Lu Minami
Ouvindo: Don´t make me wait too long
(Barry White)
Ela morava entre a espada e a cruz, na encruzilhada de vontades que nunca soube controlar. Entre a meninice e a vulgaridade de um balcão de bar sujo, ela fazia seus amores. Sempre pensou que as pessoas passavam por ela e que ela ficava na vida das mesmas. Achava o mundo um brinquedo, as pessoas marionetes e se orgulhava de poder faze-las caminhar a favor de suas vontades ou desgostos para sentir algo. Era sempre amargo. A alegria de poucos segundos era ácida e a tristeza, sempre fora superficial demais para senti-la até o fim, para dar cabo de sua existencia.
Não se preocupava se não houvesse amanhã para acordar e cantar a vida. Não ligava se o mundo acabasse em guerra ou se crianças morriam de fome. Ela que precisava comer. Muito e descontroladamente. Sentia sede. Em meio às caronas que pegara nas estradas abandonadas, oferecendo seu corpo em troca de poucos kilometros, sua boca como pedágio de uma cidade para outra, ela parou num bar.
Ele caminhou em sua direção assim que ela entrou no bar e parou em sua frente. A fumaça do cigarro flutuou até sua boca. Nesse silêncio, ela avançou e recebeu um tabefe. Assustou-se e tomou outro. O olhar de furia recebeu um soco, enquanto o antigo equipamento de som tocava Barry White. Minutos ou horas depois, ensanguentada, ela esboçou um sorriso que lhe foi devolvido.
Amaram-se e ela sentiu a leveza pousar no seu peito. Dormiu a perder-se em sonhos de uma vida desgraçada e triste, onde ela sorria e carregava garrafas debaixo do braço. Acordou 2 dias depois, sem dor e sem espera.
Encontrou o caco que tanto procurou. O caco que não era de seu coração, agora já remendado. O caco que era de vidro e cortava a sua carne doce e os fios de sua marionete.
Finalmente livre.
2 comentários:
ai.. doeu
Uma puta, alcóolatra, maconheira e viciada em ecstasy. Era isso que ela era.
Beijos, Japa.
Poli
(www.polinesio.zip.net)
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