segunda-feira, 24 de setembro de 2007

bobagem mística

Jú Mancin

d °_° b love street, the doors

era um anjo de muletas.
tomou das minhas mãos o violão, e ajoelhando-se diante de mim, sorriu cantando algo sobre o fim do nosso amor.
era um velho anjo, já curvado pelo peso dos anos, de mãos sofridas e calejadas...
um jovem senhor, que sem pretensões falou do meu sorriso [ali, naquela calçada]
disse-me de uma beleza que eu nunca tive.
contou-me da vida, do amor e da dor...
e não falou das flores. falou de vidros. [e música]
um jovem senhor anjo de muletas mestre vidreiro músico, ali mesmo, no movimentado bairro da metrópole.
soprou luz em meus ouvidos.
levantou-se com muito esforço, devolveu-me o violão.
e desejando-me sorte, partiu com seu par de muletas.

é. eu acredito em fadas!

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O velho novo

Lu Minami


Ouvindo: Killian´s Red
(Nada Surf)


“Na certa, algum desavisado que recebeu de herança ou achou no porão de casa uma caixa com esses discos e achou melhor vender tudo”, pensou enquanto puxava um vinil do Chico Buarque de 1966 novo em folha. Nas mãos, sentiu o cheiro de novo. Parecia ter acabado de sair da prensa. Brilhava sem nenhum riscado. A capa, sem marca de traças e o plástico sem amassado. “8 reais” e levou.

Andando por ali, viu as histórias de gente que morreu ou que ainda estava viva sem saber o motivo. Imaginou o mundo visto por aqueles óculos antigos, amarelados. “O mundo amarelo devia ser mais ensolarado”, foi um pensamento estranho e rápido que ele nem se deu conta, enquanto andava em meio aos pratos e baixelas que um dia serviram comidas quentes, que alimentaram estômagos alheios. Olhou o vestido cinza de fita rosa na cintura. Era de menina nova, vinha com sapatinhos de cetim do mesmo tecido da fita. Presa na gola, um broche de flor de seda que não combinava. Imaginou a menina velha, olhando tristemente um retrato que havia lhe restado.

A boneca antiga e já sem roupas sentava em cima de uma cômoda de madeira muito velha e sem puxadores. Estava suja e com os cabelos empoeirados. Na certa, havia sido violada por algum irmão mais novo, curioso com o corpo feminino numa época em que era proibido desvelar as intimidades. Pensou no menino manuseando os soldadinhos de chumbo, hoje vendidos por uma verdadeira fortuna, embalados um a um. Certamente o garoto tentou descascar as roupas dos soldados também, pelas marcas e ranhuras nas calças azuis dos bonecos.

O cheiro da feira era de mofo em grande parte do trajeto. Anotou mentalmente as dedicatórias em cada livro.

“Com amor e toda a dedicação aos seus estudos, sua mãe, Matilda. Fevereiro de 1944.”
“Lourdes, receba os versos do verão que se aproxima. Com amor, Antônio”

Abriu um sem título, com as folhas pintadas de dourado e viu cair uma flor seca. Guardou, como relíquia, olhando para os lados para certificar-se de que o furto era discreto. Decerto numa tarde, a moça recebeu as rosas ainda frescas e guardou uma apenas no seu livro de versos predileto. Havia manchas das pétalas que foram prensadas e desidratadas contra o peso de quinhentas páginas. Pensou em lágrimas derrubadas entre a página 42 e 58. As orelhas das folhas nessas páginas estavam puídas, como se houvessem sido lidas centenas de vezes. Fechou o livro com respeito, deixou ali entre quadrinhos e livros de astrologia.

Colares que habitaram os pescoços de mulheres que desejavam ser desejadas. Pulseiras que arrebentaram suas contas com a força de um tapa merecido. Oratórios sem verniz, onde hoje habitam somente os cupins e jaziam sem vida todos os pedidos e orações. O espelho do toucador, que já viu rostos demais e preferiu a coberta de fungos ao invés de olhar novamente os olhos vaidosos que nunca mudam.

Havia cheiro de morte em todo o lugar, mas também o vento de lembranças e risos perdidos por entre os anos.
Ele sorriu, com as sacolinhas nos braços, contente por suas novas lembranças adquiridas.



(...)
'cause i left you a note that said

come on out and we'll both get
right off of our heads
and float up off the chair
we'll go on vacation tonight
under a sun of neon light
and i almost love this town
when i'm by your side
(...)

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

.primavera.

Jú Mancin

d °_* b on a plain, nirvana

...'cause it makes me feel like a man
when I put a spike into my vein...

ah sagrada papoula! dá-me asas para ver do alto...
saca-me da fétida cela que me enclausura...
arranca-me de mim!
faz-me sangrar para sorrir...
toma minh'alma...
Dá-me o Nirvana!

Anjo de negras asas, quero o fogo de sua aureola...
[há um circo ansioso pelo incêndio]
morfina pro corpo...
morphine pra alma...

Hoje sou Reed à espera do beijo do acalento...

domingo, 16 de setembro de 2007

I can see in the dark!

Jú Mancin

d °_° b Infra-red, Placebo (beeeeeeem alto)

pobre coração solitário, que buscas aqui?!
doces palavras?
só encontrará o fel da desilusão...
nada além de mentiras secretas
não há promessas, é só um novo lugar!

welcome to neverland!!!

...someone call the ambulance
there´s gonna be an accident...
I´ll find you,´cause I can see in the dark!!!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

o que não tem juízo

Jú Mancin

d °_° b candy says, the velvet underground

olha pra mim. o que você vê?
te vejo de longe, no escuro, na chuva.
sua voz vem no vento que sopra na minha janela,
sussurra segredos dessa vida a tôa...
pensamentos rasgam minha alma,
estremeço e choro.
imploro uma trégua ao meu coração.
meus dedos não me obedecem, e insistem
tenho algo a te dizer
todo meu corpo clama por essa bobagem
tudo em mim é uma confissão.

E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
O que será que será?
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem juízo

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

meu corpo ou minha alma?

Jú Mancin

d °_° b Love Song, Syd Barrett

em 1871, Rimbaud já dizia que era preciso reinventar o amor.
em 2007 eu digo que ninguém ouviu rimbaud.
chegamos à lua. construímos máquinas. dominamos a tecnologia nuclear. lançamos bombas, derrubamos prédios e aviões. nos comunicamos por mar, terra e via embratel.
e o amor?
a mesma babaquice de sempre.
PRECISAMOS REINVENTAR O AMOR!

domingo, 9 de setembro de 2007

.para Duda.

Jú Mancin

d *_* b us and them, Pink Floyd

Sê bem-vinda ao mundo,
doce criatura!

Ouça Peter tocando a flauta,
soprando a brisa da vida leve...

Deixe seus pés caminhar livremente por aí!
Aprenda a apreciar a graça das flores...
Fique longe dos espinhos!

Não espere que o mundo seja doce como tu.
Ele não é!
Mas mesmo assim, ainda vale a pena!

Beba a vida
e sê bem-vinda,
doce criatura!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Tempo e Vento

Lu Minami


Ouvindo: Não fale de Maria
(Chico Buarque)


Era um vento carregado de cheiro de rosa antiga. Forte que destelhava os casebres e arrancava as roupas do varal. Constante que marolava o açude e assoviava o canavial.
Ela olhava a lápide cinza de velha, como quem faz serenata para o passado. Deita a mão sobre a primeira letra do nome. Pousa com gentileza e até um pouco de pudor os lábios no relevo da cruz que marca a data do último suspiro.
Uma lágrima com gosto de maquiagem barata e poeira faz sua marca na foto do defunto. Bem no ombro esquerdo.
Ela abre o guarda-chuva. Não chove, mas pressente a umidade no ar que carrega para longe suas cartas dentro da memória.

O coveiro nem dá conta. Faz sol e calor naquele dia empoeirado. Olhou suas mãos amarelas e cheias de calos. Segurou a pá com força. Justo hoje uma exumação. Nesse calor, todo o fedor. Precisava ver isso hoje? Era caso de polícia. Disseram que o morto não morreu dormindo. Morreu matado, de veneno. E sobrava para ele tirar o homem do buraco. Olha para trás, com o suor salgado escorrendo pelos sulcos marcados no rosto, como rios secos de uma vida cheia de morte que ele enterrava todo dia, há tempo demais. Uma sombrinha vermelha sob um vestido preto. Agachada, a moça parecia quase dormir. Coça a cabeça, cospe no chão. Continua a cavar. Vento maldito.

As mãos no volante suavam. Queria logo ir embora, tomar uma cerveja no bar do zizu, jogar truco, palitar a boca. A espera o irritava. Queria ar-condicionado. Mas não tinha dinheiro. Nem o carro estava pago. Mas também, ia chover mulher para andar com ele. E ele pensava no sopro gelado que ia atravessar a blusa das moças. Sorriu, infame. Queria mesmo era vida de marajá, com piscina na casa, para ver as meninas da cidade tomarem banho. A pele branca e as bocas de coração o faziam sorrir com todos os dentes amarelos do outono. Olha por entre as cruzes. Lastima o concreto podre, as cruzes aleijadas, os anjos sem asas. Tanto tempo que não via sua menina de vestido preto. Tanto tempo sem ver nada além daquele pouco terreno. Vê o coveiro coçar a cabeça, dar uma escarrada no chão e olhar para o outro lado, parado, admirando coisa alguma.

É primavera.
Caem os primeiros pingos.
Caem as pétalas mortas de crisântemos.
...




"Não fala de Maria
Maria lembra mar
Que lembra aquele dia
Que não é bom lembrar
Que dia, que tristeza
Que noite, que agonia
Que puxa a correnteza
E traz a maresia
E bate aquele vento
Que lembra um assobio
Que lembra um sofrimento
Que eu não merecia
Não fala não, te esconjuro
Que só de imaginar
O tempo fica escuro
E o espanto agita o mar
Que lembra aquele dia
Que lembra uma canção
Que faz lembrar Maria
E aí não lembro não
A coisa fica séria"

terça-feira, 4 de setembro de 2007

someone in my head but it´s not me

Jú Mancin

d °~° b brain damage, pink floyd

.the lunatic is in my head.

minha mãe dizia: Juliana, não põe o dedo na tomada!
eu ouvia: Juliana, PÕE o dedo na tomada!

Não que eu seja dada à rebeldia, até tive essa fase, mas já passou. Sou dada à idiotice.

Não pise na grama!
Não mexa! Tinta fresca.
Não fume!
Não beba!
Não faça barulho!
Não ultrapasse!

blá, blá, blá, blá... eu piso, mexo, fumo, bebo, grito e ultrapasso!
O único "não" que eu respeito é o do Raul. NÃO PARE NA PISTA!

[MODE queda-livre STDBY]

.I´ll see you on the dark side of the moon.

Site Meter