ju mancin
d °_° b solitary man, johnny cash
a voz do trovão me arranca do mundo. me joga pra dentro de mim. e me deixa à sós com tantas dessas coisas que a gente esquece o tempo todo. com todas dessas coisas que a gente lembra o tempo todo tentando esquecer.
e lá vou eu, juliana adentro! como naqueles filmes dos anos 80, que passam na sessão da tarde…quando menos espero, um alçapão se abre sob meus pés e desço ou caio, via escorregador colorido, bem lá dentro, no fundo de mim.
silêncio!
me aquieto na estranheza do momento. espero uns segundos.
bem baixinho e ao longe, um coração pulsando devagar, quase falho.
nada ao redor. nem luz, nem calor. nem a escuridão também. nada que me amedronte ou acalme. também não faz frio aqui dentro.
caminho vacilante entre os corredores de mim…me admiro diante de tanto nada. absurdamente caí num canto de mim que não se parece comigo. sem veias ou artérias. sem sangue, plaquetas e leucócitos. sem orgãos vitais. rins, estômago ou fígado e pulmão. só o som, fraco, meio morto de um quase coração.
observo atentamente mais de mim. não me reconheço. não me vejo em ponto algum. [eu por dentro sou coisa nenhuma!]. páro um pouco. pra tentar recuperar o ar. penso que mais um tempo ali dentro, e enlouqueço pra sempre. e penso que não me importo mais, decido continuar e decido que a loucura é quem vai velar meu sono um dia ou outro. noto que minhas paredes, essas lá dentro de mim, são forradas, por, creiam-me, espelhos…bonitos espelhos, como aqueles dos antigos camarins de cabaré. luzes mortas, apagadas, parecem fazer mais negro o blackout aqui desse lado. me lembro doloridamente, que algo em mim já brilhou. essa estranha sala de espelhos sou eu. essa estranha sala de espelhos apagados sou eu. não me vejo, não me reconheço.
caminho, caminho.
[nada novo sob o céu. nada de novo ao luar!]
o som do pulsar daquele quase morto coração, some aos poucos enquanto as paredes se afunilam. não. não que esteja parando, esse velho e tonto coração, sinto, ainda, o vibrar das batidas, meio fraco... só o som é quem se afasta. não consigo deter meus pés. sigo em frente, mesmo notando a falta de espaço que vai se evidenciando. a falta de ar. me encontro pequena, sonolenta. caída em mim…num coma, talvez…me bato, me chuto e me chacoalho. tento, insistentemente, me acordar dessa inércia estranha… pareço drogada, mas não uso drogas… desespero…choro ao lado de mim mesma, ali, no chão dentro disso que sou eu… e me acordo, lentamente… meus olhos se olham, confusos, como se eu me visse e não me reconhecesse… minha parte mais lúcida me bate na cara…minha parte doente, apanha, sem revidar…
a voz do trovão me puxa pro mundo. volto. confusa.
[há dias eu tento concluir esse meu encontro comigo mesma e há dias eu não consigo…the lunatic is in my head…não sei como acaba essa coisa toda…]