quarta-feira, 28 de setembro de 2005

A espera das coisas

Lu Minami


Ouvindo: O Vento, Los Hermanos

Vocês já devem ter percebido que esse blog é um pouco nostálgico às vezes, beirando a melancolia. Mas se vocês prestarem atenção, vão notar que sempre existe um fiozinho, ainda que um pouco apagado, de esperança. Esperança de que as coisas mudem afinal, mas nem tanto. Esperança de manter acesa a chama de uma infância que hoje não tem mais cabimento, mas que às vezes cabe muito bem, dentro das nossas histórias antigas e recentes.

Tudo na vida é esperar. Se você acha que eu estou sendo idiota ao dizer isso, eu repito. A gente vive a esperar pelo inevitável. A gente vive a esperar pelo fim das coisas. Pelo fim do mundo, pelo fim dos juros altos, pelo fim da miséria, pelo fim do consórcio, pelo fim da corrupção, pelo dia em que finalmente vamos decidir embarcar em um avião e conhecer o mundo, pelo fim de um relacionamento desgastado, pelo fim da vida, pela morte.

Tenho uma amiga que espera ansiosamente pela oportunidade de reviver as cores do mundo e esquecer suas dores. Ela decidiu pôr fim a um relacionamento que a arrastava pela vida e a deixava desbotada para o resto das pessoas. Demora a passar a dor do desapego, mas a vida há de contar a ela um final feliz, ao lado de pequenas felicidades, todos os dias. O que me conforta é que ela possui pernas muito saudáveis que vão levá-la cada vez mais longe, para perto de um grand finale.

Eu espero um dia que eu finalmente consiga superar a minha subjetividade e pare de viver dentro de um filme dirigido por mim mesma. O que é um tanto quanto estúpido, já que eu sou minha maior inimiga e que me coloca nas situações de dar inveja aos filmes de ação e terror de Hollywood. Eu espero parar de ensaiar diálogos surreais comigo mesma, esperando a chance de utilizá-los um dia para sair de alguma situação cabulosa, na qual, eu tenho certeza, eu vou me enfiar sozinha.

Outro amigo resolveu de repente que quer mudar tudo, inclusive sua opção sexual. A ilusão é realmente um poderoso veneno, ele disse para mim esses dias, enquanto tomávamos um café. "Auto-boicote", ele esbravejou. Eu sei, no meu coração imaturo, que ele espera a mesma coisa que eu: o dia em que ele vai amar de um jeito puro, de um jeito que ele entenda, para fugir das jogatinas amorosas rotineiras em que ele se aventura e sempre sai devendo ao outro parceiro e a si mesmo.

Eu acho que nós esperamos pelo dia em que iremos quitar essa dívida conosco.
(Quer saber? Acho que tô escutando muito Los Hermanos...)

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