sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

3 estações

Lu Minami

Ouvindo: Until the morning
(Thievery corporation)


Caminho.
Meus passos são cegos e surdos. Sou incapaz de controlá-los. Os músculos ficam mais fortes, sinto que esticam, quase doem.

Meu coração é igual, mas esse eu não exercito há tempos. Meu médico se preocupou outro dia. Disse que era bom mesmo eu pensar em me cuidar. Do contrario, ele podia falhar. "Falhar mais?" eu respondia toda deboche. E ele devolveu dizendo "Opa. Você pode não sentir mais nada".

Mas, caminho. No calor sem vento, a cidade cheira à lixo. Quando venta, alguma coisa parecida com folhas mortas e sombras esquecidas fazem cócegas no meu nariz. E na chegada repentina e bruta da chuva, só perfume.

Caminho ansiosa pelo verão. Procuro em todas as vielinhas, casinhas de portão baixo, botecos de vozes altas e felizes, outros caminhantes solitários, pernas cegas.

Não o acho. De manhã vivo um inverno sem fim. À tarde, o outono chega cheio de vento. No fim do dia começa a primavera chuvosa.

E o verão do calor escaldante, irritado, otimista e eufórico, quase maníaco... onde?

Caminho.
Caminho.



I can walk into the sunlight, into the day, into the day, to the day
I feel it falling, nothing comes to my mind
...
Sleep on tight, til the sunlight burns you happy...
Till the sunlight burns you happy...
Till the sunlight burns a happy hole in your heart.
Your heart.
Your heart.
Your heart.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

.já dizia raul.

ju mancin

d °_° b I wanna ride you, medeski, martin and wood

- o fulano largou o rock!

- ih...entrou pra igreja, encontrou jesus?

- não. virou boiadeiro.

- ah...comprou um cavalo e tá tocando a boiada...

- não. tá namorando uma moça que usa chapéu, anda em comitiva...

- bah, mas...beatles e stones? stogges?

- nada...agora é leilão e jardim de borboletas...tá rimando mar azul com céu azul...e feliz da vida!

- é macumba!

- tsc...coisas do coração!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A calma das coisas

Lu Minami


Ouvindo: ´Cause I love you
(Johnny Cash / June Carter)




Fico parada um tempinho. Contemplando minha calma, meus pés sem unhas feitas, a bordinha do lençol que levanta e abaixa conforme o ventilador diz não, não, não, melhor não. Penso melhor com a geladeira aberta e ela até me refresca um pouco, mas não tira aquela calma duvidosa de mim. Não sou uma moça tranquila que acha que tudo vai dar certo, é tão estranho isso. Fico dizendo isso para os outros e realmente acredito nisso quando digo à eles que tudo vai se resolver, porque vai. No meu caso, nunca digo isso para mim, é falso testemunho, calúnia, baixaria, atentado ao pudor contra mim mesma. Também não acredito quando dizem para mim, meu ego não permite e eu sei do redemoinho de impossibilidades tristes e sujas que circula dentro do meu mundo.

Por isso fico pensando. Eu tinha dito que sim, eu ia. Mas agora, tão tranquila com essa decisão me apavorei. Como é que eu disse sim? Eu sempre digo não para ele. Ele esgota minhas tristezas, minhas raivas, me faz ver estrelas, me diz tudo aquilo de sempre. Que gosta do meu cheiro, que enlouquece com minha cicatriz perto do peito, que ama o que eu escrevo, que acha mesmo que eu seria para sempre, todo dia, todo minuto, que não cansa de ouvir minha voz, que eu chata e mal-humorada sou mais bonita ainda, que eu ando tropeçando e me machucando pelas quinas de todos os lugares e que a partir de agora ele ia ser uma espécie de protetor acolchoado que me cerca, me protege. Ah, eu quero ser protegida, não quero? Quero. Ele tem um beijo grande, completo, que dá voltas e voltas e que termina sorrindo com a boca grudada na minha. Os dois sempre sorrindo. E ele escreve também, lindo e triste, canalha, bem vivido, toca piano, fotografa coisas simples que ficam tão bonitas que dá vontade de abraçar a foto e dormir com ela debaixo do travesseiro, viajou de verdade, nômade, sem lar, mas que comigo ele faria suas raízes crescerem, que sou a melhor no mundo.

E num segundo, fecho a geladeira e olho de novo para o ventilador.
Vou, não é? Eu tenho que ir. É fácil, está a poucos quarteirões de mim, mas ele não sabe ainda que estou tão perto, que vivo tão perto. Ele liga. Finjo que estou no banho sem atender. Deixa um recado e não manda mensagem. O recado é claro e assertivo, com a voz bem pontuada, bem pausada, em plena calma, como eu. Faz uma piada original no fim. Me sinto quentinha, acalentada e fico olhando o meu reflexo encolhida com a expressão feliz. E assustada.

Resolvo. Resolvo colocar Chico no som, "Todo o sentimento", aquela que me faz chorar e desejar o tempo da delicadeza. Está resolvido. Minha varanda, um chá com quadradinhos de chocolate Alpino para mim e Chico. Resolvi que não dá para fazer isso agora, que meu ventilador estava certo. É melhor não. Não agora. Senão essa minha calma vai fugir e meu desespero pelo mundo vai voltar e eu vou gostar dele e tentar loucamente amá-lo. Mas amar é para gente bem resolvida e isso não vai acontecer comigo agora. Ele sabe disso. Eu sei. Sabemos juntos. Até nisso ele me acerta em cheio.

Então, a melhor moça do mundo resolveu não ir agora. E o melhor homem do mundo vai entende-la como sempre. O telefone não tocou mais e uma mensagem de texto chegou explicando que tudo vai se resolver. Fico sorrindo. Só com ele dizendo, eu acredito.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

.pensamentos que rasgam.

ju mancin

d °_° b chega de saudade, joão gilberto

"Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste."

de repente o ar se agita, como se um pé de vento passasse, levantando a poeira guardada debaixo dos móveis, chacoalhando as cortinas, as miçangas. como se de longe, muito longe, chegassem respingos daquela tempestade. "é o universo, Juliana! é o universo conspirando em seu favor" insiste aquela voz misteriosa, que vive rebatendo as minhas solitárias indagações. "concordo", penso, "concordo com você, sra. voz misteriosa. é o universo em meu favor" e fecho os olhos e me entrego ao frescor dessa brisa que vem de longe. subo, acima das nuvens e me acomodo na mais fofa. [um tapete que flutua por aí]. tudo o que vejo, ali do alto, se parece com um quadro do monet. visito meus bons amigos. observo-os em silêncio, em seus afazeres cotidianos, sinto, como que em mim, seus anseios e suas angústias, sinto-os em mim. agora, deitada em minha nuvem, me acomodo melhor e vislumbro o céu acima do céu, de um azul atordoante, não mais nuvens sobre mim. uma imensidão cheia de vazio, um vazio cheio de ar. respiro. mais respingos, a longíqua tempestade vem chegando perto, o que era brisa, agora é vento. abro as portas, na esperança de ser arrastada pro olho do furacão [fugir do Kansas pra desejar voltar ao Kansas].

são variações do mesmo tema. tanto verbo pra pintar saudade, a palavra sem tradução!, dessa vez, é a tua saudade que me alcança, teu cheiro me invade, eu sorrio [sua saudade, assim como a minha, também independe do teu desejo frouxo de querer-me ou não-querer]. meu peito sorri! é como se sempre tivéssemos paris.

mais um cigarro. mais um café. e a chuva. a chuva na janela, jogando na vala todos os meus devaneios.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Quando flutua e voa



Lu Minami


Ouvindo: Evaporar
(Little Joy)


Inspiro um ar novo. Assim, fresco. Não muito quente e nem parado, mas uma leve brisa que levanta saias por aí, desarruma cabelos bem penteados, faz voar baixo, perto do chão, pequenas coisas abandonadas.

E assim espero seguir. Com alguma leveza, esperando que não seja uma leveza falsa, inventada assim por mim, só para evitar o sair-correndo-desesperada pelas vielas sem saída as quais estou acostumada. Sem grandes escaladas, sem tortuosas caminhadas [ah quanto drama], sem precisar esconder e aprisionar o meu medo de sempre. Nada disso.

Tô meio leve. Leve como vestidos bufantes, chinelinhos de palha, palavras bonitas escritas nos muros da minha cidade esperando serem lidas, primeiro cigarro, fins de tarde, começos de manhã, desenhos coloridos espalhados também aguardando serem pendurados numa parede que os mereça.

Às vezes vacilo, é verdade.

Tento procurar, sentir de novo aquele grito de dor que atravessou meu pulmão, transbordou e me deixou morrer afogada na lembrança de tudo. De tudo aquilo que durou tanto tempo e tanto espaço. Tento ainda sentir o cheiro daquela noite, o gosto daquele prato horroroso que você pediu e que ficou doce no momento em que você o tocou para logo em seguida transformar-se em fel borbulhante aqui dentro.

Mas não encontro. Sei lá.

Passei muito tempo cinza, gelada e azeda de podre. Passei muito tempo em forma de bile descartada, inútil, doente.

Tanto que não sei mais se vão conseguir me olhar de outro jeito, se acostumar com essa leveza flutuante furta-cor que estou cuidando com carinho e com quem estou aprendendo a ser atenciosa. Também não sei se vou conseguir.

Mas é coisa nova.

E eu adoro o novo.




quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

.paciência tem limite.

ju mancin

d °_° b essa boneca tem manual, vanessa da mata

...é que paciência tem limite. eu definitivamente não quero saber dos teus problemas, se você não quiser que eu saiba. também não quero seus medos, se não quiser dividi-los. insegurança, bah, já me basta a minha.

eu só quero você! inteiro. não dá pra ser pela metade. entende?

não adianta me colocar nalguma hora do seu dia, e achar que nessa pequeninice eu me encaixo. não adianta. te quero inteiro. matemática, pra mim, é mais ou é menos, nem me venha com divisões. eu não brinco com números na chave. na prova dos nove ou é número exato ou é INEXISTENTE.

sem essa de "quem sou?" ou "onde estou?". você é isso aí que está bem aqui, na minha frente, cravado na mente, na retina, no ouvido. você é isso que está em todos os meus sentidos. que me implora, em silêncio, uma migalha de mim. te dou. me entrego. mas por favor, não me fragmente. vou inteira de corpo, alma e papel [passado!]. não me peça silêncio. me assuma é só isso que eu espero do homem que enche minha cama, minha mesa e meu banho.

não queira ser forte. sem mim você não é nada. você não existe sem mim. e cale-se, por favor, quando eu estiver falando.

não marque horários.

não use clichês pra suas fugas.

se és covarde, assuma. adoro suas molecagens.

não minta. você não precisa. acredito em cada sussuro teu.

não jogue. você vai perder.

não tenha medo de brincar de amor, mas veja, brincadeira tem hora...e por deus, paciência tem limite!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

.divagações.

ju mancin

d °_° b, atiraste uma pedra, os doces bárbaros

eu deveria escrever um filme.

sempre penso isso. eu escrevo. escrevo o tempo inteiro, estórias em minha cabeça. tenho aqui dentro de mim todos os personagens de uma trama, não sei se drama ou tragicomédia. tenho em mim a puta, a santa, o padre, o corno, o deus-diabo-anjo-sapo. todos os elementos de um conto. são reis e rainhas, vilões e mocinhas. todos entrelaçados e devidamente postados em seus devidos lugares.

tenho os diálogos. [eu te amo! mais um café? cale-se para sempre! estou te deixando. um brinde à lua! eu não te amo mais]. os duelos. as derrotas e os mistérios necessários. tudo isso aqui, bem aqui. ouso dizer, que até os figurantes estão à postos pra fazer o que lhes for ordenado.

as trepadas são um capítulo à parte. homéricas, dignas de cinema. trinta minutos de cena [e sem cortes] com conversas picantes e sem pudor algum. pra que o espectador se esqueça, por essa miséria de tempo, daquela sopa rala que ele chama de "fazer amor ca patroa".

os cenários. a estrada, o casarão, o vilarejo, o hall do prédio, os bancos das praças, as luas e estrelas, os cometas, a cama redonda, os espelhos no teto, elevadores, a mesa da cozinha, o áquario, os botecos, sarjetas, varandas, as redes, os pomares, as vias congestionadas, semáforos vermelhos, redentores, torres, pontes, sotãos e os porões [que escondem segredos empoeirados].

a trilha sonora é repleta. muitos beatles e os rolling stones. samba chorado. choro sambado. tem a bossa [e a fossa!]. pras cenas de sexo, marvin gaye, barry white e o tim, claro, o tim maia gritando ao fundo [I don´t know what to do with myself] ou, o morphine duke ellington-miles davis-john coltrane seguindo a linha do jazz-fusion-afrodisíacos. o que chamam por aí de Tarantino Conection, bem me renderia um JuMancin Connection.

mas...

hoje é domingo. a sessão das dez já passou e meu roteiro pra hoje, um domingo quente e de lua, seria a história de um coração que parou por falta de inspiração.

acho que meu filme, hoje, seria um curta, bem curtinho... teria uma tela negra e nenhum ruído. assim permaneceria por 23 segundos e no final os dizeres: aqui jaz um coração!

.

.

somos matéria forjada à ferro, nascemos da água, vivemos no fogo, e morremos. em silêncio. seremos chorume. sejamos pó!!!

[e é o que tem pra hoje, oh monday, monday!!!]

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Contratos singelos

Lu Minami


Ouvindo: Bottle It Up
(Sara Bareilles)


Foi contagiante. Alguma coisa que me obrigou a sorrir, a estar feliz ou pelo menos, aliviada. Acho que você me cutucou, deu um tapinha no meu braço debochando da minha falta de graça.
.
E eu me achando tão séria, já que tinha quase uma década de anos a mais que você. Eu ali, com o corte novo do meu cabelo a cor nova que pintei, o vestido novo, a pele cheia de sol. Achando que o toque da minha mão no seu ombro já faria você quase terminar a sua noite. Um beijo, então... achei que correria até o banheiro para disfarçar essa coisa de homem em pele de menino.
.
Mas aí você soltou uma risada. Dessas redondas, de quem ri com o corpo todo, sacolejando bonito e despreocupado. Você é clichê com a camisa rosa e o cabelo caindo. Até seus olhos verdes são esperados.
.
Não quero clichê. Mas aí me lembro que não quero clichê chato, triste, solitário. Não quero guarda chuva vermelho na multidão cinza, cantoria sozinha no meio da avenida, mirada para as estrelas em noite quente, pensar em alguém que não se pensa faz tempo e chorar de raiva, bola de feno em dia cinza, encontrar aquela poesia na capa de algum livro de sebo, essas coisas.
.
Não quero.
.
Quero clichê feliz então.
.
De beijo na chuva, carro conversível na estrada com echarpe voando, campo de trigo em dia de sol, piquenique com toalha xadrez vermelha, mão dada no parque, dormir na sombra de um salgueiro numa tarde abafada, amor que dá certo.
.
Nesse clichê todo então, eu te proponho uma troca. Peço como quem não sabe pedir e então peço com os olhos. Te dou um riso e um beijo e você me dá essa calma alegre que você tem, que parece acabar com qualquer tormenta só de olhar. Me lê de vez em quando, não precisa ser sempre, para você não ter essa certeza de que sou uma moça triste. Briga comigo quando eu não estiver sorrindo com você, me abraça sem motivo, assim no meio de todo mundo, no meio do mundo. Me liga, diz que morre de saudade enquanto eu morro um pouco toda vez que você disser isso. Me manda cartas, mensagens, emails, cheios de promessas que não vai cumprir e que eu não sei dar valor. Senta do meu lado e pousa sua mão sobre a minha. Deita comigo e pousa tudo que você sente aqui dentro de mim. Ouça minhas bandas, leia meus livros. Eu não vou ler e nem ouvir as suas e os seus, mas vou dizer que sim e você vai acreditar. Me dá um pouco de você, dessa janela escancarada que você conserva para o mundo inteiro, me enche desse exagero, esse muito-mega-master-super que você tem com tudo e todos. É só isso, menino. Só isso que eu quero.
.
E em troca te dou um punhado disso tudo que pulsa aqui dentro sem serventia alguma, esse humorzinho difícil, esse mimo orgulhoso, essa mania de perseguição, essa vontade de pular em cima da cabeça dos outros, para tomar posse ou para destruir mesmo. Essa lama que fica se mexendo no meu estômago, que bloqueia a minha garganta e tapa meus ouvidos. Te dou minha insônia, onde podemos preencher com coisas minhas desesperadas e coisas suas, sempre leves. A gente vai caminhar pela chuva, pelo centro da cidade e eu vou te mostrar que na feiúra tem tudo de mais lindo, sem o vazio constante dos parques de diversão que você está acostumado. Eu vou ler para você a indiferença de Camus, o cru esbofeteado de Henry Miller e a saudade de Neruda. Vou assistir com você uma violência despudorada, cheia de coisas sem significados e que parecem tão importantes e que na verdade, nada são. Eu vou te mostrar um monte de gente grande e amargurada que fica assim porque um dia olharam para si no espelho e disseram: A vida é dura. Te dou um pouco disso tudo que é meu, você quer?
.
Você riu de novo, abriu os braços e me encaixou bem ali no seu peito, fazendo eu não me sentir pequena e maluca, mas fazendo eu me sentir do tamanho certo que eu devo ter, no meio dos seus braços e de um coração que eu já desconfiava ser grande demais. Grande demais.
.
Porque como todo clichê e como todo menino diz:
As coisas acontecem como devem ser.

.vou falar de maria.

ju mancin

d °_° b espero, pato fu

maria, maria

maria-mãe, maria das graças, maria desgraça, maria-fumaça

maria, maria

maria menina, maria fagueira, menina trigueira.

a doce maria cresceu comigo. só eu via maria. só eu nos olhos de maria, brilho via.

desde cedo em tardes solitárias, olhava de lado e lá tava maria, vestido de chita e de fita. sentada num canto, cantando. espelho na mão, flor no cabelo, cabelo nos ombros e os pés, os pés descalços brincando no chão de terra batida, ciranda, ciranda, ciranda-maria.

o tempo passando e a vida seguindo. eu crescendo e maria, maria sumindo.

e no peito tremores & medos & amores.

a noite, no fundo do velho terreiro, sentada no chão das cirandas, sozinha eu chorava. maria, que de longe me via, rindo, dizia: sorria, flor do dia!

aos poucos a vida me consumia, cachaça e cigarro em noite fria. maria partia. em busca da pureza de outras infâncias. maria, maria. menina-alegria.

eu sentia, sofria, mas aos poucos, de maria me esquecia.

.

.

.

.

hoje eu dormi. um sono pesado e sonhei. sonhei com maria. voltei ao terreiro, ao pé de manga, ao chão batido, à poeira vermelha que enchia os olhos e as narinas, e marcava um estranho desenho de arte abstrata em nossos rostos infantis. das chuvas, das flores e luares. chorei. chorei sozinha e de saudade. e em meus ouvidos agradecidos, como que truque de mágico, o eco das velhas palavras de minha imaginária amiga maria. sorria! sorria, flor do dia!!!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O novo

Lu Minami

Ouvindo: Adiós Nonino
(Astor Piazzola)


Naquela terra faz sol. O dia todo. Amanhece cedo e permanece assim por 15 horas.
Naquela terra, as pessoas contam cantando, andam despreocupadas, sem relógios e sem anotações. Só sorrisos e novidades. Tenras idades. Parece dia o dia todo, cheio de intenções novas, brilhantes, brancas e felizes.

Anoitecemos muito tarde e logo as luzes da cidade com as luzes do porto se acendem juntas. Sinto um cheiro permanente de salitre no ar e o mar quebra em ondas enormes nas pedras onde o sol se põe todos os dias. Olhando pela janela, que marola junto com o mar do porto indo e levando tudo ao redor de mim.

E venta. Sentimos o vento por toda a pele, orificios, cabelos, olhos, boca, o dia inteiro. Parece querer varrer tudo.

E então eu peço em meio a tormenta de vento que arrase com tudo aqui dentro de mim e depois jogue essa luz amarelada e rosada por cima.

Quase como um passe de benção. Um vento gelado sobe pela minha espinha. Não esqueço de jogar flores para Iemanjá e fazer minhas preces para o céu que sempre foi meu teto. Agradecer e pedir, olhos borrados no meio de tanto brilho. Também não esqueço de lançar beijos à Vênus e à Netuno, cuidadosamente juntos comigo todos os dias.

Peço muito. Agradeço pelo ano que se foi e peço pelo novo que acaba de chegar. E me lembro de não resistir e pedir uma coisa. Forte, única, que precisa voltar a pulsar dentro de mim. Só uma e minha, só minha.

Naquela terra, acreditei ser possível pedir algo tão grande e esperar ser atendida.

Um 2009 cheio disso, para todos.
Cheio de fé.
É tudo que [é] preciso.

.na estrada.

ju mancin

d °_° b trem pras estrelas, cazuza

esse post começa na estrada. nalgum ponto entre são paulo e jurupema. e não sei bem onde vai terminar, creio eu que em 2009. num ano novo.

esse post, como tudo em mim, começa na estrada e segue até que chegue o fim. da janela vejo pessoas, paisagens, nuvens e nuvens e nuvens. vejo sonhos deixados pra trás. sinto. sinto saudade, frio, medo. sinto solidão. já não mais dor. só saudade. muita saudade de todos aqueles ontens.

esse post é mais um daqueles, que dizem nada, dizem tudo. daqueles que escondem mais um de tantos dos meus segredos. isso me serve de escape, fujo um pouco da loucura a cada linha, a cada verso [sem rima].

entre verdes pastos uma bela pintura diante de mim. carros, placas, faixas. o céu me mostra o caminho. sim! num pé de vento, você vai me ver passar...porque meu bem, eu agora sei voar.

.

.

.

não sei porque você se foi. quantas saudades eu senti...

.

.

.

como eu havia imaginado, esse post que nasceu entre a babilônia e o jardim do éden, culminou aqui, entre as quatro paredes desse meu presídio doméstico, olhando as rachaduras, os livros na estante, a janela sem luar. enfim é ano novo!

sim, eu esperei virar o dígito, mesmo sabendo que o ano novo se faz dentro de mim, dessa vez apelei pros mitos populares, ainda que não tenha pulado as sete ondinhas, acendi vela pra iemanjá, rezei pra são jorge e joguei flores pras minhas antepassadas. vi o dia nascer feliz com um brinde ao que virá.

infinito o oito do dois mil e oito...

esse sim, será pra mim, o ano eterno. duras despedidas. o enterro das coisas findas e lindas. e a mais honesta de todas as minhas conclusões: RATOS NÃO VIRAM PRÍNCIPES!

Feliz Todos os Dias!

Site Meter