quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Ensaio sobre o tempo

Lu Minami

Ouvindo: Worry about it later, The Futureheads


São 23h08. Ainda estou no trabalho, esperando finalizar um trabalho.

Eu sinto falta do tic-tac do relógio de anos atrás. Sem querer trazia alguma calma. Mais do que o silêncio, na maioria das vezes. É porque o silêncio sufoca um peito já calado, que há tempos não houve seus próprios batimentos. Então, imagina que aflição? Tanto silêncio sem conseguir escutar o tum-tum... tum-tum.

Além disso, o tic-tac dos ponteiros me lembrava a todo o momento que poderia já ser bem tarde e que os olhos poderiam fechar a qualquer minuto, embalados pela cadência repetida e incansável.

E se um dia por acaso o tic-tac parasse, era imediato: eu me levantava para ver o que tinha acontecido. Ah sim, a bateria, só poderia ser ela. E enquanto a bateria não era trocada, todo mundo em casa perdia a hora dormindo mais do que deveria ou ficava até muito tarde acordado porque perdera a hora de dormir.

Os relógios de hoje em dia berram e me acordam já assustada e, enquanto me troco, ouço as notícias antigas de ontem e as vãs esperanças de hoje. Enquanto escovo os dentes, fico sabendo a previsão furada do tempo. O desodorante, a roupa e as cores que escolho para passar o dia são musicadas com as propagandas matinais.

E nem faz tanto tempo assim. Como Peter Pan, nas poucas vezes que ouço o tic-tac da barriga enorme do tempo com seus dentes afiados, fujo para me abrigar num lugar seguro. Mas mesmo assim, ainda prefiro isso ao silêncio, para buscar o nunca entristecer.

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