E esse blog está rendendo mais do que eu e a Ju esperávamos. Agora a gente tem a participação de mais um colaborador com algo a dizer. O codinome é um show à parte. Síndrome é o novo nickname desta participação ilustre que, na minha opinião, tem idéias claras sobre o mundo, embora às vezes seja um pouco radical em suas teorias. Tudo bem, acho que se estivermos acompanhadas de um cigarro e de um café, vai dar para acompanhar. Só toma cuidado para não engasgar.
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Ouvindo: She, Green Day
Estava vindo trabalhar, super atrasada, porque fiquei com preguiça de levantar na hora por causa do frio. Peguei um trânsito fenomenal na marginal pinheiros e fiquei pensando nas reuniões que eu teria hoje e nos projetos que eu teria que terminar para apresentar para o meu chefe. Cronograma, metas, planejamento estratégico, patrocínios, enfim... estava pensando em ligar para cancelar algumas reuniões e imaginando como eu ia fazer para chegar até Campinas para outra reunião importante no meio da tarde.
Hoje meus neurônios estavam acelerados e eu pensava no que fazer à noite. Queria ir ao cinema sozinha, tomar um bom café e ler jornal. Se não fosse isso, jantar com alguns amigos e falar de trabalho.
No rádio, rolava a propaganda de algum banco e seus planos de crédito para quem não tem crédito. Em seguida, uma música bem antiga. Daquela época em que eu era rebelde, dava trabalho para meus pais e era o mau exemplo para a família. Uma música que eu cantei alto e que virou o hino de um tempo que não volta mais. Uma banda que hoje continua a fazer sucesso, mas na minha época o vocalista era mais louco, tinha cabelo verde e hoje, vive deprimido e usa delineador nos olhos para ainda parecer louco. Dentro do meu tailleur marrom - que eu peguei emprestado da minha mãe - eu cantei, me descabelei e gritei dentro daquele carro que eu queria que explodisse e me transportasse de volta para os pátios de colégio, para as fitas cassetes que a gente gravava aos montes e escutava o walkman na aula de matemática da professora mais chata da escola, ou na perua de volta para casa e para a frente da MTV, quando ela tinha aqueles BG´s toscos e coloridos, mas a programação era genial e a Astrid Fontanelle entendia de música.
Em três minutos de música, eu me vi de camisão xadrez amarrado na cintura, as brigas homéricas com a minha mãe por causa do som alto ou porque eu, com 14 anos, queria ficar até tarde na casa de um amigo, ouvindo aquele monte de música legal que só ele tinha e minha mãe, tadinha, vendo maldade na situação. Eu sinto saudades terríveis (terríveis porque me consomem) da época mais inocente da minha vida, onde os problemas eram outros; os amores eram possíveis, apesar de platônicos; era fácil ter ideais e idéias; eu sabia de cor toda a discografia e letras das músicas das minhas bandas preferidas; a vida adulta para nós era chata e distante, e eu não pensava estrategicamente. Pensava com o coração, agia com o coração e não dava sorrisinhos compreensivos e "ahans" acompanhados de piscadinhas para quem merecesse um "Vá à merda" bem uníssono e bem gritado.
Apesar de eu mandar muita gente à merda hoje em dia, fiquei um pouco frustrada de constatar que algumas vezes tenho gritado em silêncio para quem merece todos os alto-falantes de um bom show de rock na orelha, dizendo bem alto "Vá à merda" na voz do Billie Joe, Mike Patton, Kurt Cobain, Eddie Vedder, Layne Staley, Chris Cornell, Scott Weiland e Mark Arm, por exemplo.
Acho que as pessoas seriam mais desencanadas e menos medíocres com um berro nesses na cabeça, né?
Eu aumentei o volume no máximo, gritei como uma adolescente inconsequente e mandei todo mundo para aquele lugar.