Jú Mancin
d °_* b andrea doria, legião urbana
Aos sete tive um sonho...
Chegava com meus pais numa festa da parte abastada da família. Era noite. A poucos passos da entrada, éramos abordados por um garoto, com 17 ou 18 anos no máximo. Um estranho, de olhos profundos, maltrapilho e sujo. Puxando no ombro um carrinho, desses que se usa para recolher papelão, carregado de papéis e sujeira. [A imagem desse garoto habitou minha mente por anos, não me lembro exatamente dos traços, mas me lembro dos cabelos, castanho-acobreado, desgrenhados...e dos olhos de cor indefinida entre o castanho e o verde, mas o olhar dele pesava sobre mim. Algo na voz dele me assombrava, era calma, musical. Era um estranho enigmático.] Eu tinha sete anos. Via-me ali, acuada atrás dos meus pais, como que prevendo o absurdo...
Sem muitas palavras meu pai pegou-me no colo, e estendeu-me para ele. O estranho assustador me tomou nos braços, gentilmente, me colocou em meio às quinquilharias que carregava em seu carro de catar papéis e se afastou lentamente.
A dor que eu senti naquele momento, num sonho, tenha sido talvez, a dor que eu jamais senti em sã consciência. Avistava meu pai de costas pra mim, entrando numa festa da família, todo o meu mundo estava ali, pra dentro daqueles portões que não cruzei. Vi, com assombro minha ilha da fantasia se perder na neblina. Quando não mais avistei a casa, a festa, olhei pro céu. Escuro. Pelas ruas mal iluminadas sentia meu corpo desfalecer. Nem lágrimas eu verti. Não podia acreditar naquilo...
Ao mesmo tempo em que eu temia aquele garoto, me sentia à vontade. Ele realmente gostava de mim, me queria com ele. Nós seguimos por ruas escuras e esburacadas. Juntos até não sei onde. Acordei.
Passei muito tempo tentando esquecer a náusea que aquele sonho me provocou, sempre que fechava os olhos me via sendo arrastada pra noite, por um magnético desconhecido.
Fui crescendo, até que um dia meus sonhos eram outros. Hormônios em ebulição. Eu gostava pacas dos garotos, esqueci o sonho e me ocupei com a adolescência, com o ginásio, me ocupei com música e fotografias. Aprendi a ler. Fui crescendo...
Um dia, já bem crescida, misturei malte destilado aos Stones.
POESIA! Estava ali o meu estranho de olhos profundos, encarando-me novamente, com o mesmo ardor. Meu anjo de asas negras. O rei de todos os ladrões. Minha passagem de ida para todas as estradas erradas. Minha noite estrelada. Minha carona num carrinho de carregar papéis. O veneno da serpente...
A dor que eu senti naquele momento, num sonho, tenha sido talvez, a dor que eu jamais senti em sã consciência. Avistava meu pai de costas pra mim, entrando numa festa da família, todo o meu mundo estava ali, pra dentro daqueles portões que não cruzei. Vi, com assombro minha ilha da fantasia se perder na neblina. Quando não mais avistei a casa, a festa, olhei pro céu. Escuro. Pelas ruas mal iluminadas sentia meu corpo desfalecer. Nem lágrimas eu verti. Não podia acreditar naquilo...
Ao mesmo tempo em que eu temia aquele garoto, me sentia à vontade. Ele realmente gostava de mim, me queria com ele. Nós seguimos por ruas escuras e esburacadas. Juntos até não sei onde. Acordei.
Passei muito tempo tentando esquecer a náusea que aquele sonho me provocou, sempre que fechava os olhos me via sendo arrastada pra noite, por um magnético desconhecido.
Fui crescendo, até que um dia meus sonhos eram outros. Hormônios em ebulição. Eu gostava pacas dos garotos, esqueci o sonho e me ocupei com a adolescência, com o ginásio, me ocupei com música e fotografias. Aprendi a ler. Fui crescendo...
Um dia, já bem crescida, misturei malte destilado aos Stones.
POESIA! Estava ali o meu estranho de olhos profundos, encarando-me novamente, com o mesmo ardor. Meu anjo de asas negras. O rei de todos os ladrões. Minha passagem de ida para todas as estradas erradas. Minha noite estrelada. Minha carona num carrinho de carregar papéis. O veneno da serpente...
Fim do meu enigma. Aquele garoto do meu sonho era Rimbaud, Leminski, Drummond, Espanca, Homero, Goethe (Werther morrendo de amor), Clarice, Shakeaspere e Pessoa. O estranho garoto que me roubou da minha vida era a poesia!
3 comentários:
"é o triste fim das folhas já mortas, abandonadas pelos teus pés"
Be careful wiht your dreams. they are dangerous.
where is my mind???
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