terça-feira, 7 de julho de 2009

Alarme Falso

Lu Minami

Ouvindo: Drown in My Own Tears
(Lulu & Jeff Beck)


Ela dançava, girava e esvaziava o oitavo ou nono copo de bebida. Não soube direito como ele chegou perto ou como o cheiro dele se instalou quase instantaneamente no vestido novo dela. 


Ela simplesmente percebeu que algo intenso chegara perto demais. No mundo de lógicas colecionadas a duras penas, achava ela, isso significava um sinal vermelho grande e berrante. 


Mas virou-se e sorriu. 


Não parecia ser o tipo de cara que arrancava um meio sorriso dela. Muito arrumado, muito sorridente, feliz. Estranho demais alguém tão feliz no meio de tanta sombra, mas estranho mesmo era perceber que ela também estava feliz.


Ele tinha cheiro de banho às 5h da manhã. Ninguém cheira assim tão bem à essa hora. E ela se interessava pelo hálito de bebida com cigarro e não de menta fresca. Gostava do suor e não daquela colônia. Odiava amadeirados. O cabelo arrumado e o rosto sem barba não a convenciam. 


Ele chegou perto e soltou uma piada original. 

Ela odiava piadas vindas de estranhos, mas riu sinceramente. 


Ele tinha nome de apóstolo. 

Ela tinha nome de meretriz.


Ele queria saber dela.

Ela ainda não queria saber dele.


Ele encostou de leve os dedos no cabelo dela.

Ela fingiu não perceber.


Ele manteve a distância que o corpo dela pediu.

Ela chegou mais perto e sorriu de novo.


Ele trabalhava em banco.

Ela odiava bancos. Ela gostava de quem doía.

Ele não entendeu.


Ele queria saber mais dela.

Ela preferiu não contar, para não assustá-lo tanto. 


Ele chegou mais perto.

Ela deixou. 


Ele encostou a mão na mão dela.

Ela agarrou a mão dele. 


Ele a beijou e disse olhando no fundo dos olhos dela que ela era linda.

Ela... ela acreditou. 


Ele a levou para o bar, pediu a bebida dela e deu-lhe um beijo na testa.

Ela se aninhou nas costas dele como se a noite não fosse acabar.


Mas a manhã anunciou sua chegada e com ela, a vontade de brincar de amar, de fingir ser feliz por algumas horas. 


Em seguida, ele não sabia, mas ela retornaria para o silêncio bruto, sem espera, sem expectativa, sem esperança. Pois ela sabia, no fundo da alma dolorida, que quem a fazia doer um dia ia voltar e ela, com toda a calma e doçura do mundo, voltaria para doer mais, por cada vez mais tempo. 



I sit and cry,
Just like a child
My pouring tears
Are runnin' wild


7 comentários:

Daniel disse...

Eu adoro o que leio aqui. Fico sempre esperando o próximo capítulo hehe.
beijosss

Lu M. disse...

rs... tem sempre um capítulo chegando, dani!

bjs
Lu M

ju mancin disse...

sincronicidade!!!

ela sabia que ele voltava!

lindo e doído!

Arlequina disse...

eu acho que vc acabou de narrar o meu próximo sábado.

Um devaneio disse...

o amor em seu formato minimo...
.
.
luz!

GMacin disse...

para de fumar!!!
isso ta te deprimindo

Lu M. disse...

Gui, vc é sangue do sangue da ju.
eu te perdoo.

hahahahahahahahhahahahhaha

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