sábado, 13 de outubro de 2007

Uma tarde

Lu Minami

Ouvindo: Playground Love
(Air)


Eu precisava respirar. Sentir no rosto o hálito morno daquela tarde quente. Depois de tanto, de tudo, de tão pouco... eu sentia os olhos arderem e outros olhos que passeavam por aquela praça pousarem curiosos sobre mim, enquanto eu lia, acendia um cigarro e lia mais. Lia um conto sobre encontros.

Aquele lugar era meu, aquela paisagem que cabia dentro dos meus olhos e registrava as mesmas casas vistas lá de cima, as mesmas arvores, os mesmos carros e as mesmas pessoas. Era tudo meu. Quando meu amigo chegou para me fazer companhia, foi como se 10 anos voltassem para trás. Sem se preocupar com o tempo e seu grande crocodilo faminto, a gente gastou toda aquela tarde numa brasa que há muito achamos que tinha se apagado. Passeamos entre as nossas ruas, olhamos as nossas calçadas e lembramos de todos os erros e acertos sob esse mesmo céu. Juntos.

Todas as nossas viagens, mesmo aquelas em que nós não estávamos. A gente estava sim, sabia de tudo, como não estava? Todos os nossos amores, mesmo aqueles que deram errado. Deram certo sim, senão como hoje todos nós permanecíamos juntos desse jeito? Todos os nossos amigos que se foram, que não voltam, que voltam e não ficam, que ficam, mas deviam ir embora ou que se foram, mas permanecem ali por perto, por precaução. Todos para os mesmos quarteirões, porque ali, naquele imenso parque era onde brotava aquela vida louca, inconsequente, sem perigo e sem medo. Era ali o grande jardim da nossa vida, o quintal da nossa idade. Ali, onde todas as nossas histórias foram contadas como contos de fadas às avessas e a gente achava graça. Ali... onde a gente volta para amolecer o coração e voltar a ser criança. Voltar a sorrir sem se preocupar com nada, acender cigarros sem se preocupar com pulmões, amar sem se preocupar com o futuro. Quando tudo era possível, inclusive as pessoas.

Conversamos sobre aqueles que escolhemos para fazer parte da nossa história. Sobre aqueles que eram exceção e haviam vencido de um jeito único e merecedor nesse mundo cruel. Sobre todos, porque todos são as nossas, as minhas exceções. Meus amigos são meu único acerto. Meus amigos, os filhos deles, os nossos pontos de encontro em todas essas encruzilhadas... são todas as únicas vitórias bem sucedidas da minha vida. Meu porto, meu caminho de volta para casa.

É ali, onde eu me encontro de novo, depois de tempos perdida. É ali, onde há amor e desamor. Mas o desamor é só o amar um pouco menos e isso nunca me preocupou.

Contanto que haja amor.



"Eu preciso escrever sobre esta tarde"

4 comentários:

Anônimo disse...

não ERA ali... É ali... nosso canto dos sonhos, nossa inábalável terra do nunca... não dá pra falar dela no passado...

nosso porto!

AMO!

Carol disse...

Q liiiiiiindo!!!!
Tô em prantos, Lu!!!!
Lindo demais!!!
Assino embaixo!!!
Bjs, Carol

Anônimo disse...

Muito bonito. Fico feliz por você.
Da próxima, que tal ler um conto pornográfico antes??rsrs

Anônimo disse...

E viva São Bernanrdo da Borda do Campo. A cidade que ainda não descobriu o Sol. rsrsrs
Beijo, Japa.
Poli

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