terça-feira, 10 de abril de 2007

Defina: Sublime.

Lu Minami

Ouvindo: Sur Le Fil
(Yann Tiersen)


Vocês, que acham que podem engolir o mundo todo, definam a palavra sublime.

Não, não é uma marca de papel higiênico. Na verdade é, mas não é um papel bom o bastante para limpar a sujeira que sai da gente. Nenhum é.

A palavra sublime é por definição no dicionário:

excelso;
nobre, muito elevado (no sentido moral);
perfeitíssimo;
excelente;
grandioso;
poderoso;
majestoso;
encantador;
magnífico;
esplêndido;

o mais alto grau de perfeição;
a perfeição do belo;
o que há de mais elevado nos sentimentos, nas ações;
aquilo que é sublime.


É o superlativo dos adjetivos, quase inalcançável e divino. E, por isso mesmo, por sua quase-impossibilidade de alcance, é estritamente pessoal. Porque sublime geralmente é aquele instante em que uma canção parece ter sido composta para você ou quando um olhar atravessa blocos de concreto e de tempo para voltar a te ameaçar durante a madrugada. Sublime é uma lembrança que vem com cheiro e gosto. Sublime é o segundo em que as coisas se encaixam para você, por 1 segundo apenas. É um outdoor que traduz seu pensamento sem querer. É um livro que você encontra numa prateleira errada com a orelha escrita por uma pessoa de quem você sente saudades. É um bilhete que você julgou ter jogado fora onde escreveu no verso aquele verso dito pelo Paulo Autran no meio do trânsito.

Sublime é um momento intimo demais para ser exposto; parece mentira e bobagem aos olhos dos outros. O sublime não se descreve porque parece pequeno e inventado. Eu acredito que o sublime só aparece poucas vezes, para se dar valor e crédito. Para lembrar você de que ele ainda existe e não virou uma lenda encantada.

Antes que eu perca os detalhes frescos na minha memória cansada, vou tentar descrever o último instante sublime que presenciei. Esse é ainda mais difícil porque foi todo projetado por gente. Sabe como é... o divino é humano, mas ninguém admite.

Havia musica e uma árvore iluminada com lâmpadas azuis. Havia um prédio de 20 andares todo lajeado de espelhos e havia cerca de 300 pessoas olhando para o céu.

O homem pode voar então!

E pode voar com a gravidade a seu favor. Pode traçar movimentos delicados e saltar para um abraço amigo. Pode dançar numa coreografia lindíssima de balé clássico, mesmo que presos por cordas. O homem pode trazer a sutileza de um espetáculo que ele mesmo criou para dentro de uma tribo de pedra onde seus habitantes não sabem mais o que é emocionar-se. É possível ouvir musica clássica no meio de São Paulo na companhia de 300 pessoas com lágrimas nos olhos em pleno e resoluto silêncio. Um silêncio contemplado por todos e por aqueles que dançam lá no céu. Foi possível fazer com que 300 pessoas olhassem para a lua ao mesmo tempo, testemunha do mesmo espetáculo e que se fez ainda mais bonita. Criações que não combinavam entre si naturalmente, mas lá estavam... juntos para proporcionar o espetáculo mais lindo que meus olhos já tinham visto e fazer sorrir centenas de pessoas, crentes de que o mundo ainda tinha algum espaço em seus corações.

Nada de paixões egoístas, nem trabalhos árduos. Nada de relacionamentos mal-resolvidos ou ironias engarrafadas. Nada de ego, nem vaidade imbecil.

Só um relâmpago de pensamento humano seria capaz de criar uma obra que homenageia o amor pelo próximo e que traduz a palavra sublime tão corretamente.

2 comentários:

ju e lu [e vice-versa] disse...

Lu, ce foi no cirque de soleil?

Ou andou bebendo absinto de novo? rs

Brincadeira...

Lindo texto!

Jú Mancin

Anônimo disse...

Oi Ju!
rs... parece né?
Mas foi bem melhor que isso. Fui ver o grupo Bandaloop, um grupo de dança que se apresenta com rapel em prédios.

Animal. Foi lá, em plena 23 de maio, para SP inteira ver.

:o)
beijo
LU

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