quarta-feira, 16 de abril de 2008

...vagabundos iluminados...

Jú Mancin

d °_° b a balada da arrasada, angela ro ro

eu já tive asas.
sobrevoei cidadelas.
vi sujeira,
monstros e médicos.
dormi com os anjos em nuvens quentes.
vislumbrei incandescentes becos, com seus ratos...
sobrevoei cidadelas e vi o amor dos homens [e dos bichos],
vi de cima, a loucura espreitando a próxima vítima.
dancei a suave valsa dos ébrios, embalada por vozes & risos & sopros...
mergulhei no abismo, confiante em minhas asas.
provei dos venenos da noite.
dormi com Lúcifer [da floresta].
sobrevoei cidadelas, e com nossas asas, falei com deus.
nasci&morri a cada dia,
ao som da sua balada,
embalada pela valsa dos anjos caídos
me perdi nos labirintos do nosso jardim secreto, e voei,
pra longe do mundo que nunca soube o que queria de mim.

Baile

Lu Minami


Ouvindo: Bem querer
(Chico Buarque)


Eu queria me fantasiar. Me deram de empréstimo uma asa de anjo quebrada. Fiquei olhando a pobrezinha, sem poder voar, coitada. Achei um vestido de puta no meu armário. Anos 50, colar de pérolas, salto agulha. Combina.

Condiz melhor com a condição. A condição de continuar sem saber o que fazer com o pouco que tenho e que poucos acham muito. Outros, muito pouco. Condiz melhor com a minha visão que fica embaçada e não enxerga nada. Há quem enxergue nessas remelas um pouco de brilho, enquanto coço os olhos para arrancar o rímel seco. Ficam vermelhos, borrados e me acham bonita quando estou triste. Empresta um pouco de vida à essa carcaça de falatórios, caminhos errados, encruzilhadas sem saída, portas fechadas.

A puta então, dos anos 50, desfila, com uma garrafa de cerveja já morna, as pernas descobertas depois de verem algum creme para disfarçar o ressecamento do sangue. Depois de tanto andar a esmo, entre fadas, jogadores, palhaços, personagens da minha infância, nada vê a não ser o reflexo de coisas perdidas além do seu reflexo no espelho enorme que mostra a pinta ao lado da boca feita grosseiramente com canetinha, essa que virou a continuação do sorriso sem sorrir. Nem a fantasia escondia.

De tudo, a única verdade foi aquele abraço.
E todos os limites de velocidade que foram ultrapassados, com a echarpe voando, as capas de livros sendo descoladas e jogadas longe.

Parece que estourei minha carta.
Mas sabe...
Vento no rosto ainda é uma das melhores coisas da vida.


... Que não vai haver adeus jamais
Há de responder com juras
Juras, juras, juras imorais
... Tome conta que ele sonhe em paz
Como alguém que lhe apagasse a luz
Vedasse a porta e abrisse o gás

quarta-feira, 9 de abril de 2008

desabafo

Lu Minami


Ouvindo: The way you look tonight
(Tony Bennett)


É a vontade.
A vontade que devora os 8 metros de intestino. A vontade que impera o pulso, bombeia o sangue. Sobe o sangue, desce o sangue, enrijece, cora, sua. Esse desejo insano que eu tenho de ter suas pernas desfilando sobre as minhas. A insensatez do hálito, o que faz em mim, dentro de mim, para mim, por mim. Da escada da entrada da sua casa eu vejo a chuva e as poças que lavam meus pés cansados, latejando de dor e saudade sua. E a água que escorre por debaixo da minha nuca, deixa nos seus olhos uma fotografia de mim frágil, pequena, procurando seu peito novamente. E nenhum bilhete.

É a vontade.
Que faz com que você telefone de madrugada, feliz, dançando pelas ruas da cidade, sob a lua que te deixa mais louco e lindo do que nunca. Que faz com que eu dirija kilometros para encontrar você, pelos cantos das esquinas, dos becos sem saída, das vilas fechadas, dos jardins pequenos e que faz abrir o portão que chora toda vez que eu entro e saio. Que me faz ir onde for, olhar todas as feiúras da sua vida noturna, rock and roll, couro, vinho barato. E nas feiúras, me sentir em casa ao enfrentar o deslumbre dos seus olhos azuis. Azuis enquanto eu vermelha, verde de fome. Faminta da conversa, das línguas.

É a vontade.
Que me faz acreditar que damos certo, estando errados. E que damos errado, quando tentamos fazer certo. O avesso do avesso do avesso. Avenida Ipiranga com a São João e a gratuidade das suas, das nossas meninas. Inútil dormir, a dor não passa. Nem essa febre.

Amo pouco e mesmo assim, é suficiente para mim e para você.
Você ama muito e não basta.

Você me perguntou o que somos.
Eu respondo: o que basta é isso... Isso tudo.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Barrett e os biscoitos...

Jú Mancin

d °_° b shine on you crazy diamond, pink floyd

"Não dê bola se eu te trancar num quarto uma semana
Não dê bola se eu te passar bolachas
Por debaixo da porta, sou que eu tô passando
Bolachas debaixo da porta, eu tô amando"
só podia! isso é coisa do Syd Barrett...
certa vez ele trancou a namorada num quarto por três dias e a alimentou com bolachas por debaixo da porta.
Love or confusion? Será que o Hendrix também se inspirou no Barrett? rs
Lunáticos do mundo: UNI-VOS!!!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

.pra mim é tudo ou nunca mais.

Ju Mancin

d °_° b edge of the world, faith no more

há muito que não se viam, aqueles dois.
a vida tinha mudado tanto pra eles, nem pareciam os mesmos, nunca mais rock n´roll num sábado à toa.
nunca mais até aquele dia, em que os dois se encontraram, bem ali, naquela esquina colorida.
ele sorriu de lado, ela estremeceu [ele não era tão charmoso!]
ele sacou e estremeceu [ela continua charmosa!]
beberam como há muito não faziam e fumaram e falaram...
e os dois esqueceram de suas vidas mudadas, se perderam em pequenos recortes de saudades, e no fim da noite, eram eles mesmos, os dois de sempre, que se viam todo dia, comiam, bebiam, dormiam e sonhavam, um com o outro sem nem nunca notar o quanto era grande aquilo tudo.
sussuraram segredos e se amaram, ali mesmo, naquela esquina colorida, uma vez mais antes de voltarem, cada qual pro seu mundo...
ao primeiro sinal de luz do sol, a realidade de duas vidas separadas pelo tempo e ao primeiro sinal de luz do sol uma saudade imensa!

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