Era demais, como nunca talvez tivesse sido. Olhares que se encontravam, mãos que retorciam uma nas outras procurando calejar as linhas cansadas da vida, acabar logo com aquilo. Ela ficou um tempo olhando a noite que abraçava a cidade num céu rosa alaranjado e quente, quase amável... para se tornar em seguida negro e cheio de promessas vãs. Pensou, amou com o peito que doía aquela história que tinha acabado. E ficou com medo de amar a próxima. Olhou de novo para ele, do outro lado da sala, que arrumava um disco apropriado para ela. Ela pensou: Ella. Ele pôs Louis. E o pavor tomou conta de cada célula que tremia de frio e pedia um abraço forte que a envolvesse até o ar acabar e o mundo voltasse a ser o que era antes, tóxico e morto, prestes a criar vida novamente. Era mais fácil dizer que gostava de Duke então. Mas isso só faria com que ele a quisesse mais ainda. E se ela batesse nele? Eles se amariam na fúria do outro. E se ela contasse sobre o outro? Ele nada diria e a beijaria, sua nuca ficaria arrepiada e ela ia sim se entregar, sem dó nem piedade de si mesma. Bastava dizer que odiava aquele quadro e ele o tiraria da parede para sempre. E se citasse que o amor era liquido e efêmero, ele a possuiria mais forte e intensamente do que nunca. Se ela pisasse no coração dele, miúdo e despreparado, ele jamais a deixaria. Se ela fosse embora, ele iria atrás.
Então ela disse: Eu te amo. E tudo acabou.
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