ju mancin
d °_° b love me two times, the doors
ela estava calada. há dias calada. não havia nada que a pusesse a falar, também pudera, ela não saberia o que dizer. há dias ela sentia as pernas frouxas, o coração aos pulos e nos olhos o fogo de outros olhos. há dias ela pensava em silêncio, sem pronunciar palavra…
na verdade não havia surpresa naquela descoberta, afinal, nem era uma descoberta. desde o princípio, ela sempre soube… mas a delícia da comprovação de sua teoria a fazia corar. a fazia calar. sempre fora menina xereta, fascinada pelo fundo do mar e pelas lendas dos tesouros e pelos bravios navegantes caçadores dos tesouros, e mais que tudo, pelos piratas que enfrentavam os bravios navegantes e tomavam-lhes os tesouros. admirava as conchas e achava incrível que o ventre de um molusco nojento cultivasse um grão e o pintasse em tão belo matiz. as pérolas. tinha paixão pelas pérolas. pela transformação das pérolas, assim como pelas lagartas, que hora ou outra ganhavam asas e vermelhos, verdes e amarelos. ela era sabida no que dizia respeito ao coração. não ao coração dos homens, já que esses sentiam em números, ela sabia do coração das ostras, das pérolas, das lagartas e borboletas.
ela estava feliz. há dias feliz. há dias com as pernas frouxas e o coração aos pulos. há dias com olhos no fogo de outros olhos. e isso era tudo e ela não podia falar…