ju mancin
d °_° b mr. Gallo, cat power
“Ele nunca balança, ele pega na lança, ele mata o dragão”
Aqueles olhos de gato que te
tiram o sono quando você quer dormir.
Um sorriso safado dizendo “vem” e a voz rouca, cantando um verso
daqueles dos mais sem-vergonha.
Aquelas mãos, que mesmo quietas [e sacanas na medida], provam que ele
sabe exatamente em que cumbuca está enfiando os dedos.
Um jeito charmoso de acender um
cigarro, que de veneno vira mel...
E aquela certeza que ele tem ao
dizer coisas sobre você, que nem você é capaz de enxergar. E quando enxerga,
esconde...
Aquele ar de quem não liga, que
liga quando ela não espera. [e que ela
não atende por distração, por não esperar que o improvável mude de lado]
Fúria que desassossega.
E às vezes silêncio, dizendo “PARE! Você não sabe onde está pisando”.
Um alarme discreto e incessante, gritando “PERIGO!” seguido de um afago na alma e
um sorriso sincero, como quem avisa que amigo é.
E aquele jeito de ser amigo, de
dizer a verdade mesmo quando a verdade não precisa ser dita. Aquele jeito que
agrega valor a algo que bem poderia [e deveria]
ser efêmero.
Ou quando mente que diz a verdade
que aqueles olhos traiçoeiros desmentem só pra confundir.
E a cara de sono que prova que ele
é terreno e não desceu de uma estrela ou saiu de um sonho bobo que ela sonhou acordada
em uma madrugada virada em cachaça.
Aquele ar de justiça a qualquer
custo e o tom de ameaça que usa quando diz “é só meu jeito...”
Um jeito besta de gostar do que ela
gosta e de apagar, ainda que por instantes, uma dor que ela chama de adeus.
Isso é coisa daqueles olhos de
gato...
[que Jorge te guarde!]
Texto inspirado por um Arlequim da Commedia dell’Arte
E dedicado a um malandro do Chico Buarque
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