terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Grunges never dies... never, never, Neverland...



Lu Minami


Ouvindo: Corduroy, Pearl Jam / Kick Out the Jams (MC5)

Dia 2: Dia gelado, úmido, típica São Paulo. Ali em Pinheiros, acompanhada de 10 homens, (naquele dia, meninos lindos de cabelos rebeldes) caminhamos entre ladeiras, buracos, cemitérios, semáforos abertos, faixas de pedestre apagadas, rumo à Seattle futebolística. Meu coração palpitava, minhas pernas tremiam e minha boca secava. Ali, na pista, milhares de pessoas se amontoavam e se preparavam para um show histórico, onde o tempo ia parar, o amor ia perdurar e as gargantas não iam cessar o grito junto aos braços em direção ao céu.
18h12 - O Mudhoney, dinossauros do grunge cru e garageado, invade o palco e mostra para quê veio. Touch me I´m sick faz com que as mais comportadas garotas queiram tirar a blusa e mostrar o peito aberto.
19h21 - O quarteto mais abençoado da minha época se apresenta com suas guitarras berrando, baquetas a espancar a bateria que adquire vida própria e a voz de todos os 15 anos da minha vida sussurando no meu ouvido a dizer: Não cresça nunca. Meu sorriso de compreendimento se transforma em lágrimas e pulos frenéticos em direção às nuvens cinzas de São Paulo. Chega um momento em que não sei mais se chove no estádio ou dentro de mim. Fico parada observando tudo a minha volta e me pergunto se realmente estou ali, com 40 mil corações batendo ao mesmo tempo. A banda da minha vida é como a banda dos meus sonhos. Tem respeito por seu público, esmero em suas composições, paixão em cada nota e sílaba cantada, rebeldia madura em cada fio de cabelo, em cada ruga. A banda dos meus sonhos não me decepciona e nem estapeia a minha cara com preconceitos e hipocrisia.

Dia 3: Não deu para resistir. Não consegui imaginar um segundo show na Seattle brasileira que eu não pudesse assistir. A mesma correria, o mesmo aperto no coração quando cambistas me disseram que não conseguiriam mais ingressos. Eu imaginei que poderia ficar do lado de fora do estádio e só ouvir, mas ainda bem, não consegui. Uma boa alma me vendeu seu ingresso e eu entrei de coração acelerado e totalmente exposto. Eu queria mais. Queria pular mais, gritar exageradamente, transbordar minha euforia através dos meus olhos, braços e pernas.
19h19 - O quarteto doce como o vinho que bebiam entra no palco e começa tudo de novo. Os sentimentos ultrapassam minha pele e saem voando pela multidão. Olhando para baixo, via-se um mar de braços agitados e um céu de estrelas cadentes. Tudo explodia à minha volta. A voz, o baixo, as palmas, a guitarra e a bateria. Homenagem à irmãos que se foram nos fazem acreditar em milagres, o convite ao amigo para subir, cantar e chutar o mundo idiota e o encerramento do show com o estilo mais libertário a la Neil Young nos faz pensar em que mundo vivemos e porquê é tão difícil a paz entre pessoas e dentro de seus corações. Assim, a banda da minha vida e dos meus sonhos nos deixa em estado de graça e doçura, com aquele sentimento de dever cumprido.

É uma daquelas coisas que a gente coloca no caderno de memórias da vida e dos amigos, para nunca mais esquecer como é bom estar junto de quem a gente gosta e aproveitar a vida. E é também um daqueles ítens que a gente coloca numa lista intitulada: "Coisas que preciso fazer antes de morrer". Ainda faltam algumas coisinhas, mas já me sinto bem satisfeita.

ADENDO: Este foi o mês mais rock and roll da minha vida. Iggy Pop, Fantomas, Nine Inch Nails, Sonic Youth e Flaming Lips na semana passada e double show do Mudhoney e Pearl Jam nesta. É claro que ainda há um espacinho para o bom e velho samba. De Seu Jorge a Los Hermanos, dando uma passadinha pelo Tom Zé...

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