Lu Minami
Ouvindo: A certain sadness
(Astrud Gilberto)
Quando você morreu, eu chorei. Fiz daquele jeito, que toda viúva faz. Acende uma vela, pede para ir com os anjos e que você viva a sua morte dentro de mim até o dia que eu esquecer os detalhes miúdos de quando a gente foi feliz.
O tempo passou e hoje, ouvindo essa música, penso na herança filha da puta que você me deixou. Porque eu preciso amar a imperfeição que me faz mal, que planta úlceras tão grandes quanto os olhares que você largou dentro da minha córnea?
Você é esse pedaço de ouro sujo, de trouxa, valioso só para mim, que contamina tudo que eu toco. A única coisa que você me faz sentir é dor, a qual eu já me acostumei e vivo meus passos por essa alameda de tempo, medida por neón, jantares, porres, depredação, perversão, risos altos, música descartável, café e amores expressos. Ando nessa alameda como uma homenagem ao seu universo, que não me deixou, diferente de você.
Guardo seu testamento e passo os olhos pela única linha escrita, depois de me dizer que eu era a sua rua sem saída... Leio-a todos os dias, entre as duas vírgulas mal colocadas, sobre a minha incapacidade de amar.
Se você ainda vivesse, diria que você foi a minha contramão.
Mas, fazer o que? Meu único caminho.
Em nome do pai, do filho e do raio que o parta.
3 comentários:
"café e amores expressos"
achei foda!
ha-ha, em nome do pai, do filho e do raio que o parta!
demais!!!
Eu acho que pirei
meus pés sairam do chão
eu posso até voar
segura o meu coração.
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