Lu Minami
Ouvindo: Sur Le Fil
(Yann Tiersen)
Vocês, que acham que podem engolir o mundo todo, definam a palavra sublime.
Não, não é uma marca de papel higiênico. Na verdade é, mas não é um papel bom o bastante para limpar a sujeira que sai da gente. Nenhum é.
A palavra sublime é por definição no dicionário:
excelso;
nobre, muito elevado (no sentido moral);
perfeitíssimo;
excelente;
grandioso;
poderoso;
majestoso;
encantador;
magnífico;
esplêndido;
o mais alto grau de perfeição;
a perfeição do belo;
o que há de mais elevado nos sentimentos, nas ações;
aquilo que é sublime.
É o superlativo dos adjetivos, quase inalcançável e divino. E, por isso mesmo, por sua quase-impossibilidade de alcance, é estritamente pessoal. Porque sublime geralmente é aquele instante em que uma canção parece ter sido composta para você ou quando um olhar atravessa blocos de concreto e de tempo para voltar a te ameaçar durante a madrugada. Sublime é uma lembrança que vem com cheiro e gosto. Sublime é o segundo em que as coisas se encaixam para você, por 1 segundo apenas. É um outdoor que traduz seu pensamento sem querer. É um livro que você encontra numa prateleira errada com a orelha escrita por uma pessoa de quem você sente saudades. É um bilhete que você julgou ter jogado fora onde escreveu no verso aquele verso dito pelo Paulo Autran no meio do trânsito.
Sublime é um momento intimo demais para ser exposto; parece mentira e bobagem aos olhos dos outros. O sublime não se descreve porque parece pequeno e inventado. Eu acredito que o sublime só aparece poucas vezes, para se dar valor e crédito. Para lembrar você de que ele ainda existe e não virou uma lenda encantada.
Antes que eu perca os detalhes frescos na minha memória cansada, vou tentar descrever o último instante sublime que presenciei. Esse é ainda mais difícil porque foi todo projetado por gente. Sabe como é... o divino é humano, mas ninguém admite.
Havia musica e uma árvore iluminada com lâmpadas azuis. Havia um prédio de 20 andares todo lajeado de espelhos e havia cerca de 300 pessoas olhando para o céu.
O homem pode voar então!
E pode voar com a gravidade a seu favor. Pode traçar movimentos delicados e saltar para um abraço amigo. Pode dançar numa coreografia lindíssima de balé clássico, mesmo que presos por cordas. O homem pode trazer a sutileza de um espetáculo que ele mesmo criou para dentro de uma tribo de pedra onde seus habitantes não sabem mais o que é emocionar-se. É possível ouvir musica clássica no meio de São Paulo na companhia de 300 pessoas com lágrimas nos olhos em pleno e resoluto silêncio. Um silêncio contemplado por todos e por aqueles que dançam lá no céu. Foi possível fazer com que 300 pessoas olhassem para a lua ao mesmo tempo, testemunha do mesmo espetáculo e que se fez ainda mais bonita. Criações que não combinavam entre si naturalmente, mas lá estavam... juntos para proporcionar o espetáculo mais lindo que meus olhos já tinham visto e fazer sorrir centenas de pessoas, crentes de que o mundo ainda tinha algum espaço em seus corações.
Nada de paixões egoístas, nem trabalhos árduos. Nada de relacionamentos mal-resolvidos ou ironias engarrafadas. Nada de ego, nem vaidade imbecil.
Só um relâmpago de pensamento humano seria capaz de criar uma obra que homenageia o amor pelo próximo e que traduz a palavra sublime tão corretamente.
2 comentários:
Lu, ce foi no cirque de soleil?
Ou andou bebendo absinto de novo? rs
Brincadeira...
Lindo texto!
Jú Mancin
Oi Ju!
rs... parece né?
Mas foi bem melhor que isso. Fui ver o grupo Bandaloop, um grupo de dança que se apresenta com rapel em prédios.
Animal. Foi lá, em plena 23 de maio, para SP inteira ver.
:o)
beijo
LU
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