Ouvindo: High and Dry
(Radiohead)
Caminho, caminho, surdo, calo, cego.
To assim, aleijada, incapaz de mover um dedo na direção do que pode um dia me dar a chance de botar felicidade no peito trancado por dentro. Chave jogada no penhasco que insiste em morar entre meu dentro e o meu fora.
Meio autista, sabe? Vivendo num mundinho que só eu entendo que a raiva não mora, que a impotência não dita. Lá, aqui, agora, sempre, vou vivendo no meu universo de cores que eu desejo serem desbotadas, refletindo a minha palidez constante, mesmo com a pele amorenada do sol.
Aqui fora, to atropelando gente, pudores pudicos, assassinando a boa moça que sou, mutilando a bondade dos meus olhos, destrinchando com um quase-prazer a gentileza e o brilho dos meus sapatos que no fim do dia, não me levam a lugar nenhuma.
Esperança, moça, creia. Tenha alguma fé no gelo e na pedra.
Não me dirigem mais olhares de vontade, de simpatia, de verdade. Eu desejei tanto isso. Dirigir minha realeza inteira para acabar com todos. Acabei.
E perdendo o trono, tudo e todos, não quero mais olhar para trás.
Me diz porque não to me sentindo mal sendo autista, aleijada, filhadaputa e odiada?