sexta-feira, 23 de junho de 2006

Back to Neverland

Lu Minami

Ouvindo: Wild horses, Rolling Stones.

Parecia os velhos tempos. A noite, a rua, a cerveja... tudo tinha gosto e cheiro dos anos que já passaram.

Começou no sábado. Sabe como é, junta a galera na frente de casa, traz uma cerveja e uma tequila. Vira uma, duas, três, quatro! Alguém trouxe um taco de beiseball de criança para brincar e aquilo virou uma brincadeira bizarra, misturado ao relato confesso de um amigo durão que viu um filme suspeito do Alexandre Frota. Sem querer, é claro.

Para quê telefone, se existem walkie talkies? E para que se juntar em casa, se existe a rua, a música, a madrugada toda? Dava quase para ouvir os lostboys quase desaparecidos gritando: Dancem! Dancem! Pulem, rolem na grama!
Cá entre nós, a gente é bom em perceber esse tipo de recado e obedecer.

No domingo ressaqueado, amanhecido na dor de cabeça e no gosto de cabo de guarda chuva, a Copa do Mundo. Verde e amarelo. Churrasco e cerveja. Figurinhas e álbum da FIFA. Gol. Paqueras novas e antigas. Golaço. Discursos inflamados. Escapadinhas para buscar uma blusa, para pagar uma aposta, para tomar outra cerveja. Como se chama quem gosta de viver a vida de noite?
É, boêmios. Voltamos a ser boêmios e amigos, como nunca.

Durante a semana, outro jogo. Outra festa, um grande aniversário. Uma grande amiga. E tudo de novo, como anos atrás. Das risadas aos bons e velhos papos. Das músicas aos xavecos. Das alfinetadas esquecidas à esperança de ficar tudo igual sempre.

É assim mesmo. Quando a gente teima em crescer, Neverland nos puxa para dentro e nos oferece um cigarro e uma cervejinha.

Me diga você:
Dá para recusar?

E a gente grita, em coro: No fuckin way!

terça-feira, 20 de junho de 2006

Tem?

Lu Minami

Ouvindo: A night in Tunisia, Ella Fitzgerald.

Eu acordo em alguns dias muito feliz da vida e quando chego em casa, depois do trabalho, desato a chorar sem motivo. E não tem mesmo nada no meu dia que me faça triste de verdade, mas eu deito a cabeça no carpete e ouço alguma música triste dos meus Cds tristes e choro. Acho que é porque a vida é mesmo um drama e a gente fica se pregando peça o tempo todo.

Tem pessoas, por exemplo, que você sabe que ama, mas não quer mais ver por um tempo porque tem preguiça do jeito, das mesmas palavras e do corte seco que a voz dela causa no coração da gente. Como tem gente que você nem precisa ver para saber o quanto ela é importante.

Tem telefonemas que você esperou a eternidade para atender e quando você vê lá o nome piscando e dizendo "Por favor, me atenda", a única coisa que você quer é desligar e dormir em paz o resto da noite.

Tem dias que você acorda chorando e pode ter certeza: na véspera você passou da conta ou alguém exagerou e passou dos limites do aceitável com você. Então, permaneça na cama até o choro acabar e respire fundo e rápido durante alguns minutos. Tome uma aspirina e olhe rápido para o céu que com certeza vai ser azul, porque o mundo pode ser difícil e ingrato, mas não é maldoso e te quer mal.

Tem filmes que te colocam num mundo diferente e te fazem querer isso, aquilo, aquele lugar com aquela pessoa, naquele tempo, tomando aquele café e justamente, fumando aquele cigarro, depois daquele sexo. E quando você sai do cinema e olha para o lado pensa que tudo aquilo ali que te restou é o mundo e é muito melhor que Toscana, Sicília, Paris ou Ambroise naquela película amarelada e que te lembra um outono distante.

Tem madrugadas difíceis, onde você só encontra essa pessoa que não te entende e não sabe se encontrar dentro dos seus olhos e do seu estômago e insiste na possibilidade de continuar no mesmo lugar que está, sem ao menos um gesto de despedida. Mas daí, você que é corajosa, levanta rápido e olha para a noite fresca, azul-escuro e com cheiro de dama da noite a entrar pelas frestas de uma janela que adora que você debruce nela.

Tem tudo isso e tem muito mais.
Não tem?

Se tiver ou não... não é uma beleza?

Site Meter