Lu Minami
Ouvindo: Free as a Bird (The Beatles)
Entre o olhar intelectual e poderosamente viril e o jeito carinhoso e bobo.
Entre eu de calça jeans e rabo de cavalo molhado ou usando meia calças sem meias intenções.
Entre a minha caminhada solitária e bêbada prestes a cair em alguma cama morna e a sua caminhada perdida e sóbria cheia de tristeza.
Entre o vermelho e o preto moram aqueles tons indefinidos que não apaixonam ninguém. Tons que lembram restos, coisas inacabadas, o que ninguém mais quer, tons indecisos.
E foi exatamente isso que nos tornamos. Viramos os tons que ninguém quer, tão difícil de serem escolhidos, porque não combinam com ninguém. Ainda conservam um olhar sedutor que lembra algo bom, mas remetem às desvantagens de usar uma cor que seja o meio do caminho, que seja confusa e cause confusão.
Te desenho em pinceladas indefinidas, em cores cada vez mais misturadas, que me lembram cheiros que não grudam mais na minha pele. E sua imagem vira um borrão que não consigo mais recordar com definição e os poucos traços vem sempre acompanhados de alguma sensação ruim, algo que treme, que repele, que acaba. Que morre.
Outro dia você me abraçou, ao mesmo tempo em que eu te afastei. E pela primeira vez em tanto tempo, eu não senti seu cheiro. Não senti sua pele e nem sua mão ao redor da minha cintura, nem seus lábios no meu rosto e nem os seus olhos me incomodaram mais. E eu me senti partindo. E não o contrário.
Eu vivo em busca de cores fortes, porque nasci para isso. Ou para nenhuma cor.
Mas não nasci para não contrastar com o mundo.
E essa, meu amor antigo, é a maior prova de que o fim chegou para nós.
Já não existe o que pintar, o que colorir e o que preencher.