segunda-feira, 20 de março de 2006

Neurologia

Lu Minami

Ouvindo: Manifest Destiny, Jamiroquai.


Começo de um jeito bem clichê, quase ditado popular: Ciúme é um monstro de 7 cabeças devoradoras de rins indefesos.

É estranho, isso acontece com vocês? De repente, alguém de um passado muito ou pouco distante reaparece nos seus pensamentos já bem desencanados de tudo o que aconteceu e uma imagem de propaganda de empréstimo pessoal faz uma transmissão neural para seu cérebro já meio cansado. Ele de camisa e calça pula-brejo brancas, colar de côco, abraçando uma moça magra e linda, de cabelos bem-resolvidos com o vento, ambos rindo, rindo, girando, girando, na areia branca e que não gruda na pele suada.

Não é um porre?

Porque aí você pensa: e se fosse eu ao invés dessa loira aguada de dentes brancos? A felicidade ia parecer tão banal assim? Ah ia... porque toda felicidade é banal e estúpida. Eu adoro esse meu jeito de encarar as coisas poética e melancolicamente porque dá sentido, aprofunda, explica. Mas, quem nesse mundo, não deseja ser banal por alguns momentos? E que seja com aquele babaca idiota de calças brancas pula-brejo?
Quando você se convence de que aquela imagem foi uma falha dos seus pobres neurônios cospiradores, outra transmissão é feita. Ele caminhando por acaso em alguma rua movimentada de São Paulo e um crepúsculo quase impressionista, feito à mão, pinceladas gordas e suaves pelo céu multicolorido. Ele de jeans e camisa amassada e um botão solto casualmente. Ele na sua direção e você linda, num vestido mais bonito que o da loira, cabelos mais seguros do que nunca. Ele sem graça por te ver e, você sem saber para onde olhar, pisa numa poça suja de lama, tropeça e vai de encontro - não aos braços dele - a uma lixeira pública, onde segura firme para não cair e atola a mão numa embalagem de sorvete nojenta, cheia de formigas.
Ele ri. Você ri.
Viu só como seus neurônios te recompensam?
Com pura felicidade. A mais banal de todas. E, feliz da vida, você os perdoa e pede que a transmissão siga adiante.

Terminando com um jeitinho bem clichê: a vida continua.

Nenhum comentário:

Site Meter