terça-feira, 22 de maio de 2012

.filho.de.ogum.


ju mancin

“Ele nunca balança, ele pega na lança, ele mata o dragão”


Aqueles olhos de gato que te tiram o sono quando você quer dormir.

Um sorriso safado dizendo “vem” e a voz rouca, cantando um verso daqueles dos mais sem-vergonha.

Aquelas mãos, que mesmo quietas [e sacanas na medida], provam que ele sabe exatamente em que cumbuca está enfiando os dedos.

Um jeito charmoso de acender um cigarro, que de veneno vira mel...

E aquela certeza que ele tem ao dizer coisas sobre você, que nem você é capaz de enxergar. E quando enxerga, esconde...

Aquele ar de quem não liga, que liga quando ela não espera. [e que ela não atende por distração, por não esperar que o improvável mude de lado]

Fúria que desassossega.

E às vezes silêncio, dizendo “PARE! Você não sabe onde está pisando”. Um alarme discreto e incessante, gritando “PERIGO!” seguido de um afago na alma e um sorriso sincero, como quem avisa que amigo é.

E aquele jeito de ser amigo, de dizer a verdade mesmo quando a verdade não precisa ser dita. Aquele jeito que agrega valor a algo que bem poderia [e deveria] ser efêmero.

Ou quando mente que diz a verdade que aqueles olhos traiçoeiros desmentem só pra confundir.

E a cara de sono que prova que ele é terreno e não desceu de uma estrela ou saiu de um sonho bobo que ela sonhou acordada em uma madrugada virada em cachaça.

Aquele ar de justiça a qualquer custo e o tom de ameaça que usa quando diz “é só meu jeito...”

Um jeito besta de gostar do que ela gosta e de apagar, ainda que por instantes, uma dor que ela chama de adeus.

Isso é coisa daqueles olhos de gato...
[que Jorge te guarde!]


Texto inspirado por um Arlequim da Commedia dell’Arte
E dedicado a um malandro do Chico Buarque

Nenhum comentário:

Site Meter