terça-feira, 7 de abril de 2009

Uma canção sem dono

Lu Minami



Ouvindo: Verano Porteño

(Astor Piazzola)



Eu queria, precisava de novo, apesar de tudo.


Foi sem querer que adquiri um novo vício. Caminho pelas ruas dedilhando notas musicais fantasmas do que fora um dia a canção que lembrava somente ele. Pareço louca, buscando notas em um piano imaginário e flutuante. Fico como se fosse pianista erudita ou então como se estivesse numa peça de ballet, uma estória inventada, vestidos longos, desespero, galanteios, doçuras e tragédias. 


Ainda é a minha música favorita, aquela que preenchia os instantes de desejo, de calor, de tristeza e perda. E não dava para perder aquela linda canção, a voz perfeita, quase muda, cheia de intenções veladas, de significados oblíquos, de frases escancaradas.


Eu precisava de um novo dono para aquelas notas treinadas no ar, um novo sentido, o velho ar de loucura. 


Estou apaixonada. Pelo manobrista do bar lotado que me olha como se andasse nua pela rua [olhando a lua], pelo velho que empalha cadeiras e trabalha numa oficina cheia de velhas cadeiras sem assento, sem encosto, cheia de vasinhos de violeta. Pelo vendedor da livraria, que gosta de mim só porque eu gosto de quadrinhos sacanas. Pelo jornaleiro e pelo porteiro: "Bom dia, dona Luciana, que lindo dia!". Pelo menino da bicicleta que fila um cigarro meu toda vez que paro para ver o pôr do sol. Pelo moço do programa da televisão que disse que eu era linda que doía os olhos. 


Por você? Nunca mais. 


Confesso. Tentei gostar de novo, chorar mais um pouco, sentir saudade, beber à você. Cavei em busca de algo que parecia estar apenas soterrado. Mas tudo me parece rancoroso demais. Foi sem querer que deixei de te amar, é verdade. Tão simples e tão pouco, que nem parecia real. 


Foi quase sem dor que a canção que um dia levava seu nome virou anônima nos meus discos, que eu cantava com alegria descompromissada no chuveiro e nem ligava quando ela tocava no rádio. 


Mas ainda a amo tanto. 

Mesmo que eu não ache um novo nome para ela, ainda vai lembrar a mim mesma por muito tempo. 


6 comentários:

ju mancin disse...

tu-ru-tum-tsss...
na mosca, lu!

minha vez de dizer q qdo eu crescer, quero escrever assim, q nem gente grande...
e gsus...será q um dia eu vou acordar e dizer "por você. nunca mais"?

só de pensar já me sinto melhor...
mas o fim do fundo ainda tá longe...
por hora só me basta desejar que entre mortos e feridos, salvem-se todos!

lindo, lu! lindo!!!

Lu M. disse...

Ainda bem que o fim do fundo está longe. Nosso poço é igual ao buraco do coelho da Alice.

A gente flutua nele, Ju. rs...

Esse dia chega, dear. Ah, chega.
Ninguém merece se manter fadado a uma só canção. Cá entre nós? Eu acho que enjoa... rs....

beijo

Anônimo disse...

Eu sou o manobrista!!!!

Paraíba, tah aqui meu cartão!

8877-5569

Beijo e me liga.

Niela Bittencourt disse...

sabe o que eu mais gosto daqui?
é quando eu vejo que o blog está atualizado e penso: "será que hoje é dia de ler ju ou lu?"

e o mais bacana ainda é essa sensação de que um texto complementa o outro, e faz desse blog tudibom...

ju é sutil e agressiva em seus textos, é perturbador ler seus devaneios...
lu é sutil, agressiva, perturbadora e a'lu'cinógena...

eu que quero ser que nem vocês quando eu crescer!

ju mancin disse...

bah, japa!
nóis somo sucesso!

sensacional!

valeeeeu, Niela!

Lu M. disse...

rs... Obrigada flor-niela!
Adoro saber que vc vem aqui sempre!

Um beijo
Lu

ps.: tchucao, eh nois! hehehe

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