terça-feira, 7 de agosto de 2007

Entre Peter e Alice

Lu Minami

Ouvindo: Beautiful
(Belle and Sebastian
)


27 anos, pseudo-formada. Alguma coisa que possa se chamar de carreira. Passados os anos de bobeira e bebedeira desenfreada quando ainda dava para pagar uns micos, a prestação. Eu ainda tenho meus ímpetos infantis, mas não passa disso: criança brincando. Alguns relacionamentos falidos, algumas mágoas grandes e traumas quase irrecuperáveis. A vontade de casar e o relogio biologico querendo tocar o alarme. Apesar disso, eu me auto-saboto e atraso os minutos, as horas, os dias e os anos. Ainda gosto do all star, do rabo de cavalo, da falta de maquiagem, dos pulos em poças de lama. Ainda gosto de dançar igual à Uma Thurman e tentar lembrar da coreografia de Thriller. Gosto de palavrão, de ver desenho e de tentar brincar com o skate apodrecido que ainda mora no quartinho esquecido dos fundos.

Deve ser por isso que eu ainda acho que posso me encantar platonicamente por alguém que eu nunca vi. Não é como antes, que eu comprava os posters dos garotos propaganda, dos caras das bandas bregas, dos atores de novela e deixava a minha baba escorrer pateticamente, num mundo criado só para mim. Não é para tanto, mas é um pouco assim.

Eu gostei do seu cabelo, do seu sorriso, da sua pele clara que tem pelo na perna e não tem no braço. Eu gostei do riso fácil e das sobrancelhas arqueadas, que viram caretas sensacionais. Eu gostei do seu cheiro, deu prá adivinhar. Eu gostei do calorzinho gostoso que deve ter sua pele, seu peito, seu abraço. Eu gostei até da barba, que deve ser macia. Eu gostei de mim quando vi você. Fazia tanto tempo que isso não acontecia que comecei a rir sozinha sem ninguém entender, a não ser uma partezinha que já estava esquecida dentro de mim. Por trás de toda essa capacidade que eu tenho de não amar ninguém e essa carcaça dura e gelada, esqueci que ainda dá para se encantar e amornar. E você é só um menino, oras. Eu gostei de tudo que você gosta. Eu sei que você deve ter alargadores e tatuagens e talvez cabelo colorido, mas e daí? Eu sei que vou achar tudo lindo. Depois a gente resolve como fazer quando você for no clube com meus pais no domingo. Eu gostei de tudo que eu ainda não conheço, mas sei que você vai me mostrar, assim como eu também devo te ensinar alguma coisa sobre qualquer coisa, isso se você já não souber o bastante. Eu queria me vangloriar de ter lido algumas coisas legais, mas sabe, acho que vou ler para você dormir numa cama nossa grande e espaçosa. Eu gostei das suas fotos, o jeito como olha as coisas. Acho que vou gostar do jeito que você vai olhar para mim um dia e, mesmo que eu seja míope e estrábica, garanto que nessa hora, minha visão vai se tornar clara e iluminada.


Mas vê lá. Você é criação minha, exclusivamente minha e qualquer sósia que eu veja por aí carregando suas camisetas e mochilas no corpo, talvez seja de novo absorvido pela incapacidade que eu tenho de construir coisas eternas.

4 comentários:

ju e lu [e vice-versa] disse...

Hahaha...

Eu adoro essa nossa capacidade de criar o que não existe...

Fiquei imaginando um sujeitinho de alargadores nas orelhas, mochila rasgada nas costas, cabelos desgrenhados e levemente alaranjado nas pontas, indo jogar tênis no clube no domingo com os teus pais...

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!

VIVA O AMOR PLATÔNICO!

Jú Mancin

Anônimo disse...

Aposto que vc tá pensando num japonês qualquer, daqueles que moram no Japão e fazem de tudo para não ser confundidos com os outros

Anônimo disse...

abraça o capeta!

GMacin disse...

I know exectaly what you`re talking about...

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