Caminhávamos por um desses caminhos estreitos cheios de barro e matos daninhos que podiam ou não irritar a pele. Naquele momento, a única coisa que irritava e ardia febril em mim era o seu andar lado a lado. Me incomodava muito essa coisa do caminhar juntos para a mesma direção, para viver junto por tempo determinado de antemão. Na verdade, não era o viver que me incomodava. Era a presença constante e enorme da sombra que você fazia em cima de mim e a minha, diminuta, que se projetava sobre seus olhos. Não podia vê-los mais.
Hoje, o silêncio como companhia bastarda das nossas mãos entrelaçadas. Essa quietude de uma tonelada, abortada por não suportar viver dentro da gente, serpenteando por entre as pernas e em tudo o que faz cheiro na minha pele. E não há nada nessa caminhada que justifique a calma que sua respiração provoca. Nem porque meus olhos sempre fechados e insones ficam tão alertas quando percebo essa tranquilidade, esse sono. Presta atenção, eu não te amo não. Não por defesa, mas por preguiça. A preguiça estirada da tua sombra me livrando desse calor de matar o verão e os bichos que voam para morrer em nossa janela. Essa preguiça que dá sede e que a gente mata no copo transparente um do outro, encostado em portas de bar e em ruas sujas da nossa cidade castigada por essa chuva sem trégua, que barreia ainda mais toda a terra firme que eu juntei no meu peito por tanto e tanto tempo. Respiro. Uma preguiça imensa de dar forma, definir e tornar um algo único, feito pela minha e pela sua mão... uma preguiça tão grande que só me resta andar e andar até a próxima sombra, o próximo gole, o próximo verão.
2 comentários:
ai que preguiça! rs
"não suportar viver dentro da gente" ... mas por preguiça, a gente vai mantendo a mesma casca.
Muito bom, Lu
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