terça-feira, 19 de junho de 2007

pra sempre

Jú Mancin

d °_° b money jungle (o álbum), duke ellington with charles mingus & max roach

é nessas horas de noites em claro que tua imagem se pinta aos meus olhos.
não, não muito definida [já faz tanto tempo]
me surge teu olhar como tela impressionista. não importa, eu sei que é você me observando de algum ponto.
me sinto criança outra vez, que com medo, buscava a barra da tua saia, meu acalanto rendado.
quem dera pudessemos trocar vidas. a tua valia tanto.
a minha...
é só uma tela impressionista, quem dera fosse real.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

meu amor

Lu Minami

Ouvindo: nada.


Você era tão pequenininha e indefesa quando chegou em casa. Lembro que na primeira noite, eu dormi com você na lavanderia, porque a mamãe não queria de forma alguma que eu te levasse para o meu quarto.

Acho que foi nessa noite que a gente percebeu que ia ficar sempre juntas. Nas suas ninhadas, quando eu mesma fiz os partos. Nas suas travessuras quando comia todos os sapatos de quem tinha birra ou destruia o lixo só pra chamar a atenção, eu que te escondia ou te dava bronca.

A bolinha no corredor, os passeios, a coleira que machucava, a pose de brava e atrevida quando achou que podia enfrentar dois pastores belgas sozinha. Ou quando olhava de baixo prá cima, com ar de coitada, só para a gente não te levar para tomar vacina. O vento que você gostava quando estava no carro e punha a cabeça para fora para as orelhas esvoaçarem.

Quantas noites eu não desci de madrugada para a gente conversar sobre o meu coração partido e você, sonolenta, colocava a cabeça no meu colo para eu acariciar.

Quantas vezes eu te procurei pela sala para te colocar para dormir e descobri você quietinha debaixo da lareira.

Quando você chorou uma vez só de dor e raspou a porta pedindo ajuda, meu coração se partiu e eu não pude suportar ver você não conseguir levantar mais para brincar ou pedir comida.

E então, eu deixei você dormir para correr para sempre com seu casaquinho vermelho, sem dor, sem remédios e sem mais nenhum sofrimento.

Babie JunKie

Jú Mancin

d °_° b Blue Train, John Coltrane

Linda, olhos cor de mel, corpo esculpido no barro, desenhado.
Na alma, o vazio dos fantasmas esquecidos ao relento das frias madrugadas do leste.
No bolso, aspirinas, anfetaminas e um maço de cigarros. Vazio. Roupas sujas e botas surradas.
Pés inquietos que vagam pelas faixas de pedestres esburacadas. Semáforos frenéticos turbilham sua mente. Luzes coloridas confundem sua ânsia.
Os olhos serenos escondem a tormenta que vai no coração.
Lembranças, desejos, saudades, frio, sede [muita sede]. E o silêncio aterrador de sua própria cela solitária e úmida.
Um corpo que se move na inércia por entre corpos que não se vêem, cada qual em sua clausura.
Chuva fina na face. Aperta o passo. Mais lembranças.
Vozes sussurram tristes canções ao pé d’ouvido.
Infância, sorrisos, inocência, abraços.
Lágrimas.
Pelas veias, tal e qual seringa houvesse injetado, corre uma dor surda.
Enlouquece.
Se vê, eufórica, no reflexo da vitrine de um box sujo da zona comercial. Vislumbra um espectro com olhar de mercúrio.
Há dez passos do beco, já não contém as próprias pernas. Corre...
Merda! No money... aceita-me, senhor, em troca das asas do dragão...tomai-me e comei-me, esse é o meu corpo que é dado por vós [sagrada papoula]...
Feito!
Dispara contra a própria vida, em busca do banco do parque escuro. O velho banco das tardes ensolaradas, da música nos fones de ouvido, do primeiro baseado, das páginas do diário amarelado, das ilusões perdidas, de todos os porres, dos amores eternos-passageiros-enterrados, da inocência deixada de lado, de sexo desmedido, do primeiro pico. Hoje, o decadente banco de suas iniciais. Estremece, sente o corpo vibrar. Enfim, a cavalgada! A melhor de todas. Efêmera e eterna. Antes do último vôo, encontra forças pro epitáfio.
R.I.P
NO HOPE!!!
B.J.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

..inferno..

Lu Minami

Ouvindo: Santa Maria
(Gotan Project)


"Vá para o inferno", ele disse alto com as mãos que tremiam apontando para um lugar distante, os olhos ardidos e a baba rasa que escorria sem perceber pelo cantinho da boca.

Tinha começado assim o sonho. E bem que ela queria que fosse verdade quando acordou e viu que ele ainda permanecia ali, ao seu lado. Para o inferno? Era possível enviá-la para lá novamente se já residia nele, com jardim e tranca na porta?

Vivia o inferno dos dias pela metade. Não sorria direito, tinha dificuldade em andar, mal respirava. O que ela queria era economizar aquele tempo para estar perto dele, juntava pequenos goles de ar que o rodeavam para haver partes de oxigênio compartilhadas, andava diminuta para observar melhor os passos dele e sorria só para ele; o resto para si mesma e ninguém via.

Ela observava o mar de cilios pretos que batiam asas em seus olhos cheios de falsas ternuras. Ela acreditava na mentira do brilho, amava, gozava, aceitava, entendia. E por saber de cor todas as pintinhas que formavam o firmamento das costas largas e das bochechas pouco pálidas, perdia a hora do sono lembrando de cada uma delas, por onde sua língua já havia pousado e dançado diversas vezes. Sentia o pescoço pulsar, o sangue corria rápido demais quando ele chegava perto dela. A ponta do nariz gelado, por debaixo dos seus cabelos que ela tanto escovou; as mãos ao redor da cintura de maneira indelicada e sem carinho, enquanto a fitava de um jeito obsceno. Ela derramava uma lágrima cada vez que ele fazia isso. Mas sorria quando ele caia por cima dela finalmente, sorria por poder aninhá-lo em seus braços e sentir que ele precisava e gostava disso.

Vivia o inferno da dor e da humilhação. O inferno de amar acelerada e desenfreadamente. O inferno de não poder pensar nem querer. De mergulhar sem guardar no peito o ar da volta. De saber que vai morrer, de garrafa e copos vazios; de camas e travesseiros gelados; de caminhadas sem mãos para acompanhá-la.
Tanta razão boa de morrer e fora escolher justamente essa, injusta.

Talvez fosse melhor viver feliz no inferno. Enquanto ele levantava e deixava o dinheiro em cima do criado-mudo, ela pensava em seus jardins e portas abertas.

Que seja no inferno então.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Deus me livre!

Lu Minami


Ouvindo: Último Desejo
(Noel Rosa)


Ela queria mesmo o calor. Cansou do inverno e das noites em que ela ficou quieta no canto de sua cama, quase com medo da imensidão daqueles lençóis e dos dedinhos finos e gelados que a deixavam embaraçada e cheia de repulsa de si mesma.

Glorinha queria casar quando menina, de véu e grinalda. Tinha lá seus sonhos bobocas da vida pasmando na sua frente e ela tonta, sorrindo. Cresceu e agora passava maquiagem, ajeitava o cabelo e botava saia um pouco acima do joelho. Andava de salto e de bolsa a tiracolo, quando estava em rua diferente, gostava de rebolar na rua e de arrancar as frases de sacanagem de gente que nunca ia ter nada com ela. Pedreiro, motorista de caminhão, motoboy. Claro que não, só dou para quem for bom demais pra mim.

E sentia um calorão subindo entre as canelas e que quase levantava seu vestido quando percebia os olhos em sua direção. Mordia o lábio e precisava tomar um litro d´água gelada. Ai, minha santinha, o que está acontecendo comigo?

E seu namorado, Antônio que era mais santo do que os próprios castos, a levava no cinema e ficava de mão dada. E nada de mão boba, nada de beijo na nuca, chupão no ouvido. No escuro, Glorinha piorava. Sentia o rosto ficar quente e as pernas bambeavam. Ela bem que tentou outro dia, deixou cair a bolsa e quando voltou para a cadeira, encostou o rosto perto do cavalo da calça do moço e ainda por cima deu um jeito de esbarrar os seios no cotovelo do rapaz. Que nada, o menino suou frio e tremeu, escondeu o meio das pernas com a mão, mas ficou parado, olhando para a porra da tela branca.

Na outra vez, Glorinha não titubeou. Foi sem soutien e sem calcinha, mas sempre mantendo a linha de moça comportada. Saia preta até o joelho, camisa fechada no pescoço e uma blusa para combinar e esconder a falta das roupas intimas. Sua amiga Irene que tinha ensinado. Vai lá, Glorinha, na hora vc sabe como fazer. Se o Toninho fica com a mão dele grudada na sua durante o filme, fica fácil de escorregar para baixo. E ria, a amiga Irene, ensinando tudo para a Glorinha, menina mais nova e cheia de viço.

Foi o que Glorinha fez. No comecinho do filme, Glorinha puxou a mão do rapaz para debaixo das saias.
E, gelado:
- Glorinha, o que você está fazendo, criatura?
- Deixa de ser bobo, Toninho, ta escuro.
- Mas, mas.
- Calaboca, homem. Faz direito esse negócio aí. Mexe direito. Olha... bota tua outra mão aqui.
- .... glo..ri....
- shhhhh. Silencio, vai que alguém percebe?
- Chega!
Levantou, vermelho de irritação.
- Você enlouqueceu? Virou puta, foi?
- Você que não ta querendo ser homem, Antônio. – enquanto cruzava as pernas, pegava uma lixinha e olhava para as unhas branquinhas de leite.
- .... Vo-vo-você ta merecendo um tapa isso sim. – grita, gagueja e cospe o pobre Antônio.
Glorinha deu uma risadinha, levantou-se e foi embora.

Irene disse, entre gargalhadas, para Antônio que já estava de casamento marcado com uma beata chamada Clara:

- Ah Toninho... sua Glorinha é a rainha da classe proletária, meu filho. Você, filho de banqueiro, não deu conta do recado. Ela foi se ver com homem que pudesse segurar aquelas pernas e toda aquela carne.

O coitado e impotente do Antonio que nunca esqueceu Glorinha. A única que tinha conseguido fazer aquilo com ele no cinema.

E a pobre beata só dizia... Deus me livre!

...minha quase Itabira...

Jú Mancin

d °_ ° b Luar do sertão, Vicente Celestino

é que de onde eu venho se bebe assim, a três
às três e às seis se bebe também

de onde eu venho tem lua, tem poesia e boemia
tem amigos, saudades e abraços

de onde eu venho distância separa corpos
mas une corações em doces e eternas cantigas

tô voltando!

segunda-feira, 4 de junho de 2007

...morrer não dói...

Jú Mancin

d °_° b a good woman is hard to find, morphine

escotilha submersa. luz falha. fissuras nas paredes. mar bravio. mordaça. mãos e pés atados. maré enchendo. água entrando. eu no fundo.

ó acetone please leave me alone

...na terra do nunca...




Jú Mancin

d °_° b suck you dry, mudhoney

tinha camisa xadrez, tênis sujos, cabelos compridos
lua cheia
tinha moshes, pessoas voando
vida por todos os poros
guitarras histéricas e mais moshes
tinha saudades de outra vida

na terra do nunca os grunges nunca morrem!

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