terça-feira, 18 de dezembro de 2007

EU TE AMO, PORRA!

o Plágio

d *_* b Pixies

Queria te contar um sonho. Ontem à noite comi salada de berinjela com vinagre, devia ser meia noite. Acendi um cigarro, sentei–me num banquinho da área e fiquei olhando fixo para as grades da rua... escura e parada, sem pensar absolutamente em nada. Fiquei assim durante uns trinta segundos. Dei algumas tragadas e cocei o saco maquinalmente, atirei a guimba, balancei a cabeça e fui pro quarto. Peguei um livro de Charles Bukowski e comecei a ler. Depois de alguns capítulos fiquei abismado por me sentir tão parecido com Henry Chinaski. E percebi como meu trabalho está me imbecilizando. Notei o quanto tenho me tornado coisa. O quanto tenho adiado tudo. E que cada nervo do meu corpo está ficando condicionado a agir só em função de coisas como dinheiro, chaves, papéis e outras porcarias. Mas deixemos isso de lado, eu queria era contar do sonho que tive. Vamos lá então:

Fui ficando sonolento e não me lembro quando deixei que caísse de minhas mãos o Misto Quente. Deve Ter sido quase um desmaio, uma espécie de morte. Foi quando beijava tua boca loucamente como nos velhos tempos. E sentia que você era minha. Sentia-me forte e confiante. Sentia que era o dono da situação e, portanto, não estava nem ai. De repente você sorriu aquele seu riso inconfundível e me pegou pelas mãos. Foi me arrastando pra um lugar cheio de gente que eu não fazia idéia quem fosse. Você me dizia coisas sem parar num ritmo frenético e eu não entendia uma só palavra. Fui achando tudo muito estranho. Só piorou quando durante um átimo de tempo você sumiu, andei te procurando em meio aquela gente toda e logo te encontrei cercada por seguranças, homens negros sorridentes de dois metros de altura que me olhavam com escárnio e deviam me achar um bosta, o que me fez sentir-me isso mesmo. O que eu ia fazer? Naquele instante pensei que se tivesse um revólver mataria todo mundo naquela bosta, mas na verdade me sentia tão fraco que se tivesse mesmo uma arma provavelmente não conseguiria nem segurá-la e antes que eu me desse conta você apareceu em minha frente com um bebê no colo. Não dava pra saber se era o seu filho, pois era uma criança muito pequena. Você parecia preocupada e melancólica. Eu não tive reação mas me senti esquisito. Você me olhava como quem dizia – a vida é assim mesmo fazer o que?!... foi quando apareceram dois coroas , um casal, que pareciam ser conhecidos seus. Eles não falaram nada que eu me lembre, mas parece que eles queriam que fossemos para sua casa. Então eu te segui novamente você me puxando por uma das mãos. Eu ia sem saber pra onde, mas um pouco aliviado por sairmos dali. Havia um grande tumulto e quando passamos por uma janela lá estava debruçada Samantha Abreu, que não era mais escritora e sim nadadora que havia acabado de conquistar uma medalha de ouro nos jogos inter-regionais e todos a parabenizavam. Eu queria parar para falar com ela, mas você estava com pressa e me puxava... de repente eu hesitei e você sumiu mais uma vez na multidão. Samantha acenou para mim e fechou a janela para escapar daquela gente toda querendo se aproximar. Eu fiquei totalmente perdido. Não conhecia aquelas ruas. Todas estreitas e mal iluminadas. Fortes subidas por onde eu me arrastava sem forças para me mover. Sentia vontade de chorar, mas nem isso conseguia. Estava paralisado. Sentia medo. Sentia-me como uma criancinha que se perdeu dos pais nas ruas da cracolândia. Uns caras mal encarados vieram me pedir uns cigarros para fazer cinza e eu dei. Eles se mandaram me avisando que a polícia iria pintar por ali. Que merda de amor, eu pensava. Eu só queria acordar. Estava quente, eu rolava na cama. O ventilador estava quebrado. Eu sabia que era sonho...
O despertador tocou as quinze pras oito como de costume; e pensei novamente... que merda de amor.
Caguei, limpei o cu porcamente e dei a descarga. Bebi um copo de água provavelmente contaminada com coliformes fecais, vesti a máscara, acendi outro cigarro e fui pela rua do correio fumando e pensando; EU TE AMO, PORRA!

...bob zimmerman...

Jú Mancin

d °_° b karma police, john lennon

Adoro abrir o jornal de manhã e ler coisas desse tipo:

Bob Dylan vem ao Brasil em março, diz jornal
Músico deve fazer shows no Rio e em São Paulo
Bob Dylan vem ao Brasil em março para apresentações no Rio de Janeiro e em São Paulo, diz o jornal "Folha de S. Paulo" desta terça-feira, 18. Os lugares mais cotados para receber os shows são a Via Funchal, na capital paulista, e o Viva Rio, na carioca. Dia 15 de março, Bob Dylan se apresenta na Argentina. As datas brasileiras, segundo a publicação, ainda não estão confirmadas. O autor de "Blowing in the Wind", "Like a Rolling Stone" e outros clássicos já tocou duas vezes no Brasil: uma em 1990, no Hollywood Rock, e outra em 1998, abrindo para os Rolling Stones.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

2007/08

Lu Minami

Ouvindo: Evil
(Interpol)



Não consigo lembrar do último dia do ano passado.

Não por desconsideração a 2006, mas porque eu não esperei nada desse.

E por uma grata surpresa, esse ano foi relevante. Não digo que foi sensacional, porque nenhum ano é só isso. É sempre muito mais. Sempre há motivos para sorrir, chorar, gritar, enraivecer-se, festejar, ser estúpida, inconseqüente ou extremamente responsável e cuidadosa. Fui tudo isso, todos os dias. Fui doce e amarga, azeda e salgada.

Para variar, dezembro mantém a tradição de ser o mês mais esquisito do ano. As coisas simplesmente acontecem. Caralho, você trabalhou, se fudeu os 340 dias do ano para só entender agora, nos últimos 20 dias que, “tudo bem”, um dia dá certo. E, revoltada com essa decisão, eu fujo. Quase mandei uma carta a prefeitura para agradecer a retirada dos painéis e outdoors da cidade. Eu quase não lembro do Natal esse ano. Com a cidade limpa, fica mais fácil passar ileso.

Nesse mês, eu to fugindo. De fila, de shopping, de cartões virtuais, de transito, de emails pomposos e mentirosos, de presentes, de papais noéis, de estacionamentos, de 13º salário, de votos para a celebração do novo ano.

Pô, me deixa... me larga na rua, me deixa beber, não me deixa dormir, não me deixa perder mais um segundo enterrando meu pé no chão, mesmo que seja só por esse mês. Não me deixa ser certinha, não me deixa segurar o riso e nem as lágrimas. Não me deixa esperando, não me intimida que eu parto pra cima. Me deixa pensar que o bar se chama esperança e é o último que fecha e lá eu posso ficar até o carnaval chegar. Me deixa falar o que eu penso, mesmo estando errada. Me deixa dar para quem eu quiser, a hora que for, do jeito que for. Me deixa escrever baixarias na porta do banheiro. Me deixa catar bitucas de cigarro na calçada. Me deixa ver tudo e todos. Me tira o senso de maturidade. Me deixa de novo ser louca e deliciosamente imbecil. Me deixa achar que tenho razão e que a verdade é propriedade minha. E deixa, por esses dias, achar que entendo alguma coisa da vida. Ou não, que não entendo nada e que só vim passear a minha covardia. Me deixa ler poesias em voz alta. Me deixa acreditar no amor de novo e na humanidade. Me deixa achar que ainda tenho chance de ser feliz do jeito que eu quero, não do jeito que esperam que eu seja. Me deixa rasgar toda essa constituição de valores que eu carrego sem saber que carrego. Me deixa ser do jeito que meu pai quer, mas que minha mãe não acredita. Me deixa fazer as pazes com meu irmão, porque eu posso morrer hoje, mas não brigada com ele. Me deixa andar sozinha pelas ruas sem ninguém pensar se estou esperando alguém ou se estou infeliz e abandonada. Esquece que estou aqui, esquece a minha função. Dança comigo e planta flores na gente. Explode o mundo por mim e colore o universo que criei dentro de mim. Dorme comigo até as 5h da tarde. Não me deixa mais escrever sobre ele e afasta de mim a idéia de poder ser alguém completo com ele, e só com ele. Me deixa inventar histórias em paz, me deixa emprestar à minha vida fútil um pouco de encantamento, de ilusão.

Me deixa ser assim, 365 dias por ano, vivendo meu personagem secundário, que não quer os holofotes do palco, me deixa viver cada segundo de barulho, de caos, de preguiça, de amenidades, de estrelinhas durante o gozo, de profundidade, de arte e futebol, de toalhas de banho quentinhas com cheiro de amaciante, de lugares fechados e fétidos de podridão, de música, de calor e sol, de chuva e quietude.

De verdades e mentiras.
De vida todo dia.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Tiriteira

Lu Minami

Ouvindo: Don´t make me wait too long
(Barry White)



Ela morava entre a espada e a cruz, na encruzilhada de vontades que nunca soube controlar. Entre a meninice e a vulgaridade de um balcão de bar sujo, ela fazia seus amores. Sempre pensou que as pessoas passavam por ela e que ela ficava na vida das mesmas. Achava o mundo um brinquedo, as pessoas marionetes e se orgulhava de poder faze-las caminhar a favor de suas vontades ou desgostos para sentir algo. Era sempre amargo. A alegria de poucos segundos era ácida e a tristeza, sempre fora superficial demais para senti-la até o fim, para dar cabo de sua existencia.

Não se preocupava se não houvesse amanhã para acordar e cantar a vida. Não ligava se o mundo acabasse em guerra ou se crianças morriam de fome. Ela que precisava comer. Muito e descontroladamente. Sentia sede. Em meio às caronas que pegara nas estradas abandonadas, oferecendo seu corpo em troca de poucos kilometros, sua boca como pedágio de uma cidade para outra, ela parou num bar.

Ele caminhou em sua direção assim que ela entrou no bar e parou em sua frente. A fumaça do cigarro flutuou até sua boca. Nesse silêncio, ela avançou e recebeu um tabefe. Assustou-se e tomou outro. O olhar de furia recebeu um soco, enquanto o antigo equipamento de som tocava Barry White. Minutos ou horas depois, ensanguentada, ela esboçou um sorriso que lhe foi devolvido.

Amaram-se e ela sentiu a leveza pousar no seu peito. Dormiu a perder-se em sonhos de uma vida desgraçada e triste, onde ela sorria e carregava garrafas debaixo do braço. Acordou 2 dias depois, sem dor e sem espera.

Encontrou o caco que tanto procurou. O caco que não era de seu coração, agora já remendado. O caco que era de vidro e cortava a sua carne doce e os fios de sua marionete.

Finalmente livre.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

e quem um dia irá dizer...

Jú Mancin

d °_* b heavy metal do senhor, zeca baleiro

...ai moreno, viver é bom, esquece as penas vem morar comigo em Babylon...

Ela era um canalha. Ele, uma moça.
Ela cheia de boas intenções, tal e qual o inferno se vê cheio.
Ele não pensava nessas coisas, da vida, sabia que viver é preciso, mas tinha medo.

Ambos sabiam que o mundo é grande e ambos ignoravam que corredores são estreitos.
Os dois ali, dentro daquele minúsculo pedaço do mundo grande, nem desconfiavam da existência do acaso, que logo que entrou em cena já mostrou a que veio.

Ela, o canalha, caminhava devagar, sorrindo pro mundo, mascando chicletes e cantarolando um Stones qualquer. Ele, moça séria de família, caminhava seriamente, não sorria pra ninguém, tampouco mascava chicletes, tinha medo das cáries. Ele, também não cantarolava nada porque não gostava de música. Ele pensava, andava sério, preocupado com contas, era aspirante a administrador de empresas. Ela, haha, tava ali por acaso, estudava PU-BLI-CI-DA-DE, profissão descolada, cheia de gente bacana, cheia de gente disposta a comprar sua alma à prazo e repassá-la ao diabo, sem te avisar, é claro. Uma profissão de canalhas.

...e a lá ia a vida, cada um com seu cada qual...

Um dia, ela sorriu pra ele, ele rosnou pra ela. Pronto. Deu-se a desgraça.

Ele perdeu o sono por conta daqueles lábios e ela deixou de comer por aqueles dentes.
Ela começou a pensar em contas e ele em música. Ele perdeu o medo, ela ganhou vergonha na cara. De um sorriso pra uma flor foi questão de uns dias, da flor o encanto e a paixão e o amor [uma flor roxa que brota no coração dos ‘troxa’].

Tudo ficou confuso, ele era ela e ela era ele e os dois eram um, ela bebe e ele vomita, ele mente e ela acredita, ela canta e ele dança, eles se viraram no avesso, [às vezes parece até, que a gente deu um nó], ele chia, ela mia, ele mia, ela rosna...

Hoje, eles vivem em Babylon, ela alive like a rolling stone, de bar em bar até o sol raiar, faz samba e amor até mais tarde e volta exausta, pro colo do moça séria de família. E ele...bem, ele vai pra casa, dorme cedo, e dorme com medo, e tranca a porta, só pelo prazer de ouvi-la cantando no final...[joga a chave meu bem, que aqui fora tá ruim demais].

E quem um dia irá dizer que não existe razão?

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