quarta-feira, 5 de novembro de 2008

E bem no meio, pelos cantos

Lu Minami


Ouvindo: Off the Hook
(CSS)



Ah mas que coisa!
Coisa de quê? Questionava, enquanto caminhava meio tropeçando, meio caindo, meio de pé, meio quase deitado no meio da avenida, no meio do trânsito infernal. 9h da noite. Trânsito esquisito, meio mundo vem, meio mundo vai. Olha, vai vendo. Uns estão voltando do trabalho, esse aí coitado, cara de esgotado, cabelo já meio ensebado - deve ser a mistura de mão no cabelo para fazer charme e o choque do ar condicionado - gravata meio frouxa. A outra ali, toda arrumada. Saiu cedo do trabalho para passar na depilação antes porque ia sair com um rapazola. E ainda tomou um banho porque chegar ali perto com resto de cera não dá muito certo, o cara saca na hora. E deu risada, meio tropeçando pelos cantos da calçada. E calçada tem canto. Ô se tem. Tem canto desses malditos canteiros, cheio de árvore que esqueceu de crescer, mas se você olhar bem de pertinho vai perceber que a árvore tá velha, cheia de folha dura e empoeirada, tronquinho mijado, cerca de proteção esgarçada. Coitada, violada por algumas latinhas, bitucas, panfletos "não jogue em vias públicas", papel de bala, maço vazio de cigarro. Ali vem outro, deve estar indo para a academia. Tá com cara de animado e botou um som alto para mostrar parte dos musculos para a moça que vai buscar pão e para se animar para a aula de quê? De Pilates. Outra ali foi buscar a filha no balé. Dá para ver que foi buscar porque a menina tá com o coque meio caindo e 9h da noite para a frente não tem mais aula de balé para criança. Jazz. Salsa. Tango. Coisa de gente grande e velha já. Que prefere beber. E lá ia, meio bêbado, lembrou da meia garrafa que tinha guardado no canto da cama. Cama tem canto? Canta enquanto tenta dormir. Meio pela metade. Meio copo vazio. De meia esperança.

Bem no meio da cidade.

4 comentários:

Anônimo disse...

adorei isso!

li bem no meio da tarde, bem no meio do trampo...

amo-te!!!

Tiago Taron disse...

muito bom, música urbana, palavra urbana, gosto cada vez mais da vossa Babilónia, parece um filme de Jacques Tati sem som e em que ele não fosse francês.

Anônimo disse...

ah...esqueci de dizer...a música...

essa música...

OFF THE HOOK... I am off the hook!!!

adooooro!!!

Anônimo disse...

Os copos sempre estão meio cheios.
As "árvores" sempre são violadas.
E a aula de Pilates é pura vergonha alheia.

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