanço usando as artimanhas da metafísica. tento em vão denunciar-te os perigos. me aniquilo. você não me ouve. a cena toda vista de longe, me lembra o patético desfecho de uma daquelas comédias de pastelão. me encolho no banco. sinto o frio subir pelas minhas pernas. mau-estar. o estômago arde. o coração vibra em frangalhos. minhas mãos tremem num ritmo frenético que se espalha pelo corpo todo. meus pensamentos já não tem mais forma ou linha, acontecem, simplesmente acontecem. sinto como que me desprendendo da vida. quero gritar não tenho forças. a voz não sai, me lembro do grito de munch. me sinto presa àquela moldura. ESTRONDO. um berro. um lençol ensopado. a familiar rachadura no canto esquerdo do teto. minha cama.

acendo o cigarro e corro pra sacada do alto do edíficio rosa, para assistir ao raiar de mais uma segunda-feira na babilônia.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

... [com um pouco mais de loucura]

Lu Minami


Ouvindo: Weary blues
(Madeleine Peyroux)


Abriu os olhos. Dor.
Dor?

Ah, se conseguisse que seu coração fosse novamente arrancado sem anestesia. Aquela dor vazia, a pior de todas. Sem pulso, sem calor.
Mirava as manchas de infiltração do teto, meio amareladas, que faziam a tinta verde ficar meio podre. Tinha a impressão de que as cascas cairiam em cima dela, como folhas mortas e meio molhadas.
Levantou-se num segundo.
Pés no cháo quente de madeira empoeirada.

Se pudesse, ela mesmo lhe infligiria tal dor. Lembrou de Blue Train.
Seria coisa dolorida? De enfiar a mão no peito, de frente ao espelho e berrar consigo mesma? De arrancar cada gotinha de sangue bombeado?

Sentiria o calor esvaindo? Ficaria triste de sentir tanto o tão pouco? Ou ia tremer tanto sem sentir frio?
Last Night in Tunisia.
Todo aquele torpor líquido esvaziando de si mesma. Aquele medo de ser indecente pedindo para sair correndo nu(a)/nulo(a) pela rua, aquela voz que berrava os palavrões chulos que ela no fundo, amava. Aquela loucura pedindo para ser solta.

Desenjaulada.

E apesar de pedir misericordiosamente pela miséria, pela infâmia de suas pernas e o movimento simples e mecanico. De abrir, fechar. De receber, expulsar. De sanar e não parecer sã. Apesar de toda a vontade elucubrada, do copo largo de conhaque, do cigarro, das cortinas empoeiradas, da brisa que não refrescava... Apesar disso tudo, Ella e Louis insistiam em tocar no rádio Cheek to Cheek. E o ar que era para ser pesado e irrespirável se tornava doce, fresco, veranil.

Ela via Fred Astaire em piruetas com seu mancebo negro, do lado do criado mudo branco. Expectadores do seu espetaculo. E Fred pulava tanto, cruzava pernas no ar. Sorria largo.

"Heaven, I'm in Heaven, And my heart beats so that I can hardly speak"

Sentada na beira da cama, as cascas molengas de tinta do teto cobriam toda a sua cama, desenhando sua nova colcha de outono.

Sozinha.
Louca.
Sorrindo.
Louca.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

...

jú mancin

d °_° b faith no more

não consigo entender onde foi que tudo se perdeu, em que beira de estrada eu me deixei, me troquei por outra, por essa que não sou eu, que não consegue se olhar de frente, nem de lado, essa que não consegue mais se olhar por dentro.

essa dor que não passa.

esse estado de confusão mental, ora por conta da medicação, ora por conta da agitação em que se encontram todos os meus sentidos...sempre me assustou essa coisa da loucura...parece que eu sempre soube que algum dia eu me encontraria nos braços da mãe-insanidade...só não pensei que chegasse tão cedo...

é estranho caminhar na rua, esquecer das coisas, perder os caminhos...me pego chorando, imaginando que minha próxima perda, pode ser a dos valores, aqueles que cultivei, ao longo dos anos...

de manhã, custo a crer que o dia raiou, desejo uma enxaqueca ou qualquer boa desculpa que me permita ficar na cama, com a janela fechada, no escuro...

a noite, o sono não chega. eu giro de um lado a outro, e não consigo dormir, até que o remédio [ou a TV] façam efeito...

nem de longe me sinto à vontade em meio às gentes que me rodeiam, quando riem me sinto mais triste por não encontrar o motivo do riso, me afasto, me escondo e choro sozinha...

todos os dias, em algum momento do dia, penso em me jogar dessa ou daquela ponte, ou usar a velha corda do balanço que me embalou a infância como passagem pra terra do nunca, mas logo mudo de idéia, por coragem ou covardia. seria uma bobagem não mais desfrutar do cheiro da chuva, dos fins de tarde em jurupema, da velha roda de amigos, dos carinhos, dos afagos, da saudade daquilo que merece que eu tenha saudade, seria uma bobagem...

acendo um cigarro, completo a xícara de café, abro, pela milionésima vez aquele livro, que misteriosamente engrupiu na página 23, me detenho ao número, desisto da leitura...

fecho os olhos, não pra dormir, fecho os olhos pra não ver...volto a enxergar aqueles dias, aquelas tardes de sol, coração quente batendo no peito, lágrimas teimosas despencam pela face...o sal do choro é tão diferente do sal do mar...

abro os olhos. é noite! escuro...silêncio...medo!

enlouqueci...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Madrugada

Lu Minami


Ouvindo: #41
(Dave Matthews Band)


- Eu tenho uma coisa para te falar
- O quê?
- Eu sonho.
- Eu também!!!
- Com você.

- Quê???
- Com você!!!!!!
- Ah.
- É bom.
- Sei.
- Sai da minha frente.
- O quê?
- Sai antes que a musica diga.
- Diga o quê?
-
And you come crash into me.
- Ah.


E ela saiu.
Cantando “And I come into you… In a boy´s dream…”
Sorrindo a beça.

Com a madrugada inteira latejando em seu corpo.
Com todas as horas saindo por seus poros.

Experimentando todas as ondas do seu sangue quebrarem em seu rosto, vermelho por causa da vodka.
A primeira noite quente depois de tanto frio.
O primeiro diálogo brega depois de tanta amargura.

Entre 32 e 33 graus

Lu Minami

Ouvindo: Sympathy for the devil
(Rolling Stones)


Fazia calor na cidade. Enorme, de pedra, de carros, de gente suando, de esgoto passando.

32 graus e o asfalto cozinhando minhas sandálias, abafando minhas pernas e mesmo assim, um café e um cigarro.

Falávamos sobre sexo, sobre os projetos que devíamos tocar, as apresentações, os contatos que devíamos fazer, os convidados que teriam que ser convencidos a entrar naquela loucura toda. E no meio disso, entre 2 cafés e 3 cigarros e o marcador que mudava de 32 para 33 graus... um suspiro de ingenuidade e inocência.

Um corpinho de passarinho, um coração provavelmente acelerado e umas bicadas no café que restava no pires e nas migalhas das bolachinhas.

Ah existe vida nesse asfalto todo! Existe o canto de um passarinho em plena marginal pinheiros.

E lá se vai o pobre serzinho, entortando sua cabecinha, os olhinhos brilhantes e injetados, piando feliz e saltitando por entre as faixas de pedestre, alguns sapatos apressados, um copo que erra o alvo do seu arremessador ocupado em algum telefonema. A vidinha tenra que nasce na selva de gente.

Paramos e observamos seus desvios, o cuidado com que passava por entre os obstáculos todos e então, de repente... um carrinho de supermercado atropela o pobre canarinho, bem te vi, sabiá... sei lá o quê.

Um segundo, dois talvez. De algum silêncio. Não de dor. Acho que de “devo-fingir-tristeza-ou-o-quê”. Um segundo, dois talvez.

E voltamos a falar dos amores platônicos, trepadas homéricas, de encontros desencontrados, de tragédias gregas, de finais medíocres disfarçados de grandiosos, dele, dela, de mim, de nós. De tudo aquilo, de todo aquele calor. Menos daquela massa disforme vermelha de penas pequenas e amarelas e que já sumia sob os passos de quem apressado ia para a sua reunião às 3h da tarde.


Please allow me to introduce myself
I'm a man of wealth and taste
I've been around for a long, long years
Stole many a man's soul and faith

.divagando.

jú mancin

d °_° b blues da piedade, cazuza

caminho caminhos

a noite se vai

à tarde vem chuva

o corpo arde,

a mente dança

a dança das cores

das flores o cheiro

da chuva da tarde.

saudade, saudade

do tempo em que tudo

era o tempo todo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

my only friend, the end!

jú mancin

d °_° b o anjo mais velho, o teatro mágico

a dois passos do último pulo, pensou...

ele não merece!

fechou os olhos e se jogou mesmo assim...

dez, onze andares em queda livre e uma vida inteira em sua mente... poucos segundos e muitos frames...

se lembrou da mãe, do pai, do cachorro,da chuva, do sol, do professor de piano, da ultima cerveja, do bolo de milho, das aulas de redação e do bilhete suicida, escrito às pressas e endereçado ao dono dessa sujeirada toda.

antes do fim, ainda teve tempo de pensar mais uma vez...

ele não merece!!!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

vinho tinto

jú mancin

d °_° b desolation row, bob dylan

só mais um delírio etílico

banhado à vinho e desespero

nicotina, alcatrão e a dose certa de morphina pra matar

a dor...

da minha janela vejo a noite escura

assombros de solidão rondam minha cela

na vitrola um bob dylan insistente

grita um folk já ultrapassado [e ainda vivo]

e meu caminho se faz entre estradas que rodam

sem parar

me lembro de outra vida

de outra casa

me lembro de um jardim agora sonolento e silente

sinto sonhos que me carregam pro passado

sinto medo!

sua ausência é minha ruína

seu silêncio é meu silêncio

penso nas terras distantes

terras que me visitam em segredo

que deixam marcas discretas

em meu diário desesperado.

que saudade eu sinto dos amigos enjaulados

cavalos selvagens são bonitos selvagens

não deveriam sofrer

cavalos selvagens, cavalos selvagens

não deveriam ser domesticados.

o último e derradeiro gole me derruba.

procuro a cama

encontro o chão, outrora macio,

agora gelado e duro!

esse amor morre comigo...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

...mas por favor senhor Sol...

jú mancin

d °_° b tired of waiting for you, the kinks

eu costumava gostar da primevera, gostava do cheiro da chuva, me lembrava os tempos idos...

eu gostava de me esconder, debaixo das folhas verdes, sentir a água escorrendo à minha volta, o frescor da primavera me alimentava a alma. era como ver nascer a esperança, era a época do ano, em que eu pensava: PÁRA! olha o mundo mais bonito. eu voltava a ser criança. voltava a sonhar pelos cantos. voltava a ser criança anseando pela próxima estação. ainda hoje estremeço ao pensar nas tardes de verão. sol ardente, chuva fria, poças d'água, lama em corpos quentes. noite estrelada, lua cheia.

PÁRA! esse é o ponto onde tudo muda.

essa lua, amada minha, me traiu com um beijo!

essa lua que te trouxe numa noite. que sabia do meu hábito da velha janela aberta...

essa lua gigantesca e inocente, que ainda agora me arranca as lágrimas, que me faz lembrar de cada uma noite insone [insana].

a lua que nos fez amigos, que me fez amores...

a chuva que caiu na janela aquela tarde, fez vilã todas as outras que não me deram você...

eu costumava gostar da primavera antes de você chegar.

eu gostava dela antes de você partir.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

escuridão

jú mancin

d °_° b epistrophy, thelonious monk

e eu que queria aquela festa! aqui me vejo, diante da velha olivetti [com cara nova], pensando em bukowski. não sendo bukowski!

minha boca seca anseia por um trago...

ah, há quanto tempo não danço pra lua? não durmo na rua?

que tipo de gente eu me formei?

que tipo de mágica me tornou um truque barato?

não, não posso mais mentir pra mim.

com você eu sou melhor. sou mais assim, você sabe...

mas não posso esperar!

preciso voltar a sorrir, voltar a viver.

é primavera e ainda não contemplo novas vidas coloridas.

preciso voltar à velha forma. isso que me vejo, não sou eu nem noutra encarnação.

quanta coisa! quanta gente! e ninguém tem nada a dizer...

e eu (?!) não tenho nada a acrescentar. sigo na estrada, com a velha olivetti embaixo do braço, esperando que a vida me presenteie com meu novo filme a ser rodado.

e sou quintana quando diz:

os letreiros luminosos deveriam ser escritos em chinês: o significado prejudica a beleza das coisas!

volta mistério, volta!!!

 

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