sábado, 6 de agosto de 2005

Ai, te esqueci.

Lu Minami

Ouvindo: Piercing, Zeca Baleiro

Eu resolvi num dia de inverno que esse frio não me congelaria mais e que meu coração queria se aquecer de novo. Mas aí, me bateu aquele desespero do cobertor que eu não conhecia. Estava tão acostumada com seu cobertor bege encardido. Fiquei na dúvida se o novo cobertor me permitiria fazer bolinhas tão macias como o seu.

Mas sabe, não teve jeito. Esse novo chegou devagar e se apoderou do meu álbum velho de fotografias e o substituiu por capas coloridas e novos retratos felizes e tranquilos. Você nunca adoçou meu café. E eu nunca permiti que alguém fizesse isso. Mas ele sabe a medida certa do pouco açúcar que eu gosto. Sabe que eu detesto adoçante e refrigerante light antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

Ele me deu um disco do Paulinho da Viola e disse que a faixa 2 era para mim. Alguma coisa qualquer sobre um samba infinito. Não que eu tenha prestado atenção, porque não prestei. Ainda finjo ser indiferente aos estímulos que ele faz para fazer com que eu me apaixone por ele.

Um dia, fomos jantar e ele pediu meu vinho preferido, mesmo sem combinar com a comida. Não importa, ele disse, o vinho precisa combinar com você. Nesse momento, você me pareceu bobo e egoísta.

Ele viu poesia na noite da cidade e entendeu que gosto mais da minha solidão do que dele ou de qualquer pessoa. Ele disse que sou egocêntrica e prepotente. Me xingou, segurou no meu cabelo como se fosse corda, me carregou e me forçou a dormir com ele. Eu não queria dormir ali, mas o conforto me venceu e eu fiquei.

Nesse momento de serenidade incompreendida, eu te odiei mais do que tudo. Me vinguei da sua apatia e maldisse a sua preguiça estúpida e a sua falta de paixão. Não queria nunca mais acordar e isso era sinal de que se o mundo terminasse naquele momento, era ali que eu deveria e queria estar. Mesmo com a corrupção, o terrorismo, a violência, a decadência e a tristeza, eu não queria levantar bandeira nenhuma. Meu consumo por direito era aquele, ali do meu lado, que dormia de olhos meio abertos.

Ah se eu pudesse escolher, viveria mais um tempo na tristeza que você me presenteou. Mas não tive escolha e voltei a sorrir.

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