Nova estação. Novo ano.

Lu Minami

Ouvindo: Summer romance, Incubus

Talvez seja isso. Talvez eu tenha ficado muito tempo sem escrever e aí endureci. Engraçado esse verão chuvoso. Caem gotas geladas no ar abafado e insuportavelmente quente.

Dá vontade de escrever histórias bonitas, cheias de raios de sol e fins de tarde lilás. Dá vontade de escrever sobre o frescor do temporal e sobre os grãos de areia que ficam entre os dedos. Dá para inventar paixões, noites de sexo maluco e amores que não morrem na sombra de um velho coqueiro. Que tal seria se eu pudesse escrever sobre o toque nas pétalas do jasmim que fica na beira da estradinha que chega a uma praia tranqüila? Sobre redes e varandas, sobre café e cigarros, sobre risos e leveza, sobre o carnaval próximo e sobre as festas do último fim de ano. Sobre tudo, sobre todos.

Mas ainda não sou ninguém para escrever sobre tudo isso. Corro um novo ano como se ainda fosse o final do ano passado, na espera do fim que teima em não chegar. Passou o final e eu ainda não quis dar passagem ao começo. Fico tão irritada de estar deixando a doçura tenra que morava em mim para trás. Por mais que eu não a quisesse mais, eu tinha certeza de que ela moraria em mim durante um bom tempo.

Mesmo que eu a quisesse expulsar, ela ainda estaria ali, firme e doce, com um sorriso ingênuo no rosto. Ainda não sinto o cheiro leve de verão que impregna o ar. Eu conseguia sentir o cheiro podre das flores passadas da primavera. Doce demais, para quem não queria açúcar. Fresco demais para quem não queria o calor.