segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Até breve



Lu Minami



Ouvindo: Off He Goes, Pearl Jam


Passei a semana passada inteira em polvorosa. Fiquei ansiosa, dramática, sensível... Uma típica adolescente. Não penteei meu cabelo e nem me importei de andar de tênis no trabalho. Enfrentei filas, atendimento eletrônico em todas as tentativas de falar com um ser humano que me desse informações simples, ao invés de pedir para que eu teclasse milhões de números sem sentido e enfrentei a falta de grana típida de um adolescente quando quer muito uma roupa, um disco ou um show.

Tudo isso por causa de um ingresso. Mas todo mundo sabe que é bem mais do que isso. É um passaporte de mão única para a definitiva Neverland. É o ingresso para entrar na trilha sonora de minha vida e reviver, dentro daquelas centenas de decibéis, cordas distorcidas e da voz melancólica, o tempo confuso que não volta mais. O tempo de descobertas que não existe mais. Um dia inteiro para reviver os momentos de revolta, incompreensão e doçura que povoaram todos aqueles anos.

Ah sim... com 25 anos e mais alguns, iremos pular, gritar e chorar. Vamos nos emocionar, com um sorriso estático na cara que, ora molha os olhos, ora retumba o coração. E assim, na companhia de 40 mil pessoas, reviveremos a época em que os sonhos eram possíveis e fugiam da banalidade e ingenuidade; viver era simples como um fim de semana na praia; trabalhar era diversão; trânsito não nos irritava; cigarros ainda tinham gosto de rebeldia; porres homéricos ainda nos deixavam em calçadas e sarjetas.

Despedida. Hora de crescer. Acorda, garota! Vem se despedir da sua adolescência! Venha dizer um "até breve" à tenra idade.

"Até breve", porque Peter Pan nunca diria adeus.

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

o belo e o puro


Lu Minami


Ouvindo: Bem da Vida, Vanessa da Mata

Uma criança levando o irmãozinho na garupa da bicicleta em plena avenida movimentada. Uma velha senhora carregando uma trouxa de roupa na cabeça, como se fosse lavá-las num ribeirão de sonho, meninos brincando, meninas cochichando, casais brigando e depois se perdoando num abraço na faixa de pedestres enquanto o sinal está fechado e a grama do canteiro sendo cortada.

Sempre me considerei uma pessoa sensível, mas hoje de manhã, as lágrimas mal se continham e vieram à tona com essas imagens que estão sempre ali e, na correria louca da cidade, eu dificilmente paro mais que dois segundos para olhar. Estão sempre ali, esses fragmentos de vida, que dariam belas fotografias preto e branco, coloridas com efeitos de movimento ou grandes e panorâmicas fotos da simplicidade humana.

Nessas horas eu desejo uma câmera fotográfica para registrar eternamente essa sensação de pureza e sensibilidade. Depois descubro que uma câmera filmadora seria ainda melhor para registrar o momento e seus movimentos e barulhos, as reações espontâneas ao redor que meu olho ainda destreinado não consegue captar e, principalmente, as minhas reações.

Penso mais uns minutos e, com a brisa quente de um verão que se aproxima, chego a conclusão de que não preciso de nada disso, nem câmera e nem filmadora. O que eu realmente preciso são dos meus olhos e ouvidos atentos, com um sorriso sempre no gatilho.

terça-feira, 11 de outubro de 2005

@#$#%&*$%@##!!!!!!!!!!!

Lu Minami

Ouvindo: Chop Suey, System of a Down

Em alguns dias, que fogem daqueles dias pré-menstruais, uma irritação muito grande toma conta de mim. Mas gente, presta atenção:

- Oi Seu Fulano, tudo bem?
- Opa, D. Luciana, tudo e você?
- Tudo bem também. Olha só, você vai para Campinas toda 5a feira, né?
- Vou sim.
- Pois é falei com o Sr. Beltrano (o chefe da criatura) e ele disse que, por causa do evento de domingo, vc pode ir na 6a, para não fazer 2 viagens.
- Mas olha, você precisa me avisar, porque eu preciso ver o que tem em Campinas.
- ???? Oi?
- É... tem que avisar.
- Mas eu estou te avisando. Você vai na 6a, para levar tudo de uma vez só.
- Mas olha, não sei porque tem o evento e precisa levar as coisas.
- Sim, você pode levar tudo na 6a feira.
- Mas se eu vou 5a feira, prá que vou na 6a?
- Não... não. (tendo úlceras vulcânicas dentro do meu estômago). Você vai na 6a, porque um dos materiais só chega na 5a feira à tarde. Aí você leva tudo, não precisa fazer 2 viagens.
- Mas, Dona Luciana. Sabe... tem que avisar Campinas.
- Mas, FULANO... o Sr. Beltrano vai avisar o pessoal de Campinas.
- Mas olha, e se tiver nota fiscal lá?
- Ahn? Então, por isso o Sr. Beltrano vai falar com eles.
- Mas olha, Dona Luciana. É que... na verdade, eu não posso ir na 6a feira.
- Aaaahhhh e porque?
- Porque sempre foi 5a feira o dia de Campinas. Se eu for na 6a, eu preciso de autorização.
- Mas eu tô te dando a autorização. (arrancando meus cabelos e tentando manter a voz calma)
- Mas a senhora não pode me autorizar não. A autorização tem que vir do Sr. Beltrano.
- ...

É claro. Esse tipo de diálogo acontece todo dia, em nossas vidas. Mas depois de um diálogo desses, acontece o seguinte fato:

Acabo de bater o telefone e me contorcer de dores gástricas.
- Oooooooooiiiiiiiiiiiiiiiii Luzinha lindinha!
Eu mal levanto a cabeça: Oi.
- Sabe o que ééé???? Sabe aqueles troféus, medalhas e uniformes do evento de domingo?
- Sei sim.
- Eles chegam no dia 30, tá? (espertão, já está com a metade do corpo para fora da minha sala)
Eu respiro. Calma e profundamente:
- Que dia é domingo?
- Dia 16.
- Eu preciso, realmente, dizer mais alguma coisa para você?
- Na verdade, eu só vim trazer o recado, sabe. Eu até fiz as contas na minha cabeça e achei meio estranho os trofeus chegarem 2 semanas depois, mas vai saber... de rep..
- Olha. Tá, Tudo bem. Deixa. Você pode ir agora? Eu vou tentar resolver.
- Ah... me pediram para te dar o telefone da empresa.
- Tá, eu tenho.
- Não tem não. Essa empresa é nova, não é a mesma.
- Não? (muito, muito desconfiada)
- Não... essa é nova, mas pelo menos não cobra o frete.
- Frete?
- É.... olha. Prefixo 61 é de onde?

Gente... é de Goiânia!!!!! Mas quem, no mundo, vai querer fazer troféus em Goiania, para receber em São Paulo e premiar em Campinas??? Quem?????

O ponto bom é que eu trabalho em academia e aqui tem sauna, spa e massagista.
E tem aula de boxe também.

segunda-feira, 10 de outubro de 2005

*DECLARAÇÃO PIRATA* Capitão Bellamy




Jú Mancin


Ouvindo The Doors

O texto a seguir, foi extraído integralmente do livro TAZ, Hakim Bey*, da coleção BADERNA.

"Daniel Defoe, escrevendo sob o pseudônimo de capitão Charles Johnson, escreveu o que se tornou o primeiro texto histórico sobre os piratas, A General History of the Robberies and Murders of the Most Notorious Pirates (Uma História Geral de Roubos e Assassinatos dos Mais Notórios Piratas). De acordo com Jolly Roger (a banderia pirata), de Patrick Pringle, o recrutamento de piratas era mais efetivo entre os desempregados, fugitivos e criminosos desterrados. O alto-mar contribuiu para um instantâneo nivelamento das desigualdades de classe. Defoe relata que um pirata chamado Bellamy fez este discurso para o capitão de um navio mercante que ele tomou como refém. O capitão tinha acabado de recusar um convite para se juntar aos piratas:

Sinto muito que eles não vão deixar você ter sua chalupa de volta, pois eu desaprovo fazer mesquinharia com qualquer um, quando não é para minha vantagem. Dane-se a chalupa, nós vamos naufragá-la e ela poderia ser de uso para você. Embora você seja um cachorrinho servil, e assim são todos aqueles que se submetem a ser governados por leis que os homens ricos fazem para sua própria segurança; pois os covardes não têm coragem nem para defender eles mesmos o que conseguiram por vilania; mas danem-se todos vocês: danem-se eles, um monte de patifes astutos e vocês, que os servem, um bando de corações da galinha cabeças ocas. Eles nos difamam, os canalhas, quando há apenas esta diferença: eles roubam os pobres sob a cobertura da lei, sem dúvida, e nós roubamos os ricos sob a proteção de nossa própria coragem. Não é melhor tornar-se então um de nós, em vez de rastejar atrás desses vilões por emprego?

Quando o capitão replicou que sua consciência não o deixaria romper com as regras de Deus e dos homens, o pirata Bellamy continuou:

Você é um patife de consciência diabólica, eu sou um príncipe livre e tenho autoridade suficiente para levantar guerra contra o mundo todo, como quem tem uma centena de navios no mar e um exército de 100 mil homens no campo; e isto a minha consciência me diz: não há conversa com tais cães chorões, que deixam superiores chutá-los pelo convés a seu bel-prazer."

* Hakim Bey é o escritor misterioso. Não há fotos dele. Milhares de histórias a respeito de quem seria ele correm soltas pela internet. A mais freqüente diz que Hakim Bey teria sido um poeta em algum lugar do norte da Índia, que por questões políticas teria sido obrigado a fugir para a Inglaterra e depois, por causa do envolvimento em uma ação terrorista, teria fugido para Nova Iorque.

A informação mais segura diz que ele viveu muito tempo no Irã, mas fazendo o quê é um mistério. Quando a Time tentou entrevistá-lo, ele se recusou e passou um tempo desaparecido. Mas nada disso impediu que ele se tornasse um dos autores mais discutidos do mundo atual.

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Polêêêêêmica!

Lu Minami


Ouvindo: Metarmofose Ambulante, Raul Seixas.

Eu juro, não aguento mais tanta polêmica. Começou com o show do Pearl Jam, continuou com a merda de indicação do filme "2 filhos de Francisco" para representar o Brasil no Oscar, culminou com a votação sobre o referendo e vai continuar por mais algumas semanas, porque com certeza mais algum assunto vai aparecer.

Ai, hoje eu cansei de levantar a voz para tentar ser ouvida. As pessoas simplesmente metralharam pontos de vista obtusos, argumentos falhos e estufaram o peito para mostrar quem era o mais sabido e interessante. Chato, muito chato. Eu não quero polêmica. Também não quero ser politicamente correta porque enche o saco e ninguém se lembra dos politicamente corretos. Mas sabe, eu queria ouvir uma pessoa sensata discursar sobre todos esses assuntos e me esclarecer todas as dúvidas que eu tenho. Aí, talvez eu mude de opinião e deixe de me equilibrar na corda do saber-por-acaso. Hoje, eu não tenho conhecimento suficiente para dizer o que acho melhor nisso ou naquilo, apesar de eu achar que ´Nina´ é um filme brilhante, apesar de eu querer ver o show do Pearl Jam numa boa, sem prefeito e molecada me enchendo o saco e apesar de eu querer, sinceramente, um país menos violento. E, finalmente, apesar de eu querer que as pessoas não questionassem algumas atitudes que podem parecer estúpidas, mas têm um fundo de coração ali que ninguém deveria ousar duvidar.

Passei hoje na Saraiva para tentar achar alguma revista ou jornal que me chamasse a atenção. Vi "7 razões para votar ´não' ao desarmamento" e do lado desta capa, uma outra revista metida a cool que tinha um buraco de bala que atravessava todas as páginas e dizia "Porque você deve votar 'sim'". A primeira página do jornal, dois tablóides depois, comentava a decisão de fazer o show do Pearl Jam em São Paulo e o outro, do lado dizia que o prefeito Serra continuava irredutível em sua decisão. CPI dos Bingos. Dos bingos??? Mas não era dos Correios? Zezé Di Camargo, Luciano, Oscar. Bleeeergh! Não. Nenhuma revista, nenhum livro, nenhum disco inovador. Nada, nada.

Mas, de repente, escondida entre um SIM, outro NÃO, fofocas, CPIs, Duplas sertanejas e prefeitos com cara de bisonho, eu avistei uma revista, meio amassadinha, coitada, mas que tinha em sua capa os seguintes dizeres em letras de concreto: "O fim do mundo começou".

Suspirei, abri um sorrisão, peguei a revista e saí correndo para pagar.

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