segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O despertar

Lu Minami

Ouvindo: Cry me a river
(Lulu & Jeff Beck)


Foi quando ela sentiu de novo aquele arrombo no peito, que acelerou a pressão do sangue, deixou suas pernas sem suporte e quase caiu de joelhos no meio da rua.


O vento quente subia pelas pernas, subia as saias, fazia o verão finalmente aparecer por entre seus dedos brancos de porcelana, sentia inchar as juntas, incapacitada de se mover.  


O vento cantava, sem cortar a pele, finalmente. Depois de tanto frio, o calor. Ah, o calor. Aquele que sempre a fazia perder o juízo e a memória. 


Era quase como queimar as canelas enquanto andava nos acostamentos da estrada, dedo em riste, pedindo carona, sinalizando que está tudo bem, tudo jóia... [ei, vamos esquecer tudo].


Ele tinha dito que a amava, que não podia ficar sem ouvir sua voz, seu toque, seu desespero, sua agonia, sua dependência tão disfarçada de berros, de gritos e revoltas com hálito de álcool. 


Mas ele se fora, no entanto. Deixou-a sozinha, sem espaço, sem muleta, sem tempo, sem uma mão para lhe acompanhar por tantas estradas desconhecidas e outras já tão familiares e terrivelmente apavorantes.  


E ela não teve escolha senão caminhar, caminhar por entre tantas ruas frescas em busca da sombra, dos desenhos recortados, das frases desenhadas, dos copos brindando pelo ar, dos cheiros tão característicos da nova estação que se aproximava. 


E então ela em sua caminhava sentiu a brisa suave da primavera que vinha renovar e florescer tudo de novo, antes que o verão chegasse com as flores mortas no chão. 


Quase contente, sorriu. 

Quase aliviada percebeu que na primavera, tudo acontece. 

Tudo de novo. 


I remember all that you said
Told me love was to plebeian
Told me you were through with me
Now you say you love me
Well, just to prove you do
Cry me a river
I cried a river over you

3 comentários:

Anônimo disse...

bom como uma sombra no calor da tarde.

Desafinado.

L disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
L disse...

Simples, direto. A beleza não é geométrica, ela é irregular. A maior prova disso é que algo realmente belo é circunstancial. A idéia da imortalidade de um segundo, por fim...

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