Jú Mancin
d °_° b Nem tão óbvio, O Plágio
Entre lagos e vulcões, um tango aqui e um pisco ali, se pinta a América poética!
Entre tantos, Valparaíso continua sendo a minha favorita.
Não, não digeri toda a viagem ainda. As memórias ainda estão muito frescas e não me inspiram a escrever. Mas Neruda é sempre Neruda...
Aqui te amo.
En los oscuros pinos se desenreda el viento.
Fosforece la luna sobre las aguas errantes.
Andan días iguales persiguiendose.
Se desciñe la niebla en danzantes figuras.
Una gaivota de plata se desculega del ocaso.
A veces una vela. Altas, altas estrellas.
O la cruz negra de un barco.
Solo.
A veces amanezco, y hasta mi alma está húmeda.
Suena, resuena el mar lejano.
Este es un puerto.
Aqui te amo.
Aqui te amo y en vano te oculta el horizonte.
Te estoy amando aún entre estas frías cosas.
A veces van mis besos en esos barcos graves,
que corren por el mar hacia donde no llegan.
Ya me veo olvidado como estas viejas anclas.
Son más tristes los muelles cuando atraca la tarde.
Se fastiga mi vida inútilmente hambrienta.
Amo lo que no tengo. Estás tú tan distante.
quarta-feira, 11 de julho de 2007
América Poesia!
nhéc nhéc
Ouvindo: Rolling Stones prá cacete.
5h40 da manhã.
É, eu vi você saindo pela porta da frente. Pé ante pé, agachando-se para pegar o casaco, a meia, a carteira e o celular. Olhei por entre as cortinas do 7º andar e pensei se você ia tomar um banho e tirar o gosto e o cheiro meus impregnados em algum lugar do seu pescoço.
Ouvi o barulho angustiante dos seus pés no taco de madeira, perto do sofá. Parecia um olhar de desprezo, um leve acenar de uma mão só e as costas se virando para mim. Aquela parte do chão range demais. E ouvi o blam da porta e o clic da maçaneta.
Imaginei que horas seriam. Ah sim, 5h42. Olhei para o céu de novo. Azul escuro e lilás, uma luz estranha, meio morta e uns passarinhos chatos anunciando o dia novo ou aqueles que se despedem de mais uma noite, não sei. Aquele piado era dolorido demais. Começar ou terminar doía no fim das contas. O silencioso durante era melhor.
Vesti calças puídas, tênis e botei meu pulôver desfiado na manga para sair correndo atrás de você. Desci a rua, olhei para os lados e nada havia senão os de sempre, que nada têm a fazer domingo de madrugada a não ser andar para lugar algum.
Era para ser como naquele filme onde ela esquece de colocar as calças e sai correndo atrás do moço bem vestido, no frio, com trilha sonora de tudo-vai-dar-certo-no-final. Passei pela ponte, olhei as luminárias do centro envoltas numa neblina de poluição provavelmente. Nada londrino. Subi correndo a rua Augusta, você pega seu ônibus ali. Mas o que vi nos pontos foram as putas felizes por terem conseguido a grana do fim de semana, a galera saindo do Vegas e do Outs, os gays se abraçando felizes por mais uma trepada a caminho. Os casais de braços dados até chegarem no carro ou no metrô para então brigarem pelo mesmo motivo. “Você não me ama mais!”.
A avenida Paulista cheia de carros e eu olhei dentro de cada ônibus esperando encontrar teu rosto olhando para baixo, procurando alguma musica para cantarolar. Cante aquela do Rolling Stones, eu pedia numa vaga tentativa de ser telepática. Estava sendo patética na verdade. Talvez, só talvez, se eu conseguisse seguir o que minha mãe dizia quando eu era pequena “filha, pense com força, esforce-se que tudo dá certo”. Filhos não ouvem os pais, veio aquela voz metálica dentro da minha cabeça. Que merda...
Andei por toda a avenida, desci a Ministro, caí no Trianon. Haviam os miches de costume, que olhavam para mim e logo desistiam. “Essa maluca não quer a gente, quer só um”. Respiro aliviada o ar gelado e fresco misturado à um pouco de cheiro de esgoto e me sinto em casa. Volto aos poucos, sentindo cada passo meu, no asfalto e nas falhas da calçada; sinto cheiro de pão com perfume barato. Cigarro e aquele cheiro estranho de gelo seco que fica na roupa. Estadão lotado, pernil e gente para todo o lado.
Subo até o sétimo andar. Espero sentada no braço do sofá, observando meus pés brincarem com o ranger dos tacos.
Clic e blam. Meus olhos piscam meio úmidos na sua direção. Você canta baixinho aquela canção.
segunda-feira, 2 de julho de 2007
ViDa
Ouvindo: Black Rooster
(The Kills)
O que acontece entre você e eu não poderia ser explicado por Freud, Jung, Arnaldo Jabor, Nelson Rodrigues, Quiroga, Nietzsche, Chico Buarque, Paulo Coelho ou Xico Sá. Eu não sei por que falo com você e você não faz a mínima idéia do que está fazendo quando ensaia nossos encontros e as nossas musicas.
Existia um pavor mutuo que, no meu caso, já se foi. Eu já deixei de ter medo de algo com você. Mas parece que você ainda continua amedrontado com a idéia de bater de frente comigo e enfrentar todo o meu mundo, as paredes e portas de possibilidades. Você parece saber que o muro é frágil e pode ser facilmente derrubado para que outro seja construído e eu lhe dei todas as cópias das chaves e as britadeiras necessárias. Inclusive daquelas que nem imagino quais portas ou janelas abrem. E?
Se a minha insônia não tinha fundamento antes, agora ela habita minhas madrugadas com propriedade. E não que eu queira que você segure a minha mão para sempre e me conduza por um caminho de flores. Puta merda, não! Eu quero que suas mãos façam outras coisas e me conduzam para as estrelas, isso sim. Não é que eu queira suas pernas entrelaçadas nas minhas de manhã, preguiçosas e lânguidas. Não, eu quero que elas se debatam por cima de mim e que morram no fim da madrugada. Não preciso das suas juras de amor; eu quero só a sua respiração rápida no meu ouvido... isso sim seriam sinos cantando na minha cabeça. Não fale do meu ombro delicado e dos meus olhos profundos. Não são nada disso; eu e minhas partes só conspiramos a um único objetivo.
Não me trate como uma menina babaca, eu sei o que você pensa durante o banho. A única coisa que você precisa aceitar é que eu gostaria de estar nele para te fazer feliz. Entre amaciar seus joelhos e massagear suas costas de sabão.
Percebe? Ainda não?
Deixe os jantares sofisticados para se empanturrar de hot dog prensado em meio a detritos da semana passada na van de madrugada até não sobrar uma célula saudável dentro dos nossos estômagos. Vamos beber vinho ruim e pinga com mel até nosso fígado gritar, estirado na sarjeta de alguma calçada, em frente a algum boteco sujo e mal freqüentado. Venha me visitar em lençóis sujos e mal lavados, com cheiro barato de colônia de almíscar, para encontrarmos algum segundo de beleza. Vem me acompanhar em passeios no centro, os cinemas proibidos, fumar o proibido, encontrar o diferente, se alegrar com o inusitado e a pouca vergonha. Eu não acredito no seu terno, no seu palm top, no seu celular e nas suas reuniões. É tudo desculpa para não querer passar essa noite imunda comigo.
Diga um uníssono eu te amo com hora para morrer e acabar. Eu não ligo, eu diria que te amo também, até o sol voltar a nascer no asfalto desses prédios sem outdoors, cheio de pichações e palavrões. Eu vou embora e te deixo em paz, afinal minha capacidade para amar dura pouco. Pode me prensar na porta do banheiro da balada, com cheiro de vômito e frases na porta de meninas que viraram prostitutas e homens que preferiram à segurança de um pau ao cabelo perfumado da garota do colégio. Vamos mutilar as convenções, retalhar o pudor, arregaçar a política e a educação e convidar o inferno dos minutos daqueles sem esperança para habitar nossos neurônios e hormônios.
Uma noite apenas, ao som do injusto, da podridão, do barulho alto e desafinado. Paremos de desejar controlar a morte iminente. Façamos morrer nossas almas juntas. Só assim deve valer a pena