Havia uma greve. Não me afetou, não dependo do transporte público. Busão aumentou 20 centavos. Também não me afetou. Um movimento, pra mim, utópico, se levanta. 10 mil pessoas nas ruas defendendo o Passe Livre. Péra... Livre? Livre mesmo? Transporte público de qualidade e gratuito? Pára! Nem nas oropa, né?!? É. Mas tem 10 mil na rua. São estudantes, filhinhos de papai, não trabalham, mal usam busão, são maconheiros pseudo-intelectualóides depredando o patrimônio. Será? São 10 mil pessoas na rua, gritando por algo.
Cadê o prefeito? Paris. Com o governador. Mas... Pois é! E a mídia? Tá contra. Chama de baderneiros e diz que tem que apanhar. Mas... Pois é!
5 da tarde e a promessa de uma [outra] grande manifestação em SP. São muitos! Quantos? Quase 10 mil. De novo? Pois é... Vândalos! Mas... Tem polícia? Muita! Vai dar merda.
Manifestação pacífica, altamente televisionada. A mídia veio ver de perto. Tem jornal, TV e rádio. Links ao vivo, narração simultânea.
A turba caminha lentamente pelas ruas do centro. Polícia ao lado. Polícia decide que a brincadeira acabou, a turba não aceita. Apanha. Reage. Guerra!
Governador? "Parabéns Guaratinguetá, pelos seus 388 anos e boa noite!" Governador!
Prefeito? Aquele da renovação, da promessa de mudança. Existe amor em SP? RISOS...
A marcha segue. Cantando alto e pedindo SEM VIOLÊNCIA! Apanha. Apanha muito. Apanha até o fim. Dispersa.
Centenas de relatos de uma mesma história: a polícia bate, todo mundo apanha. E muito! Mas berra... Não eram mais vândalos, não mais estudantes, filhinhos de papai, que não trabalham e mal usam busão, nem maconheiros pseudo-intelectualóides depredando o patrimônio. Eram o povo! Que unido, jamais será vencido! e o velho clichê ganha força. Os ativistas saíram do sofá e foram às ruas. A internet foi usada para veicular informação em tempo real. Aos poucos cada um ia fazendo seu papel.
Era um levante! E sim, era popular. Sem partidos, sem oposições. Não era mais pelos 20 centavos. Era pelos 500 anos de podridão dessa pátria amada ó mãe gentil. Pela falta de educação, de saúde, segurança. Pelo salário de fome. Pelo saco cheio de ver crescer o bolso de quem não tem mais espaços nos cofres, para guardar o dinheiro que toma de quem não tem o que comer.
A rua era nossa! [ou deles, que gritavam por mim, que senti medo e não fui]
13 de junho de 2013. Se acordamos, não sei. Pode ter sido um sonho. Um bom sonho com o dia em que o povo conheceu a força que tem!